Com cerca de 24 horas da derrubada do veto do governador Ibaneis Rocha, feito nesta terça-feira (13/12), os efeitos da lei que renomeia a Ponte Costa e Silva para Honestino Guimarães já são visíveis na internet: a busca pelo nome do estudante Google já mostra o interesse pelo tema.
Agora, o local que homenageava o ditador à frente do Brasil no período mais duro do Regime Militar lembrará a luta de um estudante que resistiu para livrar o país da repressão da época.
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A renomeação foi conquistada pelos distritais após sofrerem derrota com o veto de Ibaneis, em dezembro do ano passado. Com um dia para completar um ano da rejeição feita pelo governador, os deputados da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) derrubaram o veto e sancionaram a lei criada pelo deputado Leandro Grass (PV).
Mas quem foi Honestino Guimarães e por que ele foi escolhido para a troca do nome?
De acordo com Leandro, “a resposta é simples”. “Era candango, estudou em escolas públicas e logrou aprovação no vestibular da Universidade de Brasília (UnB). Estava ligado à história da cidade e foi importante ator na defesa das garantias individuais. Por se posicionar de forma contrária ao regime militar e por ser liderança estudantil, foi preso diversas vezes”, detalha o deputado na proposição.
Dessa forma, Honestino é, então, o oposto de Costa e Silva. Enquanto do alto comando o presidente assentia e determinava diversos atos de repressão dos opositores do Regime Militar, Honestino batia de frente com cada agente do ditador na capital federal — como na histórica invasão da UnB feita por soldados em 1968. A ação truculenta resultou em espancamentos e prisões, inclusive de Honestino.
O governo de Costa e Silva, considerado o início do período mais duro da ditadura militar, fortaleceu a violência do regime, que continuou a perseguir, prender e dar fim aos opositores.
Em outubro de 1973, quatro anos após a destituição de Costa e Silva, Honestino foi preso por forças do Estado no Rio de Janeiro, “em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar” — diz o relatório da Comissão Nacional da Verdade sobre o caso.
Saiba Mais
Desde então, Honestino está desaparecido. “Sua mãe faleceu, em 2012, sem nunca ter tido a chance de se despedir do filho”, cita Leandro Grass na justificativa da proposição. Em 1998, a família do ativista recebeu um atestado de óbito de Honestino, emitido pelo poder judiciário do Rio de Janeiro, sem causa da morte. A Comissão da Verdade recomendou, inclusive, a retificação do documento para que as investigações e responsabilização do desaparecimento de Honestino sejam retomadas.
Por isso, Leandro defendeu o nome de Honestino para a ponte. Para que seja uma homenagem aos presos políticos da ditadura, além de manter viva a memória da falta de desfecho da história do candango.
Além disso, a mudança cumpre as normas definidas pela Lei nº 4.052/2007, que proíbe o uso de “nomes de pessoas que tenham praticado crimes contra a humanidade e violações de direitos humanos, incluídas aquelas que constem no Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade”.
"É meu papel dizer não a isso. Dizer não àqueles que são responsáveis por um período que não deve ser esquecido, justamente para não se repetir. Para que tenhamos a liberdade de andar pelas ruas e ver o legado daquelas que efetivamente lutaram por um Brasil melhor e não daqueles que se empenharam em perseguir, tolher direitos, sufocar”, termina Leandro.
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