O professor titular da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Ari Lima, vítima de racismo em 1998 — quando cursava o doutorado em antropologia pela Universidade de Brasília (UnB) — teve o caso questionado pela professora Kelly Cristiane da Silva, do Departamento de Antropologia (Dan). A situação ocorreu durante conferência de abertura do evento organizado pelo Coletivo Zora Hurston, intitulado de "VI Negras Antropologias - Onda negra, medo branco”, em homenagem ao Dia da Consciência Negra.
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Ari foi convidado pelo coletivo de discentes negras e negros do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UnB para discursar na conferência de abertura do evento. A importância histórica do convite se dá porque, no fim de 1998, ele foi reprovado em matéria obrigatória sem receber uma justificativa para a nota baixa. Desta forma, ele conseguiu a revisão do caso dois anos depois, o que atrasou o objetivo final de se formar.
No minuto 1:03:10, Kelly faz a seguinte pergunta a Ari: "Você atribui essa tentativa de exclusão à questão racial, exclusivamente? Queria te ouvir a respeito disso considerando que eu era a sua colega também, como outras pessoas, que poderiam ser vistas como negras também", afirmou a docente.
A professora considerou chocante e irresponsável algumas acusações serem classificadas como racismo, para ela algumas falas e narrativas não apesentam informações e dados que comprovassem isso. "Dito isso, a minha busca por justiça que me move a trazer os fatos", acrescentou.
Kelly relembrou que Ari teria sido o primeiro aluno reprovado na disciplina de organização social e parentesco. "Como colega do Ari, sempre soube que as coisas eram mais complexas do que isso", comentou a educadora. Durante a fala da docente, o coletivo interviu e pediu para que a mesma fizesse a pergunta ou passasse a vez.
Procurado pelo Correio, o coletivo Zora Hurston afirmou, por meio de nota, que vai se reunir nesta segunda-feira (21/11) para discutir o caso pela primeira vez. A violência da qual Ari foi vítima, há 19 anos, motivou a aprovação das cotas raciais na UnB, primeira universidade federal do país a implementar a política pública de inclusão social.
Confira abaixo o vídeo que mostra o questionamento levantado por Kelly.
Após a repercussão do caso, ex-estudantes do Departamento de Antropologia da UnB publicaram uma carta, nesse domingo (20/11), em solidariedade ao Coletivo Zora Hurston e a estudantes negros do DAN/UnB. O documento tem mais de 100 assinaturas.
A reportagem entrou em contato com a UnB, que por meio de nota, se posicionou sobre o ocorrido. Leia na íntegra:
"A Reitoria da Universidade de Brasília (UnB) repudia todo e qualquer ato de racismo, violência ou intolerância. A UnB tem orgulho de ser pioneira na implantação do sistema de cotas raciais, em 2003. A instituição sempre foi um ambiente de promoção de ações afirmativas com foco na missão de ser um agente transformador por uma sociedade mais justa e igualitária. Neste sentido, a UnB tem dado passos para fortalecer os Direitos Humanos nos campi. Uma das últimas ações, foi a criação da Secretaria de Direitos Humanos (SDH). Entre as atribuições da SDH estão campanhas de conscientização, capacitação de servidores da Universidade para atenção, respeito e acolhimento da diversidade e implementação de políticas afirmativas. Não há queixa formal sobre o ocorrido protocolado no âmbito da Universidade. Reiteramos a postura de respeito ao direito à diversidade e à liberdade de expressão nos quatro campi da Universidade, dentro das prerrogativas legais".
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