Julgamento

Júri absolve acusados de matar jovem espancado no Guará: 'Não foi homicídio'

Nesta quinta-feira (17/11), a Justiça absolveu quatro acusados de homicídio duplamente qualificado. Em setembro, outras três pessoas também foram inocentadas no caso envolvendo a morte de Daniel Junio Rodrigues, vítima de agressões em uma praça

Terminou, nesta quinta-feira (17/11), o julgamento dos réus acusados pelo assassinato de Daniel Junio Rodrigues Freitas, 24 anos, vítima de espancamento em uma praça do Guará 2, na madrugada de 10 de outubro do ano passado. No fim desta manhã, quatro pessoas foram julgadas no Fórum Desembargadora Maria Thereza Braga Haynes, no Guará. O Conselho de Sentença decidiu pela absolvição de todos e o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) entendeu não haver provas da materialidade para a condenação. Em 29 de setembro, outros três acusados também foram julgados e absolvidos.

À época do crime, a Polícia Civil (PCDF) prendeu e indiciou sete pessoas. As investigações revelaram que os acusados, ao saírem de um bar na QE 40, discutiram e deram início ao espancamento de Daniel, desferindo chutes e pisadas, que levaram à morte. O crime chocou os brasilienses, após um vídeo gravado por uma testemunha circular nas redes sociais. Na filmagem, a vítima aparece caída na calçada, enquanto sofre agressões de um grupo de homens.

No entanto, a defesa dos sete réus — composta pelos advogados Afonso Lopes, Marília Brambila, Leonardo Carvalho Carvalho e Erickson Reis Maia — defendeu a tese de que, a causa da morte de Daniel, não se deu pelas agressões, mas, sim, ao sofrer um traumatismo craniano no momento em que correu, tropeçou no meio-fio e bateu a cabeça contra o chão.

Em audiência nesta manhã, o MPDFT pediu pela absolvição dos outros quatro réus por não haver materialidade para condená-los. Por quatro votos a um, os jurados do Conselho de Sentença acataram ao pedido do Ministério Público e, com base nas provas apresentada pelos advogados, inocentaram os presos.

Pai e filho soltos

A primeira sessão de julgamento acerca do caso ocorreu em 29 de setembro. Luiz Alves de Araújo, 46, o filho dele, Gustavo Soares, 20, e Kelvin Souza, 20, foram os primeiros, dos sete réus, a serem escutados no tribunal. O primeiro a prestar declarações foi Luiz. Ele relatou que decidiu comemorar o aniversário do filho no bar Oásis, na QE 40. Inicialmente, a festa ocorreria em um outro local, próximo onde mora, no conjunto habitacional Lúcio Costa. “Ele (Gustavo) disse que seria melhor no Oásis, porque era maior e caberia mais gente. Falei que não ia ter muito dinheiro, mas ele decidiu chamar poucas pessoas, em torno de nove e 10.”

Na noite de 9 de outubro, Luiz, o filho Gustavo e a mãe acionaram um amigo motorista de transporte por aplicativo para buscá-los em casa e levá-los até o bar. Em depoimento à Justiça, o motorista disse que buscou a família por volta das 20h30. Enquanto estavam no local bebendo e comemorando, segundo Luiz, ele foi ao banheiro, quando foi surpreendido por Daniel. "Ele disse uma coisa comigo, mas não entendi. Depois, falou novamente, e eu também não ouvi, porque o som estava muito alto. Foi quando ele me deu um soco no rosto e eu caí ao chão", afirmou.

Luiz disse que, ao se levantar, ainda tonto, viu o filho pedindo para os dois se acalmarem, momento em que os seguranças do estabelecimento expulsaram Luiz, o filho e os colegas que estavam na festa. “Quando saímos, o Daniel foi para fora com mais quatro caras e com garrafas de vidro nas mãos. Eles começaram a tacar essas garrafas na gente.”

Em juízo, o réu disse que houve uma troca de tapas entre o grupo de Daniel e o grupo de Gustavo e, quando se deu conta, viu Daniel já caído ao chão. No vídeo, é possível ver Luiz desferindo dois chutes contra o quadril da vítima. No tribunal, o acusado confessou que deu esses dois golpes, mas que não tinha nenhuma intenção de matá-lo. “É complicado. Era para ser um dos dias mais felizes da nossa família e estamos vivenciando essa tragédia”, finalizou.

Gustavo reforçou a versão do pai. Em um depoimento de quase 30 minutos, o réu acusou Daniel de tê-lo xingado de vagabundo dentro da boate e dito que o pai dele era um traficante. Contou, ainda, que a vítima ameaçou a família dizendo que buscaria uma arma de fogo dentro do carro, que estava estacionado em frente ao bar. “Não dei nenhum chute nele. A todo momento, fiquei ao lado da minha mãe acalmando ela. Eu nunca vi o Daniel.”

Kelvin, por sua vez, também alegou que Daniel estaria com garrafas na mão para agredir o grupo. “Acabaram me segurando para não ir para cima dele.” No entanto, apesar de dizer em juízo que não teve participação no espancamento, Kelvin é um dos jovens que aparece de boné branco e blusa preta chutando Daniel.

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