Revitalização

Praça dos Orixás: comunidades cobram promessa de recuperação

A denúncia de descaso com o espaço foi feita em reunião realizada com o governador do DF, Ibaneis Rocha há um ano. Entre as ações prometidas estão a restauração das esculturas e a criação de política de segurança para o local

Alvo de atos de intolerância religiosa há anos, a Praça dos Orixás, está com a integridade em risco. Na semana de realização do Festival São Batuque 2022, uma das mais tradicionais celebrações afro-candangas que tem a praça como principal ponto de atividades culturais, comunidades de raízes africanas começaram a pressionar o governador reeleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), para cumprir a promessa de revitalização do local. Entre as ações prometidas em 2021, estão a restauração das esculturas e a criação de política de segurança para o local.

De acordo com o Coletivo de Yás do DF e o Instituto Rosa dos Ventos, que ocupam a Praça com um calendário anual (Festas das Yabás, Festa das Águas e São Batuque), junto com outras entidades locais, a denúncia de descaso com o espaço foi feita há mais de um ano, em reunião realizada com o governador, em 27 de setembro de 2021. Porém, ainda não houve resposta ou ação concreta diante do pedido. “Na reunião, Ibaneis pediu para dar segmento à licitação da reforma da praça, mas isso não foi feito. Todas as desculpas burocráticas apareceram”, diz Stéffanie Oliveira, presidente da Rosa dos Ventos.

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De acordo com Stéffanie, a revitalização é um pedido constante da população desde 2015. “A praça é um dos poucos lugares públicos com acesso ao lago no DF, e que faz referência à cultura das matrizes africanas. É um espaço que tem um calendário tradicional, de muita importância para as culturas tradicionais de terreiro”, explica. A presidente do instituto diz, ainda, que já surgiram planejamentos de reparos para o local, mas nada é colocado em prática. “Tinha uma reforma de quiosques e banheiros prevista, assim como um projeto de aumento do espaço, mas nada foi pra frente”, completa.

O encontro com o governador ocorreu no Palácio do Buriti com a participação dos secretários de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, e de Justiça e Cidadania na época, Marcela Passamani. Na ocasião, o chefe do Executivo local reiterou a necessidade de manter um ambiente de boa convivência entre todas as religiões no Distrito Federal. “Sempre estaremos de portas abertas para receber todos os representantes”, destacou.

Descaso

A Praça dos Orixás tem 16 estátuas, que representam as divindades africanas. Elas foram feitas pelo artista baiano Tatti Moreno e são similares às que flutuam no Dique do Tororó, em Salvador. Em agosto de 2021, uma das esculturas das divindades africanas, a estátua de Ogum, amanheceu incendiada. O governador Ibaneis Rocha visitou o local dois dias depois da depredação e repudiou a ação. No ano-novo de 2015, a estátua de Oxalá também foi queimada e, atualmente, uma roupa feita de TNT esconde os estragos na escultura.

Sacerdotisa, a Yalorixá Darilene Ayra lamenta o descaso do governo com as matrizes africanas. O abandono da praça, de acordo com a mãe de santo, mostra a fragilidade do estado laico. "Quando temos outras religiões, a segurança e o apoio sempre são mais eficazes. Há um desinteresse notório. Nossas vozes não são levadas a sério quando vamos, organizadamente, pedir e fazer reivindicações”, diz. Para a Yalorixá, a questão fragiliza a cultura. “As pessoas sabem que não temos apoio e veem nisso uma oportunidade para nos agredir e cometer atrocidades em locais que comungamos a fé, como é o caso da Praça”, diz.

O Correio procurou o Governo do Distrito Federal (GDF) para esclarecimentos. Em nota, a Administração Regional do Plano Piloto informou que existe, na Novacap, em análise, projeto elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEDUH) de uma reforma de urbanização da Praça dos Orixás, com deck de madeira, novo acesso de veículos pelo Setor de Clubes Esportivo Sul - SCES, que evitará a necessidade de ir ao Lago Sul para se entrar na Praça, novo desenho para o estacionamento e paisagismo e ainda um anfiteatro.

"Na segunda quinzena de novembro será solicitado à CEB a reposição das lâmpadas queimadas e na primeira quinzena de dezembro, 2022, a Administração Regional do Plano Piloto por meio de sua equipe da COLIC/DIROB/GEMAC irá fazer a manutenção das bases das imagens com pintura, para reparar as manchas de fuligem da combustão de velas que são posicionadas indevidamente junto às bases das imagens e que contribuem para deterioração do patrimônio". Em nota, a pasta informou que considerando fragilidade já comprovada, "o uso de velas no local deveria ser evitado pela população, mesmo que posicionadas junto ao piso". Quanto às imagens, a Administração Regional está em tratativas com o escultor baiano Tatti Moreno, negociando uma forma de restauração e reposição das mesmas.

"A Novacap esclarece que esta em análise junto à Diretoria de Urbanização o processo número 00390-00011610/2017-21, por se tratar de projeto de paisagismo".

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