As micro e pequenas empresas representam 30% o Produto Interno Bruto (PIB) do país e foram responsáveis pela criação de 70% dos empregos no mês de agosto deste ano, segundo levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Para o superintendente do Sebrae/DF, Valdir Oliveira, investir em pequenos negócios é o caminho para o desenvolvimento econômico focado na geração de postos de trabalho e na distribuição de renda. No entanto, falta uniformização e simplificação no processo de abertura de micro e pequenas empresas. "O Estado não consegue dar, na velocidade com que eles (empreendedores) têm a ideia para implantar, a autorização para funcionar", disse Oliveira em entrevista ao Podcast do Correio desta terça-feira (27/12).
O superintendente do Sebrae/DF participou da construção da proposta de governo para micro e pequenas empresas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo ele, é necessário que o Estado se guie por um tripé para a formulação de "um horizonte de esperança" aos microempreendedores: crédito, Pacto Federativo e o Simples Trabalhista. "O crédito nos preocupa bastante, pois a inadimplência está elevada. Nós precisamos ter taxas de juros que sejam sustentáveis e economicamente viáveis para o processo de desenvolvimento. E também temos que olhar para o estoque para encontrar soluções", pontua.
Sobre o Pacto Federativo, Valdir defende, em entrevista às jornalistas Samanta Sallum e Mariana Niederauer, que o modelo poderia assegurar uniformização e agilidade na abertura de empresas no país. "O processo de formalização dos empreendedores contempla a abertura, licenciamento e baixa de empresa", explica o superintendente e ex-secretrário de Economia, Desenvolvimento, Inovação, Ciência e Tecnologia do DF. Dessas três etapas, o licenciamento é o processo mais burocrático, sendo responsabilidade dos estados e municípios, que criam regras diferentes.
Valdir lembrou do Simples Nacional, instituído em dezembro de 2006, e que deu tratamento tributário diferenciado às pequenas e micro empresas. No entanto, para ampliar as possibilidades de abertura de pequenos negócios, ele defende a criação do Simples Trabalhista. "Temos um fantasma que ronda as micro e pequenas empresas, que são as relações trabalhistas, que acabam dando o mesmo tratamento para o pequeno e para o grande. Por exemplo, a mesma montadora de automóveis acaba tendo o critério De negociação igual àquela pequena oficina de esquina", diz.
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Governo Lula
Valdir também comentou sobre as expectativas para o governo do presidente eleito Lula, que assumirá em 1° de janeiro. Na avaliação do superintendente do Sebrae/DF - que é filiado ao PSB, partido do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin -, há a possibilidade de pacificar o país, que vive em estado de alerta, principalmente depois das ameaças de atentado em Brasília na véspera do Natal. "Teremos ainda muitos reflexos desse ódio e polarização que construíram no Brasil, mas acredito que isso vai arrefecer. Vejo no Lula e no Alckmin duas pessoas muito experimentadas, democratas e acostumadas a lidar com a adversidade", opina.
O superintendente do Sebrae/DF ainda criticou a ausência de liderança no Brasil. De acordo com ele, esse vácuo no poder aliado às estratégias manipulação são fatores contribuintes para o cenário de instabilidade nacional. Entre os meios manipulatórios, Valdir cita a desinformação, também conhecida como fake news. "Em algum momento da história recente, a impressão que eu tenho é a de que a gente abriu a porta onde tinha alguns idiotas presos. Eles saíram e achamos que não era nada. Estamos lidando com uma idiotização que tomou conta do país", comenta.
Valdir Oliveira avaliou positivamente a indicação de Alckmin para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. "É um excelente sinal, porque precisamos de um grande interlocutor com o meio empresarial. Ele será o ministro das grandes, médias e pequenas empresas", pontua. O gestor, que se considera progressista, avalia que o campo político mais à esquerda perdeu a confiança de dois setores nos últimos anos: os evangélicos e os empresários. "Duas bases no Brasil que são muito resistentes às ideias progressistas. E o Alckmin é um execlente interlocutor em ambas", frisa.
Sobre o futuro presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, ele considera que foi uma boa nomeação. "É um economista com excelente formação, professor universitário e da linha desenvolvimentista, que compreende a importância da participação do Estado como indutor do desenvolvimento.Tenho uma expectativa muito positiva", afirma. Segundo Valdir Oliveira, Alckmin e Mercadante são "uma boa dobradinha a favor de quem produz".
Cearense, mas apaixonado por Brasília, Valdir reforçou ainda a veneração pelo Fortaleza, time do coração. O mandato à frente do Sebrae-DF termina este mês e ele não descarta a possibilidade de concorrer nas eleições de 2026 e cita Fernando Brant e Milton Nascimento: "E assim, chegar e partir / São só dois lados
da mesma viagem / O trem que chega é o mesmo trem da partida".
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