"Separei-me recentemente e tenho um filho pequeno para cuidar, mas não tenho dúvida de que dou conta do recado", relata a servidora pública Claudia Barreto, 46 anos. A situação, que há alguns anos era sinônimo de vergonha para muitas mulheres, e de preconceito por parte da sociedade, é cada vez mais comum e já é visto como independência e empoderamento feminino. No Distrito Federal, é uma tendência que não pode mais ser negada. Cerca de 49% das mulheres são as responsáveis pelo sustento da casa, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) de 2021. No entanto, ainda de acordo com o levantamento, a taxa de desemprego entre as mulheres (14,5%) é quase o dobro da registrada pelos homens (7,7%), o que dificulta a vida de muitas. A dependência econômica feminina ainda é um dos principais obstáculos para elas se livrarem de relacionamentos abusivos.
Claudia Barreto sabe bem o que é autonomia financeira, e desfruta dessa liberdade desde os 23 anos, quando foi nomeada professora efetiva na Secretaria de Educação do Distrito Federal. "Eu era confundida com uma estudante quando chegava às escolas para ensinar", lembra a goiana. Aos 31 anos, exerceu pela primeira vez o cargo de diretora em uma instituição de ensino. Hoje, ela trabalha com políticas públicas de educação no Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF). "Na minha percepção, as mulheres estão até superando os homens no mercado de trabalho", analisa.
A grande surpresa da vida de Claudia veio há cerca de três anos, quando, sem planejar, engravidou do parceiro com quem esteve ao lado durante sete anos. Durante a licença maternidade, ela passou a perceber que o companheiro não estava disposto a contribuir nos afazeres domésticos. "Ele disse que não era um trabalho para ele. Isso foi um dos fatores que culminaram na nossa separação", revela. "Uma mulher independente assusta, porque o homem ainda não consegue se enxergar em um lugar que não seja o de provedor. Ele ainda não sabe contribuir de outras formas dentro do lar".
Saiba Mais
- Esportes Quartas de final da Copa do Mundo: veja jogos, datas, horários e análise
- Diversão e Arte Luciano Huck se desculpa por usar frase de George Floyd em jogo
- Política Fundo Amazônia deve liberar R$ 3,3 bi nos primeiros dias do governo Lula
- Diversão e Arte Tirullipa é expulso da ‘Farofa da Gkay’ após puxar biquíni de mulheres
Ajuda para a família
Ana Vieira, 35, não só é uma mulher livre, como também ajuda financeiramente os familiares que ficaram na sua terra natal, São Raimundo Nonato (PI). "Batalho além do que posso para ajudar os meus pais. Durmo no serviço de segunda a sexta-feira e vou para a casa da mãe da minha patroa nos fins de semana", conta a doméstica, que chegou a Brasília há 13 anos em busca de uma vida melhor. "Não me vejo mais dependendo de alguém. Sou muito ligada aos meus pais, e hoje sou eu quem os ajuda", assinala. "Tudo que faço é para manter a minha autonomia, para não precisar dar satisfação a ninguém", orgulha-se.
Além de ajudar os familiares com os gastos com saúde, Ana investe em imóveis na região onde nasceu. Mesmo na capital há mais de uma década, ela diz que não se vê morando aqui e ri da própria contradição. "Todo ano, eu digo que vou voltar pro Piauí, mas nunca retorno", confessa. "Quando você depende de si mesma, você é a sua autoridade, pode fazer o que quiser."
Conciliar a carreira profissional com os desafios da maternidade não é fácil, muito menos simples. A psicóloga Emily Verde, 35, trabalhava em outras clínicas, mas realizou o desejo de ter o seu próprio espaço em parceria com uma amiga e colega de profissão. "Sempre tivemos o sonho de abrir o nosso próprio negócio, que também pudesse ser das nossas filhas, principalmente quando não tivesse alguém para cuidar delas", conta Emily. A profissional revela que, até tomar a decisão de inaugurar seu próprio consultório, teve medo do fracasso e chegou a duvidar da própria capacidade profissional de tocar um negócio.
A clínica tem atendimento voltado para mulheres vítimas de relacionamentos abusivos e violência, mas homens também são atendidos. Os mais de 100 pacientes analisados no primeiro ano de funcionamento deram margem de lucro suficiente para a realização de atendimentos emergenciais gratuitos. A independência financeira renovou as forças de Emily. "Não significa apenas que não precisamos de ninguém, mas também que fazemos parte da movimentação do mundo, que estamos contribuindo de alguma forma para o crescimento de várias pessoas e também da economia do país", comemora a profissional.
Violência
Um dos pilares do ativismo pelo fim dos abusos contra a mulher é a dependência financeira. A coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Juliana Martins, lembra que a esse fato dificulta às mulheres romperem com os ciclos de violência, sobretudo quando há filhos envolvidos. "Uma pesquisa encomendada por nós, e que traz dados sobre violências de gênero, principalmente a doméstica, aponta que o maior medo das mulheres vítimas de violência é a perda de renda ou de emprego", aponta.
"Políticas públicas voltadas para a capacitação feminina, que as tornem capazes de ter um fonte própria de renda, é parte fundamental do combate a toda a forma de ultrajes. Se ela não tem a sua independência financeira, é mais fácil de cair em outro relacionamento abusivo", explica Juliana.
Cobertura do Correio Braziliense
Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Correio Braziliense nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!
Newsletter
Assine a newsletter do Correio Braziliense. E fique bem informado sobre as principais notícias do dia, no começo da manhã. Clique aqui.
Saiba Mais
- Política Mercadante diz que Lula apoia reforma administrativa, mas não nos moldes atuais
- Política Senadores do MDB entram em disputa por ministério e não querem bancar Tebet
- Mundo Acordo entre TikTok e governo Biden é adiado mais uma vez
- Cidades DF Câmara Legislativa aprova em segundo turno uso do PDAF em escolas militares
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Políticas públicas
O Correio apurou junto à Secretaria da Mulher do Distrito Federal políticas públicas do governo que fomentem a independência financeira das mulheres da capital. O projeto Mão na Massa, parceria com o Instituto BRB, oferece cursos de capacitação na área da beleza pelo Senac. As interessadas em participar devem se inscrever em formulário eletrônico, no site da secretaria na aba “Atendimento à Mulher”, no submenu “Subsecretaria de Promoção das Mulheres”, nos cursos de maquiagem social, massagem modeladora, manicure e pedicure, técnicas de depilação e design de sobrancelhas. Veja os locais e horários:
Maquiagem social
Local: SENAC de Taguatinga
Turno: Noturno - 19h às 22h
Maquiagem social
Local: SENAC de Ceilândia
Turno: Matutino - 8h às 12h
Massagem modeladora
Local: SENAC de Ceilândia
Turno: Vespertino - 14h às 18h
Manicure e pedicure
Local: SENAC de Ceilândia
Turno: Noturno - 19h às 22h
Técnicas de depilação
Local: SENAC de Ceilândia
Turno: Noturno - 19h às 22h
Design de sobrancelhas
Local: SENAC de Taguatinga
Turno: Matutino - 8h às 12h
O projeto Espaço Empreende Mais Mulher também oferece ações, oficinas e cursos gratuitos para resgatar a autoestima e promover a autonomia econômica das mulheres. Para esse projeto, não é preciso cadastro prévio, basta chegar ao local.
Espaço Taguatinga
Avenida das Palmeiras, Conjunto 04, Lote 3 – Agência do Trabalhador, 2°andar – Taguatinga/DF
Espaço Ceilândia
CNM 01, Bloco I, Lote 03, Centro – Casa da Mulher Brasileira, 2°andar – Ceilândia/DF
Exposição
A exposição Her rights! Money, power, authority, organizada pelo Instituto Sueco em parceria com a Embaixada da Suécia no Brasil, vai até 9 de dezembro, das 9h até às 17h, na Praça do Servidor, dentro da sede do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A mostra aborda gênero e suas interseccionalidades, com 22 painéis com temas relacionados à empoderamento feminino, autonomia nas decisões e liberdade monetária.
A exibição faz um traçado cronológico partindo de 1792 até os dias atuais, marcando as conquistas dos direitos das mulheres na Suécia e ao redor do mundo, evidenciando a importância do empoderamento econômico feminino para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).