Trabalho

Na capital do país, negros têm renda mensal 73,7% menor que a dos brancos

Pesquisa divulgada ontem pelo IPEDF e pelo Dieese mostra que, em 30 anos, houve um salto na desigualdade de remuneração entre trabalhadores negros e brancos. Por outro lado, a participação negra no mercado de trabalho aumentou de 40% para 64%

Naum Giló
postado em 13/12/2022 22:48 / atualizado em 13/12/2022 22:49
 (crédito: Agência Brasil / Arquivo)
(crédito: Agência Brasil / Arquivo)

A participação de mulheres e de negros no mercado de trabalho aumentou, porém as desigualdades salariais permaneceram ou até se agravaram nas últimas três décadas no Distrito Federal. É o que mostram os dados da pesquisa 30 anos de PED-DF: uma análise da atividade e do rendimento do mercado de trabalho do Distrito Federal. Divulgado, ontem, pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o levantamento é uma comemoração aos 30 anos da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Distrito Federal (PED-DF).

As mulheres eram 44,4% da população ocupada em 1992 e passou para 48,5% em 2021. A evolução da
participação de negros no mercado de trabalho foi bem maior, passando de 40,4% para 64,6% no período. A equiparação salarial acompanhou o progresso. A diferença de renda média entre homens e mulheres caiu de 51,5%, em 1992, para 31,5%, em 2021. No entanto, quando o critério é racial, houve um salto na desigualdade de remuneração entre negros e brancos, que subiu de 63,3% para 73,7%. 

Andreia Ponciano Silva, 44, é técnica de enfermagem e negra. Ela está à procura de trabalho desde agosto e revela que o maior desafio é ter com quem deixar a filha de cinco anos enquanto está no trabalho. “Como ela não vai mais para a creche, a solução seria uma escola em tempo integral”, diz a técnica, que é mãe solo. A raça também é um agravante. “Eu já estive em um trabalho em que fui pedida para cortar o cabelo que estava com rasta sob a justificativa de que a clientela não era acostumada com aquilo. Eu, então cortei, mas fui mandada embora mesmo assim, na semana seguinte”, desabafa. “A todo momento temos que ficar provando para as pessoas que somos capazes”.

 

Público e privado

Outro destaque na pesquisa é a diferença entre os servidores públicos, estatutários ou não, e os trabalhadores do setor privado, com ou sem carteira assinada. Os servidores estatutários tiveram, na renda média, um incremento real de 94,34% (de R$ 5.480 para R$ 10.650) no período estudado. Para os não estatutários, o aumento foi menos expressivo: 19,79% (de R$ 6.415 para R$ 7.685).

Por outro lado, os empregados do setor privado com carteira assinada perderam 3,63% do valor real da renda média, declinando de R$ 2.406 para R$ 2.319, enquanto os sem carteira tiveram um salto de quase 50% (de R$ 1.184 para R$ 1.768). Os empregados domésticos, categoria dominada por mulheres, viu a renda quase dobrar no período. Em 1992, a renda média dos trabalhadores era de R$ 646, valor que passou a ser de R$ 1.290 em 2021.

No geral, o crescimento da renda média do brasiliense foi pequena, cerca de 9%.

Mercado de trabalho

Durante os 30 anos analisados pelo estudo, a população do DF aumentou 88%. Fazendo o recorte da população de idade ativa (PIA), composta por pessoas de mais de 14 anos, o salto foi de 125%. Em números absolutos, o grupo foi de 1,1 milhão para 2,5 milhões de pessoas. A taxa de atividade, que é a proporção entre a PIA e a população em geral, saiu de 67% para 81%, com taxa anual de crescimento de 2,73%.

A taxa de desemprego, que na pesquisa divulgada leva em conta o chamado desemprego oculto, que inclui desalentados e trabalhos precários, está ligeiramente maior do que o registrado em 1992, mostrando-se mais elevada entre mulheres, negros e jovens. O desemprego total para as mulheres era de 18% no primeiro ano da análise e passou para 19,9% no ano passado. Ao mesmo tempo, para os homens foi de 13,8% para 14,8%. A média no período de desemprego oculto entre mulheres foi de 3,2% e para os homens 1,5%.

Entre a população jovem, de 14 a 29 anos, a mesma taxa foi de 27,8%, na média, com destaque para o subperíodo de 2015 a 2021, de crise no país, quando a taxa atingiu os 32,8% dos jovens economicamente ativos. Para a população negra, o desemprego também é mais presente. Para o grupo, a taxa avançou de 18,9%, em 1992, para 19,7%. Para os brancos, o aumento foi de 13,7% para 14,8%. Nos períodos de 1997 a 2004 e de 2017 a 2020, o número ficou acima dos 20%, algo nunca observado entre os brancos. 

Clarissa Schlabitz, do IPEDF, destaca que a pesquisa feita pelo instituto e pelo Dieese traz muitos benefícios para o DF no auxílio às políticas públicas na área do emprego e lembrou do apagão estatístico que houve durante a pandemia, quando o Ministério do Trabalho não soltou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) teve problemas com o Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). “Com a PED, trazemos informações atualizadas do mercado de trabalho do DF. É uma vitória completarmos 30 anos e o DF ser a única unidade da federação que ainda faz a PED. Espero que sirvamos de exemplo para os estados”, comentou.

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