Cercado de mistérios, o sequestro do empreiteiro Daniel Carvalho da Silva, 31 anos, ultrapassa 300 horas. Em trabalho ininterrupto, policiais civis da Divisão de Repressão a Sequestros da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (DRS/Corpatri) colhem depoimentos e provas para chegar ao paradeiro da vítima, que desapareceu na noite de 26 de outubro ao sair de uma igreja em Ceilândia Norte. O Correio apurou que dois suspeitos de envolvimento no crime, de 30 e 31 anos de idade, foram presos preventivamente após audiência de custódia. A informação, no entanto, não foi confirmada pela polícia. Em uma entrevista exclusiva à reportagem, os advogados de um deles deram uma outra versão dos fatos e alegaram que Daniel "sumiu" propositalmente por acumular dívidas com agiotas. Por outro lado, as investigações da polícia dizem o contrário e revelam que o sequestro foi totalmente planejado e "bem orquestrado" pelos autores.
Pai de um filho pequeno, Daniel mora em uma casa, na QR 308 de Samambaia, e ganha a vida com a venda de imóveis. Por oito anos, ele manteve relacionamento com uma jovem, de 29 anos. O casal estava separado, mas buscava reconciliação. Na noite de 26 de outubro, os dois estavam em igrejas diferentes e marcaram de se encontrar para irem juntos a um show. Sem se identificar, a mulher contou ao Correio que recebeu uma mensagem de Daniel dizendo que havia batido o carro. "Depois disso, ele não respondeu mais. Fui até a casa dele e ele não estava lá", disse.
De 26 a 28 de outubro, Daniel enviou mensagens curtas de texto via WhatsApp à ex, afirmando que estava tudo bem, mas que precisava "resolver uma coisa." Por volta das 19h30 do dia 28, o empreiteiro enviou uma mensagem de voz. "Ele disse que estava resolvendo uma situação, pois estava sendo ameaçado. Ele não tem antecedentes e não tinha dívidas ou guerra com ninguém. Depois desse áudio, ele mandou outra mensagem dizendo que me amava, amava o filho e a mãe. Parecia uma despedida", desabafou a ex, emocionada.
Nas conversas, Daniel pedia que a mulher não acionasse a polícia e, por isso, a jovem registrou boletim de ocorrência na quarta-feira passada. Depois disso, o celular dele só dá desligado e nenhuma outra mensagem foi enviada. "Por mais que tudo diga que ele não está vivo, eu preciso ter fé em Deus e me apegar na esperança. Ele precisa estar vivo", disse a mulher.
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Investigação
Antes de desaparecer, Daniel recebeu uma transferência no valor de R$ 120 mil referente à venda de uma casa. Nas redes sociais, o empreiteiro costumava publicar fotos com a caminhonete Amarok e com cordões e pulseiras de ouro. Segundo a ex-companheira, no dia que sumiu, ele usava peças avaliadas em cerca de R$ 30 mil.
O Correio apurou que, ao sair da igreja na noite de 26 de outubro, um carro encostou na caminhonete de Daniel, momento em que um suspeito desceu e assumiu a direção da Amarok. O veículo, que dispunha do equipamento de rastreio, registrou, até a noite do dia seguinte, os pontos por onde o carro passou: em Taguatinga Norte, no Entorno do DF e em Santa Maria. O rastreador, no entanto, foi desligado do carro por volta das 23h20 de 27 de outubro, segundo relato da ex-mulher.
Em 31 de outubro, surgiu uma nova pista crucial para as investigações. Um dos suspeitos presos pela Polícia Civil teria organizado a mudança dos móveis da casa de Daniel, de Samambaia para uma residência em Goiás. A polícia, no entanto, ainda procura a casa onde a mudança foi levada. Segundo a ex-mulher da vítima, todos os móveis foram levados do local, inclusive os armários. Restou apenas um guarda-roupas e um cooktop. "O que se sabe é que a residência não foi alugada em nome da vítima (Daniel)", frisou o delegado André Leite, chefe da Corpatri.
Uma testemunha contou à polícia que chegou a ver um dos suspeitos descendo da Amarok e, no banco do motorista, um outro homem moreno ainda não identificado, em Goiás. Para os advogados Hellen Costa e André da Mata, responsáveis pela defesa do preso, Daniel seria a pessoa que estaria dentro do veículo e que este seria o único fato que ligasse o cliente ao caso. Para a polícia, não há evidências de que fosse o empreiteiro dentro da caminhonete.
Cárcere e extorsão
Ao longo dos dias do desaparecimento de Daniel, a polícia constatou transferências de valores distintos feitos pela conta da vítima para outras contas. A maior delas foi no valor de R$ 5 mil. A conta de Daniel, que tinha R$ 120 mil da venda da casa, foi totalmente esvaziada. Para o delegado André Leite, não há dúvidas de que o sequestro foi planejado. "Sabemos que ele foi mantido em cárcere e extorquido. As investigações continuam", afirmou.
Os advogados de um dos suspeitos contam a versão de que Daniel teria fugido propositalmente por problemas de dívidas com agiotas. Segundo os defensores, o cliente teria apenas "ajudado" o empreiteiro na mudança e depois foi embora e não soube mais notícias do colega. "Vamos entrar com a revogação da prisão preventiva, porque nesse caso era para ser temporária por falta de provas. Ele tem trabalho e endereço fixo. Estamos trabalhando com todos os recursos para garantir a liberdade dele, pois o mesmo está preso injustamente", garantiram Hellen Costa e André da Matta.
Os dois suspeitos estão presos e passaram por audiência de custódia, onde tiveram as prisões convertidas em preventiva. Os dois estão lotados no Centro de Detenção Provisória 2 (CDP), no Complexo Penitenciário da Papuda.
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