Reconduzida ao cargo de secretária de Educação do Distrito Federal, Hélvia Paranaguá foi a convidada desta terça-feira do programa CB Poder — parceria entre Correio e TV Brasília. Em entrevista ao jornalista Carlos Alexandre, a secretária informou que projetos inovadores, tanto em termos pedagógicos como de tecnologia, serão implementados na rede pública de ensino do Distrito Federal. Segundo ela, estão previstas inaugurações de duas escolas técnicas no DF: uma em Santa Maria, que iniciará as atividades em 2023, e outra no Paranoá. Além disso, entre outros projetos, a gestora anunciou a implementação de uma incubadora de startup no DF, onde a capacidade empreendedora dos estudantes poderá ser estimulada.
A senhora ingressou no GDF em julho de 2021, no meio da pandemia, um momento complicado, havia alertas importantes a serem considerados. Qual o balanço que faz desse um ano e meio de gestão?
Não foi fácil. Trazer os alunos para o ambiente escolar depois de um ano e meio de aula remota foi um desafio grande. Até eles se sentirem novamente no ambiente escolar. Muitas crianças nunca tinham ido à escola, por exemplo. Algumas crianças iriam iniciar a alfabetização ou jardim de infância em 2020, isso foi interrompido. Elas não tinham a vivência escolar, a socialização. Houve uma série de problemas de violência (no retorno). Eles estavam estressados por conta do confinamento necessário. A gente conseguiu, aos poucos, estabelecer trabalhos com eles, trouxemos para dentro da secretaria outras pastas e montamos um comitê com foco em cultura de paz. A Saúde contribuindo, a Segurança Pública contribuindo, a de Justiça e a de Juventude. Tivemos apoio do GDF nesse combate à violência escolar.
O que tem a dizer sobre o desempenho escolar? Por que falar em violência em sala de aula?
Em um ambiente onde as crianças estão muito agitadas, com vários episódios de violência, fica difícil fazer uma recomposição das aprendizagens. Durante a pandemia, o mundo inteiro sofreu. No início de 2022, fizemos uma grande avaliação na rede, desde o primeiro ano até o EJA (Educação de Jovens e Adultos). Todas as etapas passaram por uma avaliação diagnóstica. Verificamos que houve uma perda grande das aprendizagens. Mas, diante do quadro, ficamos felizes com o resultado do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), a avaliação aplicada pelo MEC (Ministério da Educação) onde descobrimos que, mesmo todo mundo tendo caído nas aprendizagens, a gente ficou numa situação privilegiada. A gente comemora um pouco, mas ainda está longe dos quadros que a gente quer. Começamos uma busca ativa dos alunos que não retornaram. Agora, estamos com um projeto junto com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Eles têm uma expertise grande na área da busca ativa e recomposição das aprendizagens. Estão nos ajudando gratuitamente. Eles têm muita experiência em países africanos e latino-americanos. Você não recompõe em um ano. A perda (provocada pela pandemia) pode representar entre quatro e cinco anos de atraso. A gente vai levar mais um tempo, mas estamos otimistas, porque, hoje, temos toda a rede mapeada. Nós sabemos exatamente o número de alunos que precisam ter um tratamento mais individualizado para que possam recompor as aprendizagens.
Quais são as prioridades que pretende alcançar nesse seu segundo momento à frente da Secretaria de Educação?
Apresentamos agora o plano de governo e está sendo discutido no governo de transição. É importante para mostrar para as outras secretarias e para o governo o que cada área pretende fazer. Temos alguns projetos bem interessantes. Estamos colocando a fase de agora como a de inovação. O período da pandemia, onde os alunos ficaram em casa, o GDF aproveitou para dar uma boa arrumada nas escolas. As escolas passaram por uma série de reformas, foram manutenidas quase que na totalidade, aquelas que realmente precisavam. Tem três em Samambaia que partimos para a reconstrução, escolas antigas, que o pessoal chamava escolas de lata e de módulo. Foram colocadas abaixo e a gente vai reconstruir. Chegou o momento de inovar.
Um dos pontos relativos à inovação tem a ver com sustentabilidade nas escolas. O que vocês estão preparando?
Fizemos dois projetos pilotos na rede de substituir a energia convencional pela energia fotovoltaica e foi um sucesso. Está previsto para pagarmos, até dezembro, R$ 27 milhões de energia para cobrir todas as escolas e os prédios próprios da secretaria de Educação, como coordenação regional do ensino, Sedes e tal. Então, em quatro anos, daria para pagar esse investimento. Seria um pay back.
As escolas passariam a usar energia fotovoltaica? Não seria preciso fazer reformas?
Estamos fazendo projeto para ver. Pode ser que algumas escolas necessitem de ajustes no telhado. Não são todas as escolas. Estou aprendendo sobre a matéria. Por exemplo: escolas grandes como o Elefante Branco, como a Eape (Subsecretaria de Formação Continuada dos Profissionais da Educação), que tem 11 mil metros de área construída, um telhado reto e propício para receber as placas. De repente, a energia que vai ser captada na Eape serve para mais três ou quatro escolas. Estamos preparando o termo de referência para a contratação de uma empresa que vai desenvolver esse projeto. No Cemi (Centro de Ensino Médio Integrado) do Gama, a média de pagamento mensal era de R$ 4.300 e caiu para R$ 1.200. É uma economia significativa para a rede pública de ensino para que possamos usar esse recurso e investir em outras áreas na secretaria, com outros projetos pedagógicos.
O que vocês pretendem fazer com relação às escolas técnicas?
O governador Ibaneis sempre se preocupou em dar uma opção para o aluno que não quer ingressar na universidade. Temos alguns dados de institutos que pesquisaram (esse tema). Dos alunos que concluem o ensino médio, só 21% concluem o curso superior. Onde estão os outros 79%? A gente precisa dar uma formação para que esses meninos não fiquem à margem. Com esse foco no ensino profissionalizante e técnico, estamos concluindo mais de duas escolas técnicas. Vamos ampliar bastante, para 2023, a oferta de mais cursos técnicos.
Onde serão as escolas?
Uma em Santa Maria, que já está sendo concluída agora, já vai ser iniciada em 2023. Inclusive, com alguns cursos diferentes como o curso de cuidadores de idosos. As pessoas estão vivendo muito, a medicina avançou e, com isso, as pessoas estão mais longevas por conta de alimentação saudável e cuidados com a saúde. Surgiu esse nicho. Estamos trabalhando no sentido de colocar cursos que tenham necessidade no mercado. Recentemente, conversei com uma CEO na área de RH, da Raia Drogasil. Ela falou que eles têm carência enorme na área técnica de farmácia. Então, a gente vai descobrindo onde tem necessidade, o Sebrae tem trazido essas informações. Nós vamos ofertando dentro da necessidade. A outra escola será no Paranoá. Temos, por exemplo, a nossa Escola de Sabores Oscar Niemeyer, voltada para a área de gastronomia. Os alunos estão fazendo panificação.
Falando sobre professores, estamos com novidades em relação a isso. Contratação de mais docentes. Como está isso?
Estamos com o concurso que já foi realizado, está em análise. Queremos chamar (os aprovados) até abril. São mais de 4 mil professores, contando com cadastro reserva. Vamos começar a chamar tão logo seja homologado.
As deficiências maiores são em matemática?
Exatas. Matemática, biologia, física, química. Mas também temos na área de línguas, língua inglesa, espanhol, artes. Precisamos repor o quadro de aposentados também.
Quantos professores na rede?
Mais de 24 mil professores efetivos e 14 mil contratos temporários. São 38 mil profissionais no magistério público.
A senhora tocou em um ponto bem interessante que parece que vai marcar o seu segundo momento à frente da secretaria que é a inovação. Por que essa é a palavra-chave nesse momento da sua gestão?
Com a pandemia, o aluno ficou em casa muito no computador e no celular, se não estavam fazendo a matéria, estavam falando com os amigos. No retorno deles, percebemos que eles estavam querendo inovação, uma aula mais interessante do que a aula convencional que não dava mais para continuar só com o modelo antigo. Estamos querendo inovar o modelo de alunos sentados um atrás do outro, comum nas escolas desde o século 19, e tentar colocar ambientes onde os alunos possam fazer círculos e interagirem melhor. De certa forma, temos escolas do século 19, professores do século 20 e estudantes do século 21. Precisamos trabalhar para encurtar a defasagem de conhecimento.