CRIME

Estudante que planejava massacre em escolas do DF é apreendido

Após denúncias, adolescente de 16 anos foi apreendido pela PCDF por ameaças de chacina em duas escolas públicas da capital. Nas redes sociais, o menor dizia que queria "vingança" e só iria parar quando "decepasse a cabeça de muitos"

Edis Henrique Peres
postado em 01/12/2022 05:59 / atualizado em 01/12/2022 05:59
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Um adolescente de 16 anos foi apreendido pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), após realizar postagens nas redes sociais com ameaças de um massacre em escolas públicas da capital do país. O suspeito foi detido em flagrante delito, na própria casa, em Sobradinho, e levado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), onde permanece à disposição da Justiça.

A investigação é conduzida pela 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) e, segundo o delegado-chefe da unidade, Hudson Maldonado, as postagens foram denunciadas por pais, alunos e professores. "As mensagens começaram a chegar no telefone da delegacia. Gerou um pânico considerável na cidade, além da divulgação de algumas páginas da rede social que replicaram as postagens do infrator", explica.

Apreendido na última terça-feira (29/11), o adolescente estuda em um dos colégios que ameaçou e é ex-aluno do outro, ambos em Sobradinho. Nas redes sociais, ele postava que não "ia sobrar um pra contar a história". Ele também postou que queria vingança e seria visto como "um herói". "Só vou parar quando eu decepar a cabeça de muitos. Não tenho medo de nada, não tenho amor nem nos meus próprios pais", escreveu, em uma das publicações. Um outro texto divulgado diz que o jovem está se "juntando aos demônios" e que ele será o "próprio dono da morte", de acordo com suas próprias palavras.

Ao Correio, o delegado Hudson Maldonado disse que o adolescente pode pegar até três anos de internação. "Em uma medida socioeducativa, por ele ser menor de idade", detalha.

Questionada sobre o episódio, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) informou que "a polícia estava monitorando perfis em redes sociais e identificou ameaças a escolas de Sobradinho", porém, não deu mais detalhes sobre o ocorrido. Ao longo do dia de ontem, a reportagem também tentou contato com as próprias escolas que sofreram as ameaças. Entretanto, até o fechamento desta edição, não obteve retorno. 

Sinais de alerta

O monitoramento realizado pela família, pelo Estado e pelas escolas são passos fundamentais para se evitar a execução desses crimes. No entanto, Catarina de Almeida Santos, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), alerta que as medidas não podem ser restritas apenas à supervisão dos jovens e adolescentes. "É necessário ver o que andam publicando ou acessando nas redes, mas também precisamos pensar o que está motivando esses ataques. Precisamos não apenas impedir que eles aconteçam, mas evitar que esse adolescente desenvolva esse tipo de atitude, de quem planeja cometer esses crimes", ressalta.

Para a professora, as medidas passam por diversas instâncias. "É necessário ir atrás dos núcleos de conversa desse estudante, com quem ele está tendo contato que o dá acesso a arma; falar sobre o desarmamento da população. Vale lembrar que as escolas estão cada vez mais proibidas de tratar de questões críticas. Enquanto a instituição que faz parte da sociedade, a escola precisa ter infraestrutura profissional e liberdade para que os alunos discutam esses temas e trabalhem as questões de intolerância, desrespeito e preconceito com o jeito de existir do outro", aponta.

Catarina destaca que não há uma resposta simples. "O trabalho preventivo é essencial, mas precisamos questionar: qual a política pública estamos adotando que impossibilita a escola de trabalhar conteúdos que precisa, que permite que crianças e adolescentes participem de clubes de tiros ou tenham manejo com armas? Estamos naturalizando práticas de racismo e discriminação. Sem diálogo, não tem educação ou ensino eficaz. Hoje em dia, as escolas estão cada vez mais parecidas com unidades prisionais, com grades, câmeras, muros altos, e sem permissão de ser um espaço de criatividade e debate. Por isso que o tema é complexo, esse problema passa por diversas esferas", finaliza.

 

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  • Jovem de 16 anos postava ameaças pelas redes sociais
    Jovem de 16 anos postava ameaças pelas redes sociais Foto: PCDF/Divulgação
  • Adolescente ameaçava massacre em escola do DF
    Adolescente ameaçava massacre em escola do DF Foto: PCDF/Divulgação
  • Investigado dizia que muitas cabeças seriam decepadas no colégio
    Investigado dizia que muitas cabeças seriam decepadas no colégio Foto: PCDF/Divulgação
  • O menino era ex-estudante da unidade de ensino que ameaçava, mas abandonou as aulas
    O menino era ex-estudante da unidade de ensino que ameaçava, mas abandonou as aulas Foto: PCDF/Divulgação
  • Jovem ameaça realizar massacre em escola do DF
    Jovem ameaça realizar massacre em escola do DF Foto: PCDF/Divulgação
  •  O jovem foi levado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA)
    O jovem foi levado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) Foto: Augusto Fernandes/CB/D.A Press
  •  31/03/2022.  Cidades. Feminicidio em Sobradinho.  Criminalistica no Local do Crime. Fachada da 13ª DP.
    31/03/2022. Cidades. Feminicidio em Sobradinho. Criminalistica no Local do Crime. Fachada da 13ª DP. Foto: Ed Alves/CB

Memória

Março de 2022:

Operação da Polícia Civil prende um estudante de 20 anos, morador da Asa Sul, por armazenar pornografia e planejar um massacre em uma escola particular. O jovem guardava em casa quatro celulares, uma arma airsoft, taco de beisebol, facas e uma máscara do personagem fictício Jason Voorhees, assassino da série de filmes Sexta-feira 13.

Maio de 2021:

Estudante de 19 anos é presa por planejar massacre em uma escola pública do Recanto das Emas. A mãe da jovem, contudo, disse em entrevista ao Correio, que ela sofre de esquizofrenia e distúrbios psicológicos. Havia máscaras e simulacros de armas de fogos em casa.

Março de 2019:

Adolescente de 13 anos é apreendido por ameaça de ataque em nove escolas de Samambaia. Ele postou um vídeo nas redes sociais em que aparecia com mais três jovens armados dizendo que iam entrar na unidade de ensino e matar todo mundo. No entanto, na casa do suspeito, os investigadores não encontraram nenhum armamento.

Março de 2012:

Jovem é preso por suspeita de arquitetar plano de ataque em uma festa de alunos da Universidade de Brasília (UnB). O rapaz participava de fóruns e sites que incentivam a prática de diversos crimes, como estupro e assassinato de mulheres e negros. O brasiliense era acusado, além disso, de ameaçar com bombas outras universidade pelo Brasil afora. Devido ao crime, ele passou mais de um ano preso e, em 2013, foi condenado a regime semiaberto. Mas ele não deixou de praticar crimes de ódio e foi preso novamente, em 2018.

Três perguntas para

Jéssica Marques, especialista

em direito penal do Kolbe Advogados e Associados

O que a lei prevê nesse tipo de crime de planejamento ou execução de atentados em escolas?

O crime de homicídio em massa, de várias pessoas, sem que haja um objetivo étnico, religioso ou racial, é popularmente conhecido como chacina ou massacre. E quando cometido por um maior de idade será punido com uma pena de reclusão, fixada de acordo com todas as circunstâncias do caso. Agora, se for cometida por uma pessoa menor de idade, o autor do delito será punido com uma medida socioeducativa, que não poderá ultrapassar o prazo de até três anos, segundo determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Quais os fatores de risco e de alerta?

É importante chamar a atenção para alguns pontos, como a internet. Com o avanço das redes sociais, acaba sendo propagadas inúmeras informações, boas e ruins, que chegam aos consumidores mais contumazes das redes. E quem mais consome são os adolescentes e crianças, que acabam vendo situações de outros países e reproduzem em seu cotidiano. Os casos de massacre, por exemplo, são mais recorrentes nos Estados Unidos, com números bem preocupantes. Mas, aqui no Brasil, eram casos isolados, diferente do que está acontecendo agora, que costumeiramente ouvimos falar.

O segundo ponto de avaliação é a ocorrência do bullying, que é um dos principais motivos que levam a esse tipo de ação. Contudo, não vem de uma causa isolada, diversas vezes um massacre é precedido por transtornos mentais, de sofrimentos, abusos físicos e psicológicos que o agressor sofreu. Então, todos os fatores, em conjunto, geram o estopim para o cometimento desse crime. Por isso, ficar atento ao comportamento de jovens e crianças é essencial, assim como saber que tipo de conteúdo ele consome.

Os pais podem ser punidos pelo crime do filho menor?

A Constituição Federal prevê que a proteção das crianças e dos adolescentes é dever da família, do Estado e da sociedade, para que se evite colocá-las em situações traumáticas ou que podem desencadear consequências graves e até irreparáveis. Agora, se uma criança ou adolescente comete um crime, é o próprio autor que vai responder pelos crimes. Porque a pena de um crime não passa de uma pessoa para outra, salvo as exceções em que há um conluio, uma série de desígnios para o cometimento de um crime, mas são raríssimas exceções.

No entanto, se ocorreu algo grave, e isso decorreu de uma eventual omissão dos pais, os responsáveis podem ser responsabilizados, até em âmbito cívico, pelos atos dos filhos. Mas, cada caso é um caso, e será avaliado na justiça.

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