Fortalecimento da diversidade e representatividade negra e indígena nos muros e painéis escolares. Esse é um dos eixos trabalhados pelo projeto Taguatinga Plural — Educação Antirracista. A proposta foi construída por professores de 11 escolas públicas da regional de ensino. A iniciativa, que abrange os ensinos infantil, fundamental e médio, visa reconhecer o papel da educação na superação do racismo. Marca, ainda, o Mês da Consciência Negra, que tem como principal marco o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares.
Com 750 alunos dos turnos matutino e vespertino, o Centro de Ensino Fundamental (CEF 10) de Taguatinga foi um dos colégios que integrou os estudantes para colorir as salas de aula com desenhos, mensagens positivas e pedidos de respeito à população negra. A atividade pedagógica é desenvolvida desde fevereiro deste ano.
"A voz de minha bisavó/ecoou criança/nos porões do navio./ecoou lamentos/de uma infância perdida." Esse trecho da poesia Vozes-mulheres, da poeta negra Conceição Evaristo mostra a importância do projeto para os participantes, como Beatriz Farias de Souza, 12 anos. Cursando o 6º ano, ela fou uma das alunas que fez um autorretrato com destaque para os cabelos cacheados, o nariz arredondado e a cor da pele, dos quais ela se orgulha. "Quando eu tinha 6 anos, minha autoestima era muito baixa porque eu era muito magra, falavam mal do meu corpo e do meu cabelo. Mas, durante a pandemia (da covid-19), quando passei a me olhar no espelho com mais carinho, li muitos livros sobre raça negra e sobre o sofrimento causado pelo bullying", diz a jovem.
O projeto tem como base legal o artigo 26-A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que tornou obrigatório, em 20 de dezembro de 2008, o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados.
A aluna do 8º ano Taís Araújo, 14, colocou em prática a literatura e cantou para os colegas os versos de "Eu Sou", de Negra Li e Washington Duarte, no auditório do CEF 10. "É bom passar essa mensagem da música que fala sobre racismo e beleza negra para as pessoas, porque não gosto de coisas erradas", opina a adolescente, que começou a cantar há um ano.
Para subsidiar os trabalhos, o comitê técnico do projeto — formado pela professora Elna Dias, Aldenora Macedo e Adeir Ferreira — elaborou o e-book Taguatinga Plural: Educação Antirracista na Prática. O material apresenta as práticas pedagógicas sobre o tema desenvolvidas na coordenação regional. "A gente quer que o antirracismo esteja em todos os campos do conhecimento para haver um diálogo construído dentro da escola", explica Elna Dias, responsável pela ação ao lado do coordenador da Regional de Ensino da região, Murilo Marconi.
Saiba Mais
Artes
As atividades são multidisciplinares e as artes têm um papel importante. Na biblioteca e na Sala da Esperança (utilizada para trabalhos pedagógicos), os alunos confeccionaram tsurus — origamis da cultura japonesa que representam a paz —, que foram pendurados no teto junto de recados otimistas para 2023. Os estudantes não escondem a empolgação ao falar sobre as atividades desenvolvidas neste mês.
Maria Laura Medeiros de Barros, 11, do 6º ano, desenhou a palavra "carinho", porque não vê o pai há quase dois anos, desde quando ele se separou da mãe da estudante.
Um mundo com mais gentileza é o que Ana Ruth Araújo, 11, também do 6º ano, pede à população negra no dia a dia. "Sinto falta disso porque presencio um tratamento diferente da sociedade com os negros em relação aos brancos", diz. Para Laura da Silva, 13, do 7º ano, é importante praticar a arte e a leitura desde cedo. "Foi muito bom participar dessas atividades porque percebi o papel que os brancos também têm na luta antirracista", opina
Professora de artes, Ana Manuela Farias Regis crê na disciplina como uma forma de expressão dos jovens, que são vítimas de racismo ou alvo de chacota por terem sido criados sem a presença paterna. "Quando fiz trabalho de videoarte, a ideia era trazer as intervenções mesmo sobre o que aguentam todos os dias na escola. Então, falaram de gordofobia e do cabelo, por exemplo, o que envolve uma questão afetiva que eles têm", detalha.
Segundo a vice-diretora do CEF 10 de Taguatinga, Samíramis Queiroz, o projeto existe há três anos e ajudou a diminuir os insultos em sala de aula. "Futuramente, vão criar os filhos e falar para os amigos que temos que respeitar as pessoas negras, que não devem ser tratadas diferentes dos outros", analisa a educadora.
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