CIDADANIA

Estudo mostra perfil das pessoas com deficiência e aponta disparidades

De acordo com estudo do IPEDF-Codeplan, renda é menor para pessoas com deficiência. Apenas 24,5% das que têm 14 anos ou mais trabalham. Entre as que estão em idade escolar, somente 63,5% frequentam colégios

Há 113.642 pessoas com algum tipo de deficiência morando no Distrito Federal, o equivalente a 3,8% da população local. O dado é do estudo "Pessoa com deficiência: educação, inserção no mercado de trabalho, mobilidade urbana e infraestrutura domiciliar", realizado para subsidiar a elaboração e a execução de políticas públicas para essa parcela da sociedade. O documento, divulgado nesta terça-feira (8/11), foi produzido pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF-Codeplan), com base na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), de 2021. 

Ações do poder público que contribuam para a melhoria da qualidade de vida e atendimento das necessidades das pessoas com deficiência (PCDs) em todos os níveis são uma demanda constante. Para se ter ideia, de acordo com o estudo, somente 24,5% com 14 anos ou mais estão trabalhando. Entre as que estão em idade escolar, apenas 63,5% frequentam alguma instituição de ensino.

Na análise por classes socioeconômicas, 6,6% da população das classes D e E têm alguma deficiência, perante 2% da população das classes A e B. A renda média do trabalho principal das pessoas com deficiência é menor que a das pessoas sem deficiência: R$ 2.246,96 e R$ 3.817,52, respectivamente. "As pessoas com deficiência estão mais localizadas em classes com renda mais baixa e isso mostra que há uma maior exposição dessa população a situações de vulnerabilidade e múltiplas formas de discriminação. Além disso, a relação da deficiência com a pobreza é bilateral. A deficiência aumenta a probabilidade da pessoa ter uma menor renda e a baixa renda pode aprofundar limitações provenientes da deficiência", analisa a coordenadora de Estudos e Pesquisas Quantitativas de Políticas Sociais do IPEDF, Acsa Guimarães. 

A pesquisa mostra, por exemplo, que somente 13,8% das PCDs com 25 anos ou mais concluíram algum curso superior. Glenda Lobato, 22 anos, tem paralisia cerebral desde o nascimento e anda com auxílio de um andador. Ela estava cursando a faculdade de agroecologia no Instituto Federal de Brasília (IFB), mas teve que trancar a matrícula devido às dificuldades de locomoção. "Não consigo pegar ônibus sem alguém para me auxiliar e minha mãe teve que vender o carro, portanto, estou impossibilitada de ir à faculdade", lamenta Glenda.

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O conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Caio Leonardo Rodrigues, usuário de cadeira de rodas, acredita que o problema de acessibilidade no DF é estrutural. "A cidade não está pronta para pessoas que fogem do padrão do homem perfeito. A diversidade humana é maior do que aquelas para as quais a cidade foi feita", diz o profissional. "Brasília tem problemas de acessibilidade ainda mais peculiares por conta do seu desenho urbanístico. Ônibus e metrô aqui não chegam a todo lugar. Aqui não tem calçada, a cidade foi feita para quem tem automóvel. Brasília tem problemas de acessibilidade universal", argumenta. Caio conta ainda que, por uma questão estética, um restaurante localizado no Pontão do Lago Sul mudou sua arquitetura antes acessível para uma estrutura nãoacessível. "Quando vou a esse restaurante, preciso entrar pela porta dos fundos. Um absurdo", protesta.

Empreendedores

Há 31 anos, a legislação determina que empresas com 100 empregados ou mais devem reservar vagas para pessoas com deficiência. Segundo a lei nº 8213/91, o seu descumprimento pode gerar multa de até R$ 292.650. E um dado que chama atenção é a proporção de empreendedores e autônomos entre as pessoas com deficiência: 35,9% — índice superior ao observado entre as sem deficiência (26%). Muitas vezes, é mais fácil tocar o próprio negócio do que depender das condições oferecidas pelas empresas.

Joaquim Barbosa, 43, tem menos de 3% da audição, transtorno do espectro autista (TEA) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Apesar de ser oralizado e fluente em libras, Joaquim teve muitos percalços no mercado de trabalho. "O fator determinante para que eu virasse empresário foi o fato de não conseguir me manter em nenhum emprego. Percebi que faltavam empresas que oferecessem a acessibilidade que eu e outras pessoas com deficiência precisávamos. Comecei como autônomo. Hoje, tenho uma micro empresa formalizada", conta Joaquim, que é sócio administrador de uma empresa, junto com a esposa, que oferece serviços de inclusão e acessibilidade. "A maioria das vagas disponíveis no mercado de trabalho são de serviços auxiliares. São poucas ofertas para profissionais com deficiência de nível superior e, quando têm, a empresa vai em busca de uma deficiência leve", revela.

Monicky Yuka, 24, é cadeirante há três anos, em razão de um acidente de carro. A jovem formou-se em jornalismo no ano passado, faz pós-graduação em Negócios Digitais e é microempreendedora no comércio de joias em prata. Para ela, a acessibilidade é o maior problema enfrentado no dia a dia. "Sempre gostei de sair e estar presente nos ambientes que gosto tem sido um problema desde que adquiri a lesão. Sempre antes de ir a algum lugar, preciso ver se tem acessibilidade, banheiro adaptado etc.", relata. "Ainda não sinto segurança para andar sozinha na rua. Tenho medo de cair, pois há muitos buracos. Alguns lugares se dizem acessíveis, mas, quando chego para conhecer, minha cadeira não entra no banheiro, a rampa é muito íngreme. Isso acontece muito", descreve a jovem.

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