CB.Saúde

Consumo de alimentos ultraprocessados causa 57 mil mortes por ano no Brasil

O pesquisador de nutrição da USP, Eduardo Nilson, revelou que os efeitos desse uso não se limitam ao nível pessoal, causando impactos também na economia e sobrecarregando o sistema de saúde

O consumo de alimentos ultraprocessados é responsável por 57 mil mortes por ano da população entre 30 a 69 anos no país, afirmou o pesquisador em Nutrição e Saúde da Fiocruz e da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo Nilson, convidado do CB.Saúde desta quinta-feira (15/12). Desse número, 19 mil são óbitos causados por problemas cardiovasculares. Na entrevista à jornalista Carmen Souza, o estudioso também falou sobre os efeitos disso nos índices de obesidade e outras doenças crônicas no Brasil, e como políticas públicas podem ajudar a enfrentar esse cenário.

De acordo com o especialista, os efeitos disso não se limitam ao nível pessoal, causando impacto também em outras áreas da sociedade. “Isso tem efeito econômico, pois essas doenças também pesam muito no sistema de saúde. Além disso, a população doente e sem condições ideais de tratamento produz menos. Então, existe um resultado potencial, inclusive", ponderou.

Nilson também aponta que o aumento de enfermidades na população também é influenciado pela nutrição inapropriada. “Chegamos a um duplo efeito. Temos tanto a desnutrição — inclusive com o fenômeno da fome, que voltou a crescer —, quanto um aumento das doenças crônicas, como obesidade, problemas cardiovasculares, cânceres e outros, associados à alimentação inadequada”, explicou.

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Obesidade

O pesquisador ressaltou a obesidade como umas das condições mais preocupantes, principalmente entre crianças e adolescentes. A projeção é que em 2030, o número de crianças nessa situação no Brasil ultrapasse os 7 milhões. Para o pesquisador, uma das formas de lidar com esse cenário é criar um ambiente alimentar apropriado para escolhas nutricionais saudáveis.

“Alimentação saudável é geradora de saúde e bem-estar para as pessoas”, afirmou. Podemos chegar a isso através da escola, pela atuação de profissionais, entre outros. Mas se o alimento natural fica mais caro, ou existem ‘desertos alimentares’, onde não há acesso a nutrição adequada, isso deve ser deve ser previsto nas políticas sociais”, apontou.

Políticas públicas

Outro ponto destacado foi o uso excessivo de sal. Segundo o pesquisador, a população brasileira consome o dobro da média mundial. "O resultado disso é de 47 mil mortes por ano, por doenças cardiovasculares", afirmou Nilson. Para ele, as campanhas educativas precisam ser reforçadas nesse sentido, estimulando a redução gradual da ingestão de sódio, com foco na educação precoce entre crianças. “Elas devem ser educadas desde o início ao consumo de alimentos menos salgados e menos doces. Assim como ocorre com o açúcar, que condiciona paladar muito doce, isso pode ser revertido”, avaliou.

Tendo em vista, o impacto pessoal e social da alimentação inadequada, o pesquisador considera que políticas públicas devem promover ação conjunta para lidar com a situação, focando também fatores ambientais.“Os sistemas alimentares hegemônicos que temos hoje também utilizam recursos naturais e são responsáveis por efeitos ambientais muito fortes. É preciso reformulá-los, pensando não só nas gerações futuras, mas no próprio ambiente, já que a saúde global está muito relacionada à saúde humana”, concluiu.

*Estagiário sob a supervisão de Euclides Bitelo


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