ENTREVISTA

"Do ponto de vista democrático, não foi aceitável", diz Celina Leão sobre vandalismo

Ao CB.Poder, a parlamentar destacou que o vandalismo praticado por manifestantes bolsonaristas no dia da diplomação de Lula foi questionável. Disse que três suspeitos estão sendo ouvidos pela Polícia Civil e que há dois inquéritos em andamento

Carlos Silva*
postado em 21/12/2022 06:00
 (crédito:  Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

Três suspeitos de envolvimento nos atos terroristas ocorridos no último dia 12 foram identificados e estão sendo ouvidos. Segundo a vice-governadora eleita Celina Leão, convidada do CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília, a informação foi dada pelo secretário de Segurança Pública, Júlio Danilo. À jornalista Denise Rothenburg, a deputada federal também comentou, ontem, sobre a possível volta de Anderson Torres, ministro da Justiça, ao governo do Distrito Federal, do qual participou entre 2019 e 2021.

Na diplomação dos eleitos no DF tivemos uma guerra declarada de torcidas. Como vai ser daqui para frente, depois dessa largada com disputa tão acirrada entre dois grupos?

Eu acho que isso depende muito dos atores que fazem parte de todo esse cenário. O papel do governador (reeleito) Ibaneis Rocha — e ele tem feito isso com muita maestria — e o meu, como vice, é de pacificarmos os eleitores. Nós temos a responsabilidade de abrigar os poderes na capital federal. Então, acho que precisamos de muito bom senso e tranquilidade para tratar todas as pautas aqui do Distrito Federal. O Brasil precisa de união, mesmo que tenhamos pontos de vista divergentes em alguns assuntos. 

Ibaneis ganhou no primeiro turno e logo começou a montar seu secretariado. A maioria é conhecida. Mais mudanças são previstas?

Ibaneis está com muita tranquilidade e está ouvindo todos os segmentos e deputados distritais, dialogando com todos eles. Ele não precisa sair correndo para fazer tudo no dia 1º. Está no exercício do mandato, recebendo as demandas e vendo o que que ainda precisa ser ajustado. O governo é muito dinâmico e vejo que ele vai ter tempo para fazer toda essa composição com a Câmara (Legislativa do DF). Só não vai fazer tudo de uma vez. Não tem necessidade de sair anunciando todas as trocas que vai fazer dia primeiro. Ele está fazendo isso com muita calma, com muita tranquilidade, ouvindo todo mundo para fazer o que é melhor para o Distrito Federal.

Mesmo depois da posse ainda vem mudanças?

Acredito que a qualquer momento pode vir mudanças. O governo funciona de acordo com as prioridades que o governador elencou e com o cenário que nós estamos vendo aqui no DF, e Ibaneis sempre dialogou com todo mundo. Acho que isso vai ser construído, a curto, médio e longo prazos, com toda uma base de deputados que nos ajudam, que nos apoiam.

Há expectativa do retorno de Anderson Torres, ministro da Justiça, para a Secretaria de Segurança Pública do DF? O PT está receoso com ele no cargo. Como está essa negociação?

Essa decisão cabe, exclusivamente, ao governador Ibaneis. Acredito que a preocupação do PT não tem muita causa verdadeira, porque Anderson foi um ministro tranquilo, que não era considerado polêmico. Ele era nosso secretário de Segurança e depois se tornou ministro, retornar ao governo do Distrito Federal é uma coisa muito natural do processo (político). Acho que o governador pode ouvir, mas a decisão caberá a ele. Anderson foi convidado (a voltar) e acredito que a decisão do governador está tomada. O governo do Distrito Federal será muito firme na segurança pública, porque Ibaneis mostrou postura em todos os momentos que essa cidade teve dificuldade. E o nosso secretário Anderson também sempre fez um trabalho correto quando esteve conosco. Quando ministro, também nunca foi polêmico. Acho que a preocupação do PT não tem motivação. Eles fizeram um apelo, mas acredito que a decisão do governador Ibaneis está tomada.

A preocupação do PT com a permanência de Anderson Torres no cargo se deu depois daquele ato no dia da diplomação do presidente Lula, quando manifestantes tentaram, inclusive, invadir o hotel em que ele estava hospedado. Não há justificativa de temor?

A responsabilidade do ministro Anderson não é com a segurança pública do Distrito Federal. Essa responsabilidade é do governador Ibaneis. Até porque ele (Anderson) ainda está no cargo de ministro da Justiça. Quando o problema ocorreu, o nosso secretário de Segurança foi para a área de risco. Ele contatou também o governador Ibaneis, que ficou até 3h da manhã no telefone com o nosso secretário Júlio (Danilo Ferreira), conversando sobre a situação que estava acontecendo aqui no DF. Essa responsabilidade era nossa e foram tomadas todas as medidas. Às vezes, as pessoas querem medidas mais enérgicas, mas você não pode tratar uma militância de forma enérgica a ponto de causar dano maior do que a própria manifestação. Nós sabemos que aquilo, do ponto de vista democrático, não foi nada aceitável. Mas naquele momento, se combatêssemos (os atos) com mais violência, traríamos o caos no DF. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) agiu firmemente. O secretário de Segurança estava no momento da operação. Os inquéritos foram instaurados no dia pela Polícia Civil do DF (PCDF). Quando se fala em movimentos bolsonaristas, são movimentos livres, não têm coordenação, é o povo que está na rua. Quando não tem uma coordenação, você não sabe nem a quem apelar diante do momento de balbúrdia, como daquele que aconteceu. Os próprios bolsonaristas estão questionando se aquele grupo era do Bolsonaro ou não. Isso vai ser agora trazido à tona no inquérito, que está sendo finalizado. Tem dois inquéritos tramitando. Um na Polícia Federal (PF) e outro aqui na Polícia Civil, que vão apurar os responsáveis, porque ninguém pode sair aí em nome de outras pessoas, depredando o patrimônio público.

Há perspectiva de que sejam feitas prisões até a data da posse presidencial?

Eu tive uma conversa com o secretário (de Segurança Pública) Júlio Danilo Ferreira. Esse questionamento foi feito. Eu ainda não estou no exercício do cargo de vice-governadora, mas, até por lealdade ao governador Ibaneis, para todas as demandas do DF na Câmara, eu faço questão de buscar informações. O próprio secretário Júlio disse que três pessoas foram identificadas e estão sendo ouvidas. Espero que isso se resolva, sim, até o dia 1º.

Temos um clima de tensão, com pessoas ainda na frente da porta de quarteis país afora. Como será trabalhada a segurança aqui no DF para o dia da posse do presidente Lula?

Eu acredito que a Secretaria de Segurança Pública está organizando um planejamento para tudo isso em parceria com a Polícia Federal. A equipe de transição do governo federal também esteve com o governador Ibaneis. Uma logística vai ter que ser criada para o dia primeiro. O que solicitamos também é que decisões do Poder Judiciário não se repitam, como aconteceu no dia da diplomação do Lula. Era um dia em que estávamos recebendo vários governadores e ter que controlar toda uma briga, por conta de uma ordem de prisão naquele dia, não era adequado. Não vou entrar no mérito da decisão, porque eu não conheço o processo, nem o que está escrito nos autos. O que eu vou abordar duramente é na data. Você tem só uma segurança pública para cuidar de todos os poderes e eventos que acontecem no Distrito Federal, além de continuar cuidando das nossas cidades que nós temos. Num dia de diplomação, em que nós temos vários governadores aqui, a cidade tem que estar pacificada. Não é dia de decisões polêmicas, que causam divergências. Então, no dia 1º, esperamos mais tranquilidade.

Houve contato para pedir ao Supremo que não tenha prisões de apoiadores mais incisivos no dia da posse?

Não houve contato oficial. Às vezes, as conversas que existem são informais para colocar esse ponto de vista. É bom deixar claro que nós não estamos entrando no mérito dos inquéritos. O Supremo tem toda condição de analisar e ver quais são os inquéritos que ele cuida. Mas em termos de estratégia e datas, acho que isso tem que ser pensado, pelo bem da segurança das pessoas que estão aqui no Distrito Federal.

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*Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira

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