Construídos com o objetivo de escoar a água da rua, os bueiros se tornaram armadilhas perigosas para a população. O Correio percorreu as vias do Guará 1 e observou diversas valas abertas. O caso que chama mais atenção é o buraco que fica em frente ao Centro de Ensino Fundamental 01, onde os moradores tiveram que improvisar uma sinalização com galhos de árvores e papelões para evitar mais acidentes.
O comerciante João Batista, 48, diz que os moradores já fizeram várias reclamações, mas o problema persiste. "Direto a gente consegue ver as pessoas caindo nesse bueiro. Ontem mesmo um carro estourou o pneu da frente nesse buraco, a gente que ajudou a tirar o veículo. O pessoal rouba direto essa tampa, é colocar e eles vêm e pegam", conta.
O furto de tampas de bueiros tornou-se uma atividade comum e até lucrativa, uma vez que o material é facilmente comercializado no mercado paralelo. O advogado e presidente da comissão de direito administrativo da OAB-DF, Samuel Souza, diz que é necessário investigar quem está comprando esse material, para acabar com a prática. "Receptação de produto de roubo é crime e deve ser combatido pelo Estado com rigor," ressalta.
O especialista também destaca outras atitudes que devem ser adotadas pelos gestores. "Quando a tampa é recorrentemente roubada, o Estado deve fiscalizar e empenhar esforços para coibir a prática, seja reforçando o policiamento no local, seja alterando o material das tampas para evitar que essas sejam cobiçadas pelos ladrões", explica.
Os acidentes em bueiros descobertos podem acarretar lesões graves. Há um mês, o aposentado Renato Ribeiro, 56, bateu em um desses buracos com a moto. Ele machucou o joelho e teve uma escoriação no braço. "Mas poderia ser pior, a sorte é que eu vestia uma jaqueta", ressalta.
As bocas de lobo com uma estrutura inadequadas e sem manutenção podem oferecer riscos à vida. Durante ou logo após uma chuva forte com enchente, as pessoas podem ser arrastadas para essas aberturas. O professor de Engenharia Civil da Universidade de Brasília (UNB), Arthur Tavares Schleicher, ressaltou que a falta da tampa, caixas de inspeção ou grelhas pode acarretar riscos aos veículos e pedestres que podem cair nessas aberturas.
Em nota, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) explicou que as regiões que têm mais casos de bueiros sujos são Ceilândia, Taguatinga, Gama e Santa Maria por causa da densidade populacional e extensão territorial dessas cidades. "O prazo previsto para atendimento das demandas de ouvidoria é de 60 dias, contudo o cumprimento do prazo depende da capacidade operacional e disponibilidade de insumos. Os casos emergenciais são atendidos antes deste prazo", diz um trecho da nota.
A Novacap acrescenta que tem uma divisão exclusiva para realizar a manutenção do sistema de drenagem pluvial de todo DF e faz as atividades ao longo do ano. Além de disponibilizar tampas de bueiro para substituição para todas as regiões administrativas. Nos meses que precedem o período chuvoso, as equipes são reforçadas com reeducandos do sistema prisional para intensificar os serviços nos locais mais críticos. Para aumentar a capacidade da prestação do serviço, a Novacap realizou a contratação da execução do serviço para aumentar a capacidade operacional de atendimento.
Até novembro de 2022, foram limpos 11.784 bueiros e reparados 2.384 dispositivos. A população deve comunicar à Polícia Militar do DF (PMDF) os casos de furtos de bueiros e grelhas, não jogar lixo na rua, além de não estacionar nas lajes de concreto que compõem as bocas de lobo.
*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado
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