"Agora eu sinto ele bater forte", respondeu Geraldo Buchtle, à pergunta sobre como se sentia, cerca de um mês depois de ter sido submetido a um transplante de coração. Durante o tempo em que esteve internado no Hospital Sírio Libanês, onde realizou o procedimento, o agricultor voltou, aos 57 anos, a sentir batidas no peito de um coração que antes, estava enfraquecido devido a uma miocardiopatia dilatada de etiologia valvar, que impedia o funcionamento correto das válvulas do coração. Na manhã desta terça-feira (22/11), o homem, que foi um primeiro na rede Sírio Libanês a fazer o transplante de coração, recebeu alta, e despediu-se dos funcionários do centro hospitalar sob aplausos e gritos de alegria.
Com bolo, balões, e até um troféu em formato de coração, Geraldo se despediu dos profissionais e do local, em que ficou durante um mês e uma semana. O cardiologista clínico do Sírio Libanês, Marcelo Telho explica o processo de tratamento de Geraldo. “Ele trocou essa válvula, mas mesmo assim o coração estava cada vez mais dilatado. A miocardiopatia atingiu um músculo do coração, e fez com que dilatasse. Ele estava progredindo com insuficiência cardíaca. Foi quando ele foi listado em prioridade (para a realização de um transplante), devido a piora gradativa”, conta.
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De acordo com Marcelo, o órgão apareceu, porém, o procedimento foi complexo, devido ao peso e a altura do paciente. “A nossa população não tem esse perfil. Então achar alguém compatível com ele, que é alto e mais forte, é difícil. Tanto é que teve inúmeras ofertas e nenhuma era compatível”, cita. Os critérios para compatibilidade são sangue, peso, altura, e logística para fazer a captação.
Após o processo que foi “um sucesso”, Marcelo reitera a importância da doação. Isso tudo só acontece a partir de um ato de caridade. De entender que o ente querido, mesmo no sofrimento, pode ajudar outras pessoas. Precisamos reforçar isso. A gente não consegue ajudar tantas pessoas como gostaria”, lamenta. Além de Marcelo, participaram da equipe do procedimento, o responsável técnico pelo transporte de cardiologia do hospital Sírio Libanês, Fernando Atik, e o cardiologista clínico Cássio Borges.
Problema de família
De acordo com Geraldo, a cardiopatia é comum na família: “Já tive irmãos que passaram por cirurgias, perdi uma irmã e meus pais para isso”, conta. Ele explica que o seu problema começou há cerca de sete anos e, desde então, tem sido acompanhado por médicos no Instituto do Coração. Há cerca de três meses, o agricultor entrou como prioridade na fila de espera para receber a doação de um órgão. Ele recorda os tempos difíceis. “Eu sempre trabalhei com agricultura, tinha umas épocas que conseguia fazer isso bem, mas com o passar do tempo foi ficando difícil. Até tomar banho já não era mais fácil”, diz.
Morador de Cristalina, ele conta que veio até Brasília em busca de tratamento. “Sabia que teria que fazer a cirurgia durante os sete anos em que fiz tratamento, e foi sempre muito difícil manter as esperanças, a fé de que tudo ia dar certo. Demora até cair a ficha, a gente espera, sempre com muita ansiedade, sem saber como vai ser, se vai dar certo”, recorda. De acordo com Geraldo, a notícia de compatibilidade do coração foi recebida com muita alegria. “Não poderia ter sido notícia melhor”, recorda.
Saudade de casa
Os cem dias em que esteve internado, serviram para aumentar a saudade da família. Geraldo é pai de três, e avô de um menino de um ano. Distante da criança durante mais de três meses, ele conta que aguarda ansioso pelo momento do reencontro. “A ansiedade maior é de estar em casa com minha família. Vou deixar o tempo passar, tomar os cuidados. Estou com saudade do campo, mas acho que não mexo mais com isso. O foco agora é aproveitar a família”, explica.
A chegada do novo coração trouxe também, novos sonhos, dos mais simples como comer uma costela aos mais desafiadores como conhecer a casa que foi construída durante o tempo em que esteve internado. “Com todos esses problemas, ele construiu uma casa, que ainda não entrou. Hoje (terça-feira), vai ser a primeira vez. Ele não sabe como ela ficou”, conta a irmã, Ana Buchtle.
Ela conta que a família aguarda, ansiosa, pela chegada do patriarca. “Ele trouxe algo que muitos não têm: esperança. Ele sempre acreditou, manteve a fé. A gente sabia que ele ia ficar bem, mas ele reforçou isso todos os dias em que lutou pela vida. Isso é algo que nos motiva”, reitera a irmã. De acordo com Ana, a família acordou ainda mais ansiosa nesta terça-feira. “Todo mundo amanheceu feliz com a alta dele. A preocupação sempre foi saber se daria certo, então todos estão à espera dele”, completa.
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