Violência, falta de empatia e brutalidade marcaram a morte de mais uma mulher no Distrito Federal. Na madrugada de ontem, Rozane Costa Ribeiro, de 49 anos, foi esfaqueada até a morte pelo companheiro, no interior de sua residência, no Riacho Fundo II. Moradora do condomínio há aproximadamente 6 anos, a vítima foi encontrada com perfurações pelo corpo e sem sinais de vida pela equipe do Serviço Móvel de Urgência (Samu).
Investigado como feminicídio pela 29ª Delegacia de Polícia (Riacho Fundo), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) afirma que o crime ocorreu diante do filho de Rozane, que tem somente 12 anos, e agora está na casa dos tios maternos. O suspeito, Alexandre Ribeiro, 47 anos, foi gravado pelas câmeras de segurança saindo do prédio, dirigindo o carro da vítima. Até o fechamento desta edição, ele segue foragido.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Lúcio Valente, o criminoso emplacou fuga com o carro da mulher, e possivelmente tentará voltar ao Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. "Existem equipes no DF e em GO para prender o autor. Ele está com o carro da vítima e é possível que tente ir para o Rio de Janeiro, seu local de origem. Já estamos pedindo ao Judiciário a prisão preventiva dele", destacou.
A corporação pede ajuda da população para encontrar Alexandre. Quem tiver informações sobre o paradeiro do suspeito pode entrar em contato pelo telefone 197. A denúncia é anônima e sigilosa.
O crime veio à tona após uma vizinha perceber que Rozane estava ferida. Moradora do mesmo andar, a testemunha preferiu não se identificar ao Correio, pois segue abalada com a situação e sem condições de falar. Porém, a moça destacou à Polícia Civil que tentou estancar o sangue de Rozane, e ligou para o Samu. A testemunha também esclareceu à corporação que o adolescente, filho da vítima, presenciava as brigas e agressões do casal. O caso continua a cargo da 29ª Delegacia de Polícia.
Saiba Mais
Memória
Segundo o Painel Interativo Feminicídio, da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), a capital do país registrou neste ano 15 casos de feminicídio confirmados e dois sob análise. Os números, atualizados no último domingo, têm dados coletados até outubro deste ano. De todas as ocorrências, 10 ocorreram dentro de residência, sete com uso de arma branca e 5 por agressão física.
3 de outubro
O corpo de uma mulher, identificada como Vanessa Lopes, 31, foi encontrado em 3 de outubro, com perfurações de faca no corpo, próximo à estação de metrô da QNN 7, em Ceilândia Norte. De acordo com a polícia, o crime ocorreu no dia anterior, entre 19h30 e 20h30. Quatro dias depois do atentado, a Polícia Civil identificou Douglas D’Aguiar de Sousa, ex-namorado de Vanessa, como suspeito. Ela deixou dois filhos, frutos de outro relacionamento.
17 de setembro
Um crime brutal chocou moradores do Itapoã na tarde de 17 de setembro. A brigadista Patrícia Silva Vieira Rufino, 40, foi morta pelo companheiro com golpes repetidos na cabeça. Segundo relatos de testemunhas, o homem de 44 anos bateu a cabeça de Patrícia contra uma pia na residência, que morreu na hora. Os filhos do casal, que estavam na casa, presenciaram o momento do crime. O autor ainda tentou fugir, mas foi impedido por populares e preso em flagrante pela Polícia Militar do DF (PMDF).
10 de agosto
Luciana Gomes da Costa, 35, foi encontrada morta na manhã de 10 de agosto, dentro do apartamento em que vivia há cerca de um ano, na quadra 700 do Sol Nascente. Após investigações da Polícia Civil, o companheiro dela confessou ter matado a namorada com quem se relacionava há pouco mais de três meses. A vítima era mãe de quatro filhos, com idades de 13, 10 e gêmeos de 2 anos e nove meses.
29 de junho
A designer de unhas Priscila Teixeira, 33, foi encontrada morta a facadas, na manhã de 29 de junho, na cozinha da casa onde morava com o namorado, Gusttavo Britto, 22, em Taguatinga. De acordo com os vizinhos, as brigas entre o casal eram constantes. O corpo dela foi achado pela mãe da vítima, que tentou falar com Priscila no dia anterior, mas encontrou a casa fechada. Em 29 de junho, por volta das 9h, ela voltou ao local e pediu que moradores da rua ajudassem a abrir o portão do imóvel.
18 de maio
Marina Katriny, 30, foi encontrada morta e com o corpo parcialmente carbonizado . Quatro dias depois, Wallace Eduardo, 34, namorado da vítima, foi preso. Ele confessou que matou Marina e detalhou o crime. O acusado também acertou Marina com uma pedra. Os dois tinham um relacionamento de cinco meses, bastante conturbado, de acordo com a PCDF. Na delegacia, o autor alegou que era humilhado pela namorada e, no dia do crime, após ingerirem bebida alcoólica e usarem cocaína, eles discutiram.
Problema de todos
Professora do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Haydée Caruso cita que a violência cotidiana virou um fenômeno social em que as vítimas morrem pelo simples fato de serem mulheres. "Vivemos em uma sociedade patriarcal que pode tirar a vida de mulheres porque nos enxergam como propriedade deles", diz. Para ela, o combate ao feminicídio exige a participação de toda a sociedade, com investimento desde a educação básica. "É um dos assuntos mais urgentes para darmos uma virada educacional com novos padrões de relação social", complementa.
Associada sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Haydée crê em um diálogo aberto da população do DF sobre as relações de gênero, que, atualmente, são um lugar de homens que enxergam corpos como descartáveis. "Esse assunto precisa ser debatido nas famílias, nas igrejas, nas escolas, desde a educação básica, porque qualquer professora ou professor da educação básica lida com relatos de violência doméstica todos os dias, pois os alunos reportam essas situações", finaliza a especialista.
Como pedir ajuda
Polícia Civil
Telefones: 197 (Opção 0) e 61 986-261-197 (WhatsApp)
E-mail: denuncia197@pcdf.df.gov.br
Site: pcdf.df.gov.br/servicos/delegacia-eletronica
Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
Telefones: 61 3207-6172/6195 (Asa Sul) e 61 3207-7391/7408/7438 (Ceilândia)
Central de Atendimento à Mulher — 180
Disque Direitos Humanos — 100
Polícia Militar — 190
Centros Especializados de Atendimento à Mulher (Ceams)
Ceam Ceilândia — 61 3371-0256 / 61 991-173-406
Ceam Estação 102 Sul do Metrô — 61 3224-0943 / 61 991-836-454
Ceam Planaltina — 61 3388-4656 / 61 992-026-376
Ceam Setor de Diversões Norte (SDN) — 61 3341-1840
Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (Nafavds)
Endereços e telefones: mulher.df.gov.br/nafavds