Pandemia

Aumento de aglomerações no fim de ano acende sinal de alerta para covid-19

A taxa de transmissão do vírus estacionou em um nível preocupante. Aglomerações tendem a aumentar nesta época e cerca de 170 mil brasilienses não tomaram nem a primeira dose da vacina

Naum Giló
Mila Ferreira
postado em 24/12/2022 06:00 / atualizado em 24/12/2022 13:04
 (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)
(crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press)

Há mais de um mês, a taxa de transmissão da covid-19 no Distrito Federal está acima de 1. Na prática, isso significa que a pandemia segue avançando. Com o fim das medidas restritivas, do isolamento e da obrigatoriedade do uso de máscaras, restam as vacinas e a conscientização sanitária para que a população se proteja do vírus. A proximidade das festas de fim de ano gera o aumento de aglomerações e acende um alerta. Especialista ouvido pelo Correio adverte quanto à circulação da subvariante da ômicron BQ.1, que já infectou pessoas no DF e é altamente transmissível. A população reclama de falta de vacina nas unidades de saúde. De acordo com a secretária de Saúde do Distrito Federal, Lucilene Florêncio, aumentar a cobertura vacinal da covid-19 ainda é um desafio.

Por meio do site, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES) anuncia a disponibilidade de vacina contra covid-19 para crianças a partir de 6 meses em várias unidades de saúde da capital do país. No entanto, a tentativa de vacinar o filho de 3 anos do economista Vinícius Piedra, 58, foi frustrada. Ao chegar à Unidade Básica de Saúde (UBS 2), na Asa Norte, por volta das 15h30 da última quarta-feira, ele foi avisado de que não havia primeira dose disponível para crianças de 3 e 4 anos. "Fui informado de que a orientação é para liberar doses apenas para as crianças que já receberam a D1. Se algo acontece com o meu filho, o Ministério Público pode me responsabilizar por não tê-lo levado para se vacinar, o que não é verdade", relata o economista. "Eu sequer consigo entrar com um mandado de segurança para conseguir a dose para o Arthur porque eu não tenho provas de que é a secretaria que não está dando a primeira dose", desabafa Vinícius.

Na ocasião, funcionários da UBS mostraram a Vinícius a Circular nº 30/2022, da Secretaria de Saúde endereçada às superintendências regionais de Saúde. O documento, ao qual o Correio teve acesso, orienta as unidades de saúde a utilizarem a vacina Coronavac apenas para aplicação da segunda dose (D2) a partir do último dia 21 (crianças que deveriam tomar a primeira dose ficam de fora). De acordo com o informe, a orientação "considera a disponibilidade limitada de doses da vacina repassadas pelo Ministério da Saúde, a necessidade de finalizar o esquema primário com o mesmo imunizante e a possibilidade de perda técnica devido ao prazo curto de validade, após a abertura do frasco". A informação divulgada na circular, entretanto, não está disponível no portal da SES.

 

Desafio

A secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, diz que pretende aumentar a cobertura vacinal de todos os imunizantes, mas assume que esse "é o maior desafio da saúde pública hoje". "Desde a primeira aplicação de vacina contra covid-19 no DF, em 19 de janeiro de 2021, foram mais de 7,1 milhões de doses ministradas. Lamentavelmente, perdemos muitas vidas e todos, de alguma forma, sofreram com isso. O governo investiu mais de R$ 3 bilhões em construção de unidades, contratação de profissionais, compra de equipamentos, hospitais de campanha. O compromisso era salvar vidas e fizemos tudo para isso. Mas também sofremos muito com a paralisação das cirurgias eletivas e a fila cresceu bastante", ressalta a chefe da Pasta.

Em nota, a SES informou ao Correio que, até o último levantamento, mais de 170 mil pessoas acima de 12 anos não possuíam o registro de início do ciclo vacinal contra a covid-19. Ainda segundo a pasta, outras 110 mil pessoas acima de 12 anos já estavam aptas a receberem a segunda dose (D2), mas não retornaram às unidades de saúde. De acordo com a SES, estima-se que mais de 740 mil pessoas estejam aptas a receberem a primeira dose de reforço, mas ainda não se apresentaram nas unidades de saúde para receber a dose extra do imunizante. "Diante disso, a pasta tem intensificado as ações de busca ativa, como carro da vacina e vacinação aos finais de semana", informou a nota.

Especialista

O infectologista Julival Ribeiro alerta para a importância do cuidado das famílias com pessoas com comorbidade nas festas de fim de ano. "Sabemos que existem aglomerações para as comemorações do Natal e réveillon. O correto é usar máscaras, sobretudo, para prevenir a covid-19 em pessoas com comorbidade, idosos, diabéticos, transplantados, pacientes que fazem quimioterapia. Essas pessoas devem ser protegidas. Não podemos esquecer da importância da higienização das mãos", advertiu o médico. "Estamos agora com a subvariante da ômicrom chamada BQ.1 que é altamente transmissível", acrescentou o especialista.

Mais profissionais

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, anunciou, na tarde de quinta-feira, por meio das redes sociais, a sanção da lei que permitirá a prorrogação por mais nove meses dos contratos temporários de 1,4 mil profissionais de saúde do DF. De acordo com o chefe do Executivo, são agentes comunitários de saúde, agentes de vigilância, técnicos em enfermagem, entre outras categorias.

"Enquanto isso, a SES (Secretaria de Saúde) segue empenhada na elaboração dos editais para novos cursos para servidores efetivos. Estamos trabalhando firme para melhorar a assistência em saúde para toda a população", ressaltou o governador.

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