Cerca de 3,4% da população do Distrito Federal se autodeclara LGBTQIA+. Os dados são de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), divulgada nesta quinta-feira (8/12), que quantifica e identifica o perfil sociodemográfico desse público. Do levantamento feito, cerca de 2% se identifica como lésbica, gay ou bissexual e 1,04% como trans. De acordo com o estudo, os dados fazem do DF a unidade federativa com maior concentração de LGBs (Lésbicas, Gays e Bissexuais), representando 2,9% dos moradores da capital.
O Distrito Federal é o primeiro e único entre as unidades federativas do Brasil a incluir e contabilizar oficialmente em uma amostragem social a população LGBTQIA+. Os dados balizam a elaboração e a condução de políticas públicas voltadas para as necessidades específicas dessa parcela da população. “Essa pesquisa surgiu ainda no final de 2019, após algumas associações trazerem a necessidade de iniciar uma agenda de pesquisa sobre a população do DF. A partir daí começamos a pensar em como fazer”, diz Júlia Pereira, coordenadora de pesquisas da diretoria de estudos e políticas sociais do IPEDF.
De acordo com ela, o processo seguiu três etapas. A primeira foi entender como são feitos os estudos em outros locais do Brasil, da América latina e do mundo. Fomos atrás de outras pesquisas, de entender como outros países observam o perfil dessa população”, diz. Para o levantamento dos dados, foram inseridas perguntas sobre identidade de gênero e orientação sexual para pessoas maiores de 18 anos na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad). O estudo foi dividido em etapas, sendo algumas delas: proporção da população; perfil sociodemográfico; escolaridade; mercado de trabalho; e trabalho doméstico.
Impossibilitados de acrescentarem mais perguntas no estudo, os pesquisadores fizeram outro questionário,em que outras questões foram contempladas. Para isso, foram adotadas duas estratégias: “Primeiro mandamos cartas para as pessoas que disseram ser LGBTQIA+, e depois abrimos para toda a população”, diz. O primeiro estudo aborda os retratos sociais de 2022, lançado pelo IPEDF, que analisa essa população. O segundo captura outras dimensões, como relação com família e amigos. “Nós sabemos das fragilidades que esse público vive, das violações de direitos, falta de voz e participação”, reitera Sueli Vieira, subsecretária de direitos humanos e igualdade racial da Secretaria de Justiça do DF (Sejus).
Durante a apresentação, a subsecretária reiterou, ainda, a importância da pesquisa. “É um estudo inédito. As informações trazem um pioneirismo de suma importância para fazermos análises das pesquisas públicas voltadas a essa população. Essas informações nos permitem olhar e enxergar os gargalos que temos. Com isso, podemos fazer uma análise das fragilidades que apresentamos enquanto acesso, e o que precisa ser aprimorado”, diz.
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Resultados
Além de apresentar o levantamento do público LGBTQIA+ no Distrito Federal, o estudo mostrou, ainda, a desigualdade entre os intragrupos. De acordo com a pesquisa, lésbicas e gays têm maior participação no mercado de trabalho, segundo o levantamento de ocupados no DF. No entanto, o público trans é o que possui a maior média de horas semanais dedicadas ao mercado de trabalho, o equivalente a 39h06. Quando se fala em horas dedicadas ao trabalho doméstico, é o quinto menor da lista, com 10h5.
"Na participação do mercado de trabalho, a gente percebe que a população trans puxa pra baixo essa média de participação. Isso porque embora tenham altos salários, uma grande porcentagem está fora da População Economicamente Ativa (PEA)”, diz Ana Carolina Tedesco, pesquisadora do estudo. De acordo com a pesquisa, o público trans acima de 60 anos é o que possui a segunda maior média de renda de trabalho, sendo R$ 7.612,93. Em geral, lésbicas acima de 60 anos têm as maiores rendas, com R$ 7.754,13.
“Ações com foco nesse grupo (transexuais) podem ajudar a entender esses resultados, principalmente estudos que se dedicam a entender qual o conceito de trabalho para essa população, porque dedica mais de 39h ao mercado de trabalho, mas ainda assim grande parte não está na PEA”, ressalta Ana.
Ainda, de acordo com a pesquisa, bissexuais e outros têm os menores rendimentos, jornada de trabalho e idade; e lésbicas dedicam ao trabalho doméstico metade do tempo dedicado pelas mulheres cis-hetero. "Talvez isso suscite discussões de gênero, de estruturas de relação, de orientação sexual”, cita.
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