Idosa cadeirante que acompanha Lula desde 1980 pede para ver posse em segurança

Com mobilidade reduzida após sofrer um AVC e se tornar cadeirante, dona Vera Zolita afirma que vai assistir pessoalmente Lula subir a rampa do Palácio do Planalto neste domingo, 1º de janeiro de 2023

Talita de Souza

postado em 31/12/2022 16:06 / atualizado em 31/12/2022 16:07

Ligada às tendências do partido, Vera garantiu o boné do Complexo do Alemão, que ficou famoso após a visita de Lula na comunidade no Rio de Janeiro - (crédito: Arquivo pessoal)

Quem vê a administradora aposentada Vera Zolita pelas ruas de Brasília sabe que a carioca sempre dá um jeito de escancarar a admiração que tem pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT): seja por uma blusa com o rosto do petista, seja pela máscara de proteção contra a covid-19 com o nome do político. Vera acompanha o ex-metalúrgico desde 1980 e 42 anos depois comemora a chance de ver, novamente, o petista assumir a Presidência.

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Com a mobilidade reduzida após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral) em 2014 e se tornar cadeirante, Vera afirma que vai, sim, assistir pessoalmente Lula subir a rampa do Palácio do Planalto, neste domingo, 1º de janeiro de 2023.

"Eu sou cadeirante, mas a minha filha vai me empurrando. Pronto", diz ao Correio. Apesar da empolgação de Vera, as filhas da carioca se preocupam com a locomoção dela e se haverá um local bom para a mãe assistir a posse. “Seria ótimo ter um local mais à frente, destinado a cadeirantes, para assistir. Não sei o que poderia ser feito”, diz uma das filhas.

De acordo com a equipe de transição do governo Lula, o espaço terá duas áreas reservadas para pessoas com deficiência (PCD), com capacidade de 100 pessoas cada uma — onde poderão ficar os contemplados e os acompanhantes. No evento, o espaço será indicado com sinalização especial. 

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  Vera sempre aparece uniformizada com uma das dezenas de blusas que tem com o rosto do presidente eleito Lula Arquivo pessoal
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  No Chorinho, Vera sempre aparece uniformizada com uma das dezenas de blusas que tem com o rosto do presidente eleito Lula Arquivo pessoal

Mesmo se a área não existisse, os familiares da carioca já tinham decidido enfrentar quaisquer intercorrências para que a mãe realize o desejo de comemorar a posse no local. Para Vera, a cerimônia também será uma forma de esquecer as dores do último ano, no qual perdeu uma das filhas para um câncer.

"Eu estou feliz, apesar deste ano ser um ano cretino, muito ruim, um ano que minha filha faleceu… Mas Jesus Cristo me deu uma vitória, assim como para o Brasil todo! Vamos ver como será a posse e seguir em frente, apoiando o presidente", declara emocionada Vera.

Para Vera, a posse representa um momento de alegria após um ano difícil em que ela perdeu a filha para um câncer. Na foto, as duas em uma manifestação a favor da democracia (foto: Arquivo pessoal)

A mulher escreveu, inclusive, uma carta para o presidente eleito em que conta a história de admiração dela por ele e o PT e deseja saúde e felicidades no novo mandato — palavras de amor que ela espera que um dia Lula receba.

"A primeira vez que ouvi falar sobre Lula foi quando meu marido, que conhecia algumas pessoas envolvidas com a mobilização dos sindicalistas, me falou que ‘tinha um metalúrgico em São Paulo que queria fundar um partido dos trabalhadores’. De lá para cá foi só amor pelo meu Lula”, declara.

Vera Zolita escreveu uma carta em que deseja felicidade e saúde a Lula em novo mandato. A vontade dela é que o presidente receba a carta de amor (foto: Arquivo pessoal)

Um amor motivado pela luta contra a desigualdade

A posse marcará 42 anos de admiração e crença em Lula e no Partido dos Trabalhadores (PT) para tornar o Brasil em um país menos desigual. Foi em 1980 a primeira vez que ela ouviu falar do petista, quando ela e o ex-marido conheceram alguns sindicalistas e outros militantes que se organizavam e se comunicavam com o movimento dos trabalhadores que ocorria em São Paulo.

"Eu sempre fui mais para a esquerda e nunca gostei da desigualdade social do país. Antes de ser administradora, fui professora do primário e vi muita pobreza no subúrbio do Rio de Janeiro, em Bangu, uma miséria total… Na época, quando conheci o PT e os ideais, entendi que era o partido que poderia acabar com a desigualdade um dia no Brasil", lembra.

"Ainda não acabou, mas continuamos na luta", diz Vera. Foi ainda em 1980 quando ela e o ex-marido decidiram assinar o documento que coletou assinaturas para fundar o partido. “E assim começou meu amor pelo PT”, diz, aos risos.

Desde o início do partido, Vera fazia questão de estar junto aos militantes, seja nas manifestações, seja nas festas e comícios. Ela criou as filhas entre comícios e reuniões de comitês. Uma delas ganhou uma festa de aniversário com o tema PT.

Entre altos e baixos do partido, Vera permaneceu fiel à sigla. A crença ferrenha nos ideais do partido chegaram a provocar brigas com alguns familiares.

“Tem gente que não me suporta. Quando o Lula foi preso, eu falei que ele não tinha feito nada, que era falcatrua da direita. Muita gente da minha família diz que eu sou radical, mas eu sou assim”, conta.

Em 2022, ela, que nasceu no Rio de Janeiro e mora em Brasília desde 2014 para ser apoiada pelas filhas na locomoção limitada, ainda não tinha transferido o título e, por querer apoiar Lula, viajou para o estado no primeiro e segundo turnos. "Valeu a pena o sacrifício, valeu! Todo voto contou. A gente tinha que tirar isso que tava na presidência e tinha que fazer Lula voltar", diz.

Em 1º de janeiro de 2023, ela espera se sentir como se sentiu em 2001 após a apuração do resultado das eleições presidenciais que declarou Lula presidente pela primeira vez. "Foi o momento mais marcante. Meu ex-marido e eu fomos com nossas filhas para a Cinelândia com uma bandeira, que hasteamos por horas em uma festa. Um momento de muita felicidade", lembra.

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