Os brasilienses estão empolgados e ansiosos para a Copa do Mundo de 2022, que será disputada no Catar, a partir de domingo. Há cinco dias do início, os torcedores já fazem o aquecimento para os jogos. Movidos pela paixão ao futebol, vizinhos e amigos se reúnem para colorir as ruas de verde e amarelo. Bandeiras, fitilhos e asfalto pintado compõem a decoração produzida com empenho para reunir a vizinhança e assistir o campeonato. O jogo de estreia do Brasil será em 24 de novembro, às 16h, contra a Sérvia.
Proprietário de uma loja de cortinas e persianas, Milton Caires, 57 anos, é o criador e o organizador da ornamentação da rua onde vive, no Conjunto K, na QNM 23, em Ceilândia Sul. Definido pelos vizinhos como um artista de mãos cheias, o morador estava com eles para adornar o local. "Domingo estará tudo pronto", garante, enquanto um amigo pinta a bandeira do Brasil no asfalto e outros prendem fitas nas grades do portão.
Milton não esconde a alegria de poder reunir pessoas e fazer da Copa uma grande festa. "Vai contagiando. Todo mundo é amigo e todas as copas a gente se junta na minha casa para ver os jogos.". Ele coloca a televisão na garagem e as cadeiras na rua para que a comunidade aproveite. "Essa turma aqui é diferente. Vem gente de tudo quanto é lugar", destaca. Para o empreendedor, a Copa terá um novo sentido este ano. "É importante para esquecer esses problemas de política e coronavírus", avalia.
Em Ceilândia há 40 anos, Milton é conhecido por todos e antecipa que também vai colocar um manequim caracterizado com o uniforme do Brasil, segurando uma bandeira, ao lado da TV, para reforçar a torcida. "Vai ser bacana. Em todas as copas, o Brasil é forte, mas perde por detalhes. Mas, desta vez, acho que vai dar certo."
O amor de Milton pela Copa também contagia o sobrinho, Kassiano Caires, 26, que cresceu vendo o tio recebendo pessoas e decorar a casa para ver o mundial. Hoje em dia, o rapaz ajuda a mobilizar a rua para ninguém perder sequer um lance da Seleção Brasileira em campo. Ele revela que a comunidade faz bolão e, no dia de jogo, cada um leva a bebida de preferência, se acomoda e torce junto. "Que essa Copa seja melhor do que as anteriores."
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Trabalhando com o tio, Kassiano relembra que essa tradição acontece desde que nasceu. "Antigamente, era uma televisão pequena, com 14 polegadas, mas juntava todo mundo para assistir", recorda. Para ele, o mundial vai trazer alegria aos brasileiros. "A eleição separou muita gente, acaba que a Copa chega para juntar a galera novamente", ressalta. "O hexa tem que vir, porque senão, daqui a pouco, vai ter manifestação pelo título", brinca.
Em frente à casa de Milton, no Bar do Neguinho, os vizinhos se revezavam para organizar a decoração. O dono, Nildo Oliveira, 50, diz que todos contribuem com a compra dos materiais. "É o Milton quem encabeça a ideia. Já são quatro copas que enfeitamos a rua direto", lembra. "O pessoal se aproxima mais. Aqueles que mal conversam com outros, quando chega esta ocasião, se falam", comemora Nildo, que tem fé no hexa.
Tamanha esperança no time do técnico Tite tem motivo. A equipe tem a melhor campanha da história nas eliminatórias da América do Sul, com um aproveitamento de 88%, com 14 vitórias e três empates.
Nova geração
Há um mês preparando a rua, na QNJ 38, de Taguatinga Norte, os amigos Marcus Vinícius Rodrigues, 24, Thiago Oliveira, 30, João Pedro Lima, 16, Marco Antônio Vieira, 20, e Anna Beatriz Rodrigues, 24, estão para lá de entusiasmados. Desde a Copa de 2014, no Brasil, tomaram a frente e mobilizam todos para colaborar com os enfeites. Os jovens se conhecem desde pequenos e têm o mesmo gosto pelo futebol.
A casa de Marcus Vinícius é o ponto de encontro dos amigos para produzir os adornos e assistir às partidas. O costume antecede o grupo de jovens. "A ideia passa de geração em geração. Meus tios e meu pai sempre moraram aqui e tiveram o hábito de arrumar a rua para a Copa", pontua, explicando que ele e os colegas passam nas residências para fazer a vaquinha e bancar as despesas.
Ele recorda que, na copa anterior, colocaram um telão na rua. "Neste ano, estamos pensando em fazer a mesma coisa, mas acho que vamos assistir os jogos aqui em casa mesmo", adianta o torcedor do Botafogo, que vê no atacante Neymar o "cara da seleção".
O publicitário Thiago Oliveira, 30, confessa que dá muito trabalho toda esta movimentação para embelezar a QNJ 38, mas vale a pena. "Com todo mundo ajudando dá certo", destaca. Ele recorda os dois últimos desempenhos do Brasil na Copa, mas acredita que, desta vez, a taça fica por aqui. "Nessa a gente está mais empolgado, tem que vir o hexa", sonha.
Flamenguista, Thiago aprovou a convocação do atacante Pedro. "Ele vai fazer pelo menos três gols no primeiro jogo", aposta. Thiago tem o palpite de que a final terá o Brasil, de certeza, e possivelmente a França. "Independentemente de quem for para a final com o Brasil, vai perder", confia.
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