Solidariedade

Velhinhos em abrigos do DF aguardam presentes de Natal

Idosos em situação de vulnerabilidade do Distrito Federal falam dos seus desejos natalinos. Os abrigos esperam doações solidárias para que eles possam ter um final de ano mais feliz e confortável

Muitos aproveitam as festas de fim de ano para rever familiares e amigos queridos em momentos de união. O aconchego das ceias natalinas nos fazem lembrar que não estamos sozinhos, que amamos e somos amados. Mas nem todos têm a chance de viver essa realidade. Esse é o caso dos idosos em situação de vulnerabilidade do Distrito Federal, que vivem afastados de familiares. Então, para proporcionar experiências de afeto, abrigos da capital do país promovem campanhas de doações de presentes e itens básicos a fim de dar mais qualidade de vida aos velhinhos que passam por dificuldades de diferentes naturezas.

O Lar dos Velhinhos de Maria Madalena, por exemplo, está empreendendo uma campanha de apadrinhamento de idosos e de doações de itens necessários para uma ceia de Natal alegre e farta. Quem puder e quiser ajudar os 92 moradores do abrigo, localizado no Park Way, pode acessar o site: institutointegridade.org.br/natal. No endereço eletrônico, você pode conferir a lista dos itens para ceia e a de presentes para os longevos residentes da casa. Eles pedem camisas, sapatos, cuecas, vestidos, relógios, hidratantes e perfumes. Para efetuar a doação, basta entrar em contato pelo número (61) 98539-5962. O asilo fica na SMPW Trecho 3 Q1 Conjunto A S/N, no Núcleo Bandeirante.

Carlos Vieira/CB - 16/11/2022 Crédito: Carlos Vieira/CB. Cidades - Natal do Lar dos Vellhinhos Maria Madalena. Na Foto: José Isidoro dos Santos, Zuíla Magalhães e Margarida Alves de Sousa ( toca lilás)

"O que as pessoas tiverem para me dar, eu agradeço", diz Margarida Alves de Sousa, 78 anos, uma das internas do lar. No entanto, na lista de doações, a cearense apontou sabonetes da Natura, perfume de alfazema e hidratante como os presentes desejados. "Eu escolhi esses itens porque tenho alergia a muitos produtos e esses não me causam coceira", revela. Com jeito extrovertido e uma memória invejável para datas, ela lembra o dia no qual chegou à instituição: 28 de agosto de 2020. Ela trabalhava como doméstica em uma residência de uma conterrânea de Ipu (CE), mas, pouco tempo depois de começar a pandemia, a patroa disse que não teria mais condições de cuidar de Margarida, que não tem filhos e nunca se casou. "Mas aqui é o melhor lugar que já morei", confessa.

Zuíla Magalhães da Silva, 76 anos, chama atenção pela maneira gesticulada e amável com a qual se comunica. Ela não economiza nos acessórios brilhantes e chamativos no pescoço, nos pulsos e nos dedos das mãos. A maranhense de Alto Parnaíba deseja ganhar de Natal um vestido M e uma sandália tamanho 35. A ex-doméstica foi casada por quase 30 anos e tem um filho que a visita esporadicamente. "Ele trabalha muito", explica. Com carinho e entusiasmo, ela lembra a época em que o filho, ainda pequeno, vendia exemplares impressos do Correio no Gama para juntar alguns trocados. "Não posso falar muito do meu filho, me dá vontade de chorar", murmurou. "Aqui, os velhinhos são muito bem cuidados. Tem tudo, desde o sabonete até a escova pro cabelo, e temos seis refeições por dia!"

O alagoano José Isidoro Santos, 73 anos, é menos falante do que as colegas de abrigo. Flamenguista, o time de torcida é a primeira pergunta que ele faz aos presentes. Para o Natal, deseja ganhar um boné, uma camisa G e um perfume. "Porque eu gosto", respondeu rapidamente ao ser perguntado sobre o motivo das escolhas. Isidoro mora no lar há dois anos, tem dois filhos e foi casado duas vezes.

Segundo o psicólogo do Maria Madalena Leonardo Tavares, o isolamento na pandemia fez a instituição perder visibilidade. Com a retomada das visitas solidárias e ações sociais, mais doações estão voltando a chegar à instituição. Só de fraldas são necessárias 340 por dia. Leite e proteína animal também são itens muito consumidos pelos internos. As visitas coletivas para ações sociais devem ser agendadas previamente pelo endereço de e-mail: lvmm.captacao@gmail.com. As individuais podem ser feitas de segunda a sexta, entre 15h e 16h, sem necessidade de agendamento prévio.

 

Sorrir para quê?

Em Sobradinho, o Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes também se prepara para as festividades do fim de ano. No entanto, a psicóloga e coordenadora da instituição Priscila Fernandes lembra que as necessidades ocorrem o ano inteiro. #Tododiaédiadecomer é o projeto de segurança alimentar do lar, com foco na proteína animal. Cada grupo de doadores fica responsável pelo almoço de um dia do mês. "Ainda temos poucos doadores e a carne já era cara antes. Agora, com a inflação, a situação ficou ainda pior", lamenta. Produtos de limpeza como sabão em pó, desinfetante e água sanitária são outras demandas urgentes.

O goiano Samuel Gonçalves Dias, 64 anos, um dos abrigados, quer um rádio de natal. "Pode até ser de pilha", ambiciona. No entanto, o seu grande desejo mesmo é fazer um tratamento odontológico. Ele perdeu todos os dentes. "Sorrir para quê? Sorrir é para quem tem dentes", lamenta. Samuel teve um AVC há oito anos e o lado esquerdo do corpo ficou paralisado. Os dois filhos e três netos passaram a ir menos ao abrigo depois da pandemia. "Eu gosto é de fazer minhas atividades. Fazemos exercícios todos os dias como a horta, e aulas de música e artesanato", conta o ex-mecânico de refrigeração.

"Deve ser mais ou menos um ano", diz, meio confusa, Luisa da Silva, 82 anos, quando tenta lembrar há quanto tempo está no Bezerra de Menezes. Ela gosta de viver lá, porque, segundo ela, tem muitas atividades estimulantes para fazer ao longo do dia. A mineira de Patos de Minas teve dois acidentes vasculares cerebrais (AVC) e os movimentos das pernas ficaram comprometidos. O segundo foi há cerca de um ano. Para o Natal, Luisa quer um perfume de alfazema e um vestido. "Mas nada muito curto nem muito longo. Pode ser no meio da canela, com cores alegres e estampado", detalhou. Ela conta que o filho, a nora e os netos vêm de vez em quando visitá-la, mas a correria do dia a dia faz com que passem tempo sem ir ao lar.

Para a festividade do fim de ano, Manoel Quirino, 77 anos, quer "um bocado de coisas". Após uma pausa silenciosa, ele especifica: "Um relógio e uma camisa com bolso para eu poder colocar o celular dentro". O movimento das mãos é limitado por causa de uma lesão na coluna causada por acidente em um garimpo no Mato Grosso, em 1991. A diabetes o fez perder a perna direita. O piauiense tem duas filhas, que, de acordo com ele, não o visitam porque têm crianças pequenas e trabalham muito. "Então, eu disse para elas que não precisavam vir, porque estou sendo bem cuidado aqui." Ele mora no asilo há 12 anos.

Os interessados em contribuir com o #Tododiaédiadecomer podem entrar em contato com a instituição pelos números (61) 3591-3039 e 98434-9834 (WhatsApp). Também pode ser pelo e-mail contato@lardosvelhinhos.org.br. As visitas estão restritas a familiares dos abrigados, mas as doações podem ser entregues no local das 9h às 18h, em qualquer dia da semana. O Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes é localizado na Quadra 14, Área Especial 1, em Sobradinho.

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Carlos Vieira - Lar dos Vellhinhos Bezerra de Menezes Na foto: Luisa da Silva, Manoel Quirino (chapéu) e Samuel Gonçalves.
Carlos Vieira - Lar dos Vellhinhos Bezerra de Menezes Na foto: Luisa da Silva, Manoel Quirino (chapéu) e Samuel Gonçalves.
Carlos Vieira - Lar dos Vellhinhos Bezerra de Menezes Na foto: Luisa da Silva, Manoel Quirino (chapéu) e Samuel Gonçalves.
Carlos Vieira/CB - José Isidoro, 73, é flamenguista e gosta de usar bonés
Carlos Vieira/CB - Zuíla, 76, quer se sentir mais bela, com figurino novo
Carlos Vieira/CB - 16/11/2022 Crédito: Carlos Vieira/CB. Cidades - Natal do Lar dos Vellhinhos Maria Madalena. Na Foto: José Isidoro dos Santos, Zuíla Magalhães e Margarida Alves de Sousa ( toca lilás)
Carlos Vieira/CB - 16/11/2022 Crédito: Carlos Vieira/CB. Cidades - Natal do Lar dos Vellhinhos Maria Madalena. Na Foto: José Isidoro dos Santos, Zuíla Magalhães e Margarida Alves de Sousa ( toca lilás)
Carlos Vieira/CB - Aos 78, Margarida adora se sentir perfumada