Com o intuito de discutir a situação crítica da Universidade de Brasília (UnB) diante de cortes orçamentários feitos pelo Governo Federal, o vice-presidente da Associação dos Docentes da UnB (AdUnB), Nelson Inocêncio, foi o convidado da edição de ontem do Podcast do Correio. Sem a liberação de parte da verba prevista para o ano, a instituição de ensino está sem recursos para pagar contratos do Restaurante Universitário (RU), da segurança, manutenção, limpeza e outras despesas de dezembro. Na bancada, as jornalistas Mariana Niederauer e Thays Martins conduziram a conversa. "A universidade foi lesada com redução de R$ 18 milhões de investimento, feito em junho deste ano", frisou Inocêncio.
Na última segunda-feira, um corte de R$ 366 milhões foi anunciado pelo Ministério da Educação, o que comprometeu as finanças de todas as universidades federais e tornou ainda mais grave a situação do sistema federal de ensino superior. "Tivemos um ato em frente ao Ministério da Educação (ocorrido ontem à tarde) exigindo uma parte dos recursos, porque não temos como fechar 2022. Fomos afetados no que há de mais básico na universidade, como o serviço de alimentação, sistema de segurança, pagamento das bolsas de alunos que fazem pesquisa", analisou Nelson.
Segundo o professor, a associação tem trabalhado para mobilizar os docentes e chamar os estudantes e técnico-administrativos para enfrentar o que ele considera "uma violência que atinge a UnB por inteiro". Segundo o vice-presidente da AdUnB, é nesse cenário de escassez que a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) negocia formas de abrir espaço fiscal para fortalecer os orçamentos. Com essa proposta, haveria a possibilidade de aumentar o orçamento do MEC em até R$ 12 bilhões. "Se, até o fim do mandato do Lula, reconquistarmos aquilo que perdemos, será um grande ganho. Mesmo que existam divergências, estamos com um caminho de diálogo democrático", opinou.
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Quando o bate-papo chegou ao tema de política de cotas para negros, Inocêncio destacou os avanços trazidos pela Lei nº 12.711, de 2012, que instituiu a política de cotas para estudantes de escolas públicas em instituições de ensino superior federais, mas alertou que o recorte de classe é insuficiente quando se trata do combate ao racismo estrutural. Lembrou ainda que o acesso de professores negros à universidade por meio de concursos públicos também precisa aumentar.
Durante o podcast, Inocêncio comentou sobre a militância no movimento negro, que começa desde a adolescência, no Rio de Janeiro, e continua até a carreira docente atualmente. "Acho que a minha formação política foi fundamental, e o movimento negro me permitiu isso. Todo mundo que sofre violências precisa saber uma coisa: como lido com a minha revolta e a potencializo para saber como fortalecer aquilo que me deixa indignado por dentro", sugeriu.
No fim do bate-papo, o professor celebrou a criação da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da UnB, em junho deste ano, e lembrou que, por ser parte da sociedade, a universidade não está imune a todo tipo de problema social. "As demandas estão aí, porque, não se iludam: a universidade tem casos de homofobia, de misoginia, de racismo etc. Essas questões dizem respeito à sociedade, e a UnB não está fora disso", afirmou.
Nelson lembrou dos 30 anos de UnB, onde chegou em 1992. Depois, deu aulas no Centro Universitário de Brasília (CEUB) e, então, voltou à instituição pública como servidor. Atualmente, ele é professor do Instituto de Artes. "Acho que o interessante é que dentro da UnB encontrei espaços para me articular com pessoas que são parceiras. Todo esse processo, dos 17 aos 61 anos, tem sido extremamente enriquecedor, porque continuo aprendendo", orgulhou-se.
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