Cultura

Ao Correio, Secretário de Cultura fala sobre planos para o segundo mandato

Bartolomeu Rodrigues disse no CB.Poder que trabalha para sensibilizar o governo local sobre a importância de um concurso público na secretaria. O resultado da licitação para obras da Sala Martins Pena será divulgado hoje

Um dos secretários do governador Ibaneis Rocha (MDB), Bartolomeu Rodrigues foi o entrevistado do CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — de ontem. Na entrevista ao jornalista Carlos Alexandre de Souza, o chefe da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal agradeceu o chefe do Executivo local por reconduzi-lo à pasta para o próximo mandato e detalhou planos para o Teatro Nacional Cláudio Santoro, além do desejo de um concurso público na secretaria. "Eu estou trabalhando nesse sentido para que a gente sensibilize (o governo). Internamente, a gente sabe que o governo tem limitações, mas também compreende essa importância (do concurso público na cultura). Hoje, a gente chega em condições de apresentar resultados que justifiquem esse investimento maior na cultura do Distrito Federal", disse.

Confirmado como secretário para 2023, o que você tem a dizer sobre esse novo momento da pasta?

Olha, em primeiro lugar eu tenho que agradecer aqui a confiança do governador Ibaneis Rocha. Espero honrar essa confiança que tenho desempenhado ao longo dos últimos anos e, também, corresponder a expectativa da cidade, sobretudo daquelas pessoas que financiam a cultura, que é a população, o contribuinte e os fazedores de cultura. Estou aí para trabalhar.

Um dos pontos interessantes da sua gestão foi o vínculo entre a cultura e a economia criativa. No seu primeiro mandato como secretário, você trabalhou muito forte para isso. Por que é tão importante fazer essa relação?

Cultura é tudo. Brasília é uma cidade eminentemente cultural, e cultura está na nossa formação, na nossa identidade. Nós somos seres culturais, essa é a verdade. Mas, a cultura assume um papel assim muito relevante não só na formação, mas também na reconstrução e na construção de uma de um de uma sociedade. Hoje ela tem um papel econômico muito importante e, por isso, dá o nome à secretaria. O que é a economia criativa? É exatamente esse setor que a cultura alavanca. A cultura não é só entretenimento, mas quando é, ela movimenta uma cadeia de agentes culturais de pessoas que geram empregos e renda. Vamos pegar o carnaval, por exemplo. Ele movimenta muito a economia de Brasília. Podemos pegar o que for, e todos esses eventos geram renda e emprego na capital. Agora que estamos saindo da pandemia, apesar desse susto novo (da variante BQ.1), bastou que pudéssemos respirar que a cidade transpira eventos. O povo quer ir às ruas ocupar os espaços culturais. Isso significa movimentar uma cadeia econômica muito forte. Brasília respira cultura.

A economia criativa supõe uma maior participação do setor privado. Eles estão
participando mais?

Eles poderiam participar mais. O Estado está fazendo a sua parte. Nesses últimos 4 anos, podemos dizer o seguinte: nós não estamos a dever a nenhuma unidade da federação em termos de investimento na cultura. Para você ter uma ideia, nos últimos dois anos somente de fomento à cultura, nós tivemos algo em torno de R$ 400 milhões. Isso é muita coisa. Claro que poderia ser mais, mas foi um setor muito afetado, mas foi investimento direto. Nós temos muita profissão e mais de 2 mil projetos nesse momento em execução. Agora mesmo divulgamos o resultado do lote de projetos do Fundo de Apoio à Cultura. O Estado está fazendo a sua parte. E a iniciativa privada tem chegado. Nós também temos a lei de incentivo à cultura que é exatamente pra isso. A lei de incentivar a cultura é uma espécie de Lei Rouanet local. Inclusive até melhor do que a lei Rouanet, porque ela é mais ágil. Os recursos são menores, evidentemente, por ser uma lei federal (no comparativo), mas a lei no DF tem uma aplicação direta e significativa para as empresas que participam da lei que estamos incentivando, buscando setores empresariais, podendo ter benefícios enormes. Muitas empresas estão aderindo a lei no DF, como a Neoenergia, por exemplo. Investir em cultura em Brasília é o melhor negócio.

Por que investir em Brasília é considerado um bom negócio?

Porque Brasília é patrimônio cultural da humanidade. Segundo porque a nossa cidade está se tornando referência em todos os setores, em todas as linguagens culturais. Hoje, Brasília está se tornando referência nacional. Nesse momento, estamos tendo o 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, aqui em Brasília. Estamos sendo uma vitrine para o cinema brasileiro. E por quê? Brasília neste momento, por incentivo do governo, nós temos 27 longa-metragem sendo produzidos aqui. Você sabe quanto o Rio de Janeiro produziu e fomentou o estado do Rio de Janeiro para o ano passado? Foram cerca de 8 longa-metragem. O Brasil está olhando para cá. Temos dois filmes daqui competindo na amostra competitiva que concorrem com produções do país inteiro.

Quais serão suas prioridades nesse seu 'segundo mandato' na pasta?

Nós temos três prioridades. São prioridades definidas pelo governador. A primeira é o Teatro Nacional, assim como a segunda e a terceira. Amanhã (hoje) estaremos publicando no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) o resultado final da licitação da reforma do Teatro Nacional. Nós viramos uma página, que foi sofrida. O teatro está caminhando para 10 anos fechado. Não foi nós que fechamos, mas será o nosso governo que vai abrir por determinação do governo. Para que essa licitação saísse, via Novacap, foi um processo trabalhoso. Constatamos nesse processo a forma desorganizada como planejaram a reforma do Teatro Nacional no passado. Não estou aqui para apontar (o culpado), porque não é hora para isso. Agora é momento de olhar para frente. Para nós, para todos os efeitos, a reforma começou. Ela (a reforma) começou quando lançamos o edital.

Vocês trabalham com prazos?

Começaremos a reforma pela Sala Martins Pena. Os recursos que foram assegurados, fonte direta do DF, são R$ 55 milhões. Agora, começando (as obras) não iremos parar. Nós vamos fazer a obra toda, essa que é a verdade. Na semana que vem, nós estaremos reunidos com a equipe de arquitetos e engenheiros da Novacap para traçar um plano de trabalho para a Sala Villa-Lobos. Nesse sentido, estamos trabalhando junto com o Banco de Brasília (BRB) para ter um financiamento e recursos para darmos início, na sequência, nas obras da Villa-Lobos.

Voltando à questão da gestão. Estávamos comentando sobre o modelo ideal e cuidar desses patrimônios que estão aí?

O modelo ideal é aquele modelo que a gente possa agregar, trazendo a iniciativa privada. Como eu disse, tem a lei de incentivo à cultura que permite isso e também tem um marco regulatório das organizações sociais que é que nós estamos usando hoje. Por exemplo, o espaço Renato Russo está sendo assim (gestão compartilhada) e o Cine Brasília começamos essa experiência. O Estado sozinho não tem condições de gerir esses espaços. Para você ter uma ideia: o Cine Brasília, até pouco tempo atrás, você só pagava em dinheiro. Nós não temos condições de colocar uma maquininha para passar cartão. O Estado tem muitos obstáculos para isso. Agora que está com a administração privada, isso pode ser feito. E pode se fazer uma programação muito mais identificada com o público, sem muitas interferências. Então, eles têm total liberdade (iniciativa privada), mas o estado está ali supervisionando. É importante o Estado ter esses equipamentos na mão, porque são equipamentos tombados. Voltando ao exemplo do Cine Brasília, é um equipamento tombado e é obra de Oscar Niemeyer. Vamos caminhar para esse modelo (no Teatro Nacional para gestão compartilhada). A gente tem que caminhar para esse modelo, porque o Estado sozinho não pode fazer. Nós não vamos cometer os erros do passado, de deixar o equipamento largado.

Um dos problemas antigos da Secretaria de Cultura que muitos se falavam era a questão de pessoal, né? A dificuldade de se contratar, de ter servidores. Você tem algum plano para isso?

Nós estamos agora no período de transição. Existe necessidade sim (de contratar). Já temos um projeto de concurso. A gente precisa fazer isso. Um exemplo clássico disso é a Orquestra Sinfônica. Estou preocupado, porque o corpo da orquestra é composto de muitas pessoas que estão prestes a se aposentar. Nós precisamos fazer o concurso. Eu estou trabalhando nesse sentido para que a gente sensibilize (o governo). Internamente, a gente sabe que o governo tem limitações, mas também compreende essa importância. Hoje, a gente chega em condições de apresentar resultados que justifiquem esse investimento maior na cultura do Distrito Federal.

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