Entrevista / Júlio Danilo

"O compromisso que foi assumido tem lastro", diz secretário de Segurança

Ao CB.Poder, o chefe da pasta destacou a maior queda de crimes violentos dos últimos 23 anos e disse estar confiante no reajuste salarial para policiais civis, militares e bombeiros. "As nossas expectativas são boas", acrescentou

Luciana Duarte*
postado em 05/11/2022 06:00 / atualizado em 05/11/2022 18:21
 (crédito: Mariana Lins /CB/D.A Press)
(crédito: Mariana Lins /CB/D.A Press)

O CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília — recebeu, ontem, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo. Em entrevista à jornalista Ana Maria Campos, o chefe da pasta destacou que os índices de crimes violentos são os menores em 23 anos. Danilo atribuiu os bons resultados ao trabalho conjunto das instituições da Segurança Pública e à utilização de tecnologia e inteligência policial. O secretário comentou ainda sobre o fato de Brasília ser um foco de manifestações políticas e como está atuando.

Queria que o senhor fizesse um balanço dos índices de criminalidade neste primeiro mandato do governador Ibaneis. O que você pode apresentar do que foi feito no seu trabalho nesse período?

Bem, a gente chega, agora em outubro, ao último ano do primeiro mandato, com números muito positivos durante toda a gestão do governador Ibaneis Rocha, os índices de criminalidade vieram reduzindo no DF. Em 2019, 2020, o doutor Anderson (Torres, ministro da Justiça) ainda era o secretário de Segurança, eu estava com ele como secretário executivo, e era um desafio que nós tínhamos, tanto em 2021, quanto em 2022, seguir reduzindo esses índices. E assim fizemos. O ano de 2021 fechamos com índices bem abaixo daqueles do ano anterior e este ano,  quando a gente compara os primeiros 10 meses do ano passado com este ano, a gente vê, por exemplo, quedas de crimes violentos letais intencionais. É o menor número dos últimos 23 anos. (Assim como) Homicídio, latrocínio, feminicídio e lesão corporal seguida de morte. Da mesma forma também os crimes contra o patrimônio apresentaram redução. Quando falo crime contra o patrimônio é o roubo a residência, roubo a transeunte, é furto em residência. Nós tivemos dois tipos específicos onde houve um pequeno aumento, que foi o roubo em ônibus coletivo e o furto em interior de veículo. Nós fizemos um trabalho identificando quais eram os pontos, onde a gente tinha a maior incidência desse tipo de crime no DF, e nos dois últimos meses, reduzimos também esses índices. Ou seja, acredito que a gente esteja no caminho certo, trabalhando e os índices vêm refletindo esse trabalho.

O que leva esse quadro positivo? Porque a gente vê que, até pelas dificuldades de contratação, a Polícia Militar reclama que o efetivo está muito abaixo historicamente. Hoje tem menos policiais nas ruas do que tinha há 10 anos, há 20 anos, proporcionalmente. A Polícia Civil também reclama de falta de pessoal. Existe uma dificuldade de contratação, de aumentar esses gastos, mas mesmo assim, vocês estão conseguindo esses números positivos. É a estratégia? É trabalhar em conjunto? O que leva a esse quadro positivo?

Eu acho que é uma série de fatores. Realmente os nossos quadros da Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros estão abaixo daquilo que seria o ideal. Nós passamos um bom período anteriormente, antes do mandato do governador Ibaneis, sem concurso; quase nove anos sem concursos públicos para a área de segurança. Nós contratamos mais de 3.500 policiais nestes últimos três anos. Só que é uma rotatividade, muitos se aposentam, saem, vão para outra profissão. Nós estamos tentando recompor esses quadros. O que a gente faz para poder realmente estar reduzindo os índices? Primeiro, a questão é quase como um mantra é da nossa gestão, a integração entre as forças de segurança. Hoje as forças trabalham de forma integrada. Todas elas, as forças de segurança, Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Detran, também. Nós temos ações específicas, em determinadas áreas, onde todos atuam. Realizamos várias ações integradas, operações integradas, coordenadas por nós, mas com atuação específica de cada ente desses. A gente vê também a especialidade do nosso pessoal no trabalho que é realizado. O fator humano das forças de segurança é muito bom. E a gente pode pegar a própria atuação, a produtividade da Polícia Militar na apreensão de armas, de drogas e prisões. Com as investigações, a Polícia Civil obteve o melhor índice de apuração de homicídios no Brasil — 80%. Ou seja, isso dá uma resposta e acaba desestimulando o crime. E além disso acabamos também conseguindo tirar das ruas, nem que seja por um tempo, aquelas pessoas que cometem crimes.

Acompanho há um tempo o trabalho da segurança pública, em vários governos, em alguns outros governos foram problemas. Tanto na parte política, quanto na parte da integração da Polícia Civil com a Polícia Militar, alguns conflitos que marcaram esse embate. E eu percebo que, neste governo, a segurança pública não deu muito trabalho para o governador Ibaneis. A gente não vê muitas brigas nos sindicatos. Apesar de não ter saído a paridade da Polícia Civil e o reajuste que a Polícia Militar esperava, são sindicatos muito mais de diálogo, nesta gestão, do que em outras gestões. Como é que foi esse trabalho? Por que esse clima é mais pacífico nesses últimos anos?

Acredito que o governador Ibaneis acabou tratando de forma mais técnica as forças de segurança. A partir do momento em que ele colocou a coordenação nas mãos da Secretaria de Segurança Pública, dando liberdade para que a gente pudesse realmente atuar — tanto doutor Anderson, quanto eu, somos pessoas técnicas. Também somos policiais, conhecemos da matéria. E a gente começou a fazer um trabalho técnico direcionado, envolvendo todo mundo. Não criamos disputa interna. Cada um manteve o seu espaço, as suas atribuições, nós respeitamos muito isso. Aliado a isso, existe a tecnologia que vem com a utilização (do serviço) da inteligência. Nós estudamos muito os dados. Não só os levantamentos feitos pelos órgãos policiais, mas também os dados estatísticos, manchas criminais, que nós direcionamos. Acabamos regionalizando a atuação da segurança pública. Então, se em uma determinada região administrativa do DF temos uma incidência muito grande de roubo em coletivo, precisamos tratar esse crime lá, por exemplo.

Muitas vezes o número alto de homicídios é decorrente de brigas de quadrilhas, de gangues. É isso mesmo?

Sim. O acerto de contas seria o maior motivador para que nós tenhamos desentendimento entre pessoas que possuem envolvimento com o crime. Para você ter uma ideia, no primeiro semestre deste ano, quase 70% dos autores e vítimas de homicídio no Distrito Federal possuíam registro anterior de ocorrência. Eu costumo dizer que, se essas pessoas estivessem presas, possivelmente nós teríamos uma redução muito grande na violência, no número de mortes de homicídio, porque elas não matariam ou não morreriam, não seriam vítimas.

E o latrocínio é um dos crimes mais bárbaros que a gente pode imaginar, porque é uma pessoa que está ali andando, caminhando, vem uma pessoa, um ladrão e, talvez por um conflito, acabe resultando numa morte. Esse crime também reduziu? Também houve redução? O que foi feito para conter isso?

É um trabalho forte que é feito. Primeiro, em retirar armas de circulação. A gente faz um trabalho muito grande também em desarmar ao máximo aquela pessoa que está ali portando uma arma de forma ilegal. Além disso, buscamos trabalhar na repressão ao tráfico de drogas e outros crimes que nós temos ali e tirar essas pessoas de circulação. Mapear as desordens pelas cidades, por exemplo, falta de iluminação é uma desordem que impacta muito no combate à criminalidade, no cometimento de crimes. Às vezes você resolve um problema do local melhorando a iluminação, melhorando aquele ambiente. Nós fazemos esse trabalho também com as administrações, de pontuar essas localidades e buscar melhorar aquilo ali.

O tipo de abordagem na rua demanda policiamento ostensivo, forte e a gente está vendo que precisamos de mais policiais militares. Existe um plano para contratar mais? Quais são os projetos para o próximo mandato do governador Ibaneis?

Nós já temos concursos aprovados. Além disso, como eu falei, nos primeiros três anos, contratamos quase 3.500 policiais.

Só militares ou policiais civis e militares?

Poucos civis. Nós estamos com um concurso da Polícia Civil de agente e escrivão; devem entrar na academia agora no início do ano, acho que até abril ou maio devem estar iniciando a formação na academia. Nós teremos o ingresso de 300 escrivães e de 600 agentes, podendo ainda a questão dos agentes, contratar um pouco mais. Policiais, nós temos 330 e poucos agora na academia devem entrar, mas temos um concurso aprovado também para novos policiais, novos bombeiro. E policiais civis também há aprovação de um novo concurso para outras categorias. Ou seja, a gente vem investindo nisso. Mas a gente utiliza também tecnologia. Por exemplo, as câmeras de segurança (espalhadas na cidade). Nós temos um plano chamado Plano de Videomonitoramento Urbano. Essas câmeras são dispostas geralmente em locais estratégicos. Elas servem tanto na questão de prevenção, como são utilizadas para identificar (no vídeo) quem tenha cometido algum crime ou não.

Vocês têm uma sala de crise na Secretaria de segurança. Monitoram todo o DF todo?

Isso. Nós temos uma sala de crise. É o Centro Integrado de Operações de Brasília. Aliás, 29 agências, secretarias e órgãos do DF têm assento, têm um representante. A Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiro estão o tempo todo ali. Além disso, temos o Centro de Monitoramento Remoto, em alguns batalhões da Polícia Militar, em algumas delegacias também. São algumas telas que passam imagens de câmeras da cidade. Tecnologia ajudando a segurança pública.

O governador Ibaneis, logo depois da vitória eleitoral,  fez um compromisso de reajustar os salários e colocou as áreas de segurança pública como uma prioridade. Que expectativa vocês têm de que saia essa autorização, principalmente em um momento em que a gente está vendo dificuldades do orçamento para atender todas as promessas, todos os compromissos que Lula fez? Os recursos são do DF, do Fundo Constitucional, mas precisam de uma autorização da União. Qual é a expectativa? Como é que você está vendo isso?

As nossas expectativas são boas. O governador Ibaneis anunciou os 18% e realmente ele vai trabalhar para que isso aconteça. Os recursos são do Fundo Constitucional, ou seja, fazem parte do nosso Orçamento. Essa previsão de aumento consta, parte dela, na previsão orçamentária. 

Essa previsão que está na Câmara agora?

O que está na Câmara para o próximo ano prevê a possibilidade do aumento. Ou seja, previsão orçamentária, nós temos. Além disso, a gente vai ter um aumento no Fundo Constitucional no próximo ano. Ou seja, tudo foi feito de forma muito responsável. O compromisso que foi assumido tem lastro, não só na questão da lei orçamentária, quanto também dos recursos que serão destinados ao DF.

Com o término do governo Bolsonaro, o ministro da Justiça, Anderson Torres, que tem uma ligação muito forte com você, voltará para um outro cargo no DF ou mesmo trabalhará na Secretaria de Segurança. O senhor acredita que isso possa ocorrer?

É possível que ocorra, sim. Eu acho que não está descartado. O ministro Anderson já foi secretário de Segurança Pública, fez um excelente trabalho de 2019 e saiu no início de 2021. Eu acho que tem espaço para que ele volte. Acho que outras pessoas que também estão no governo federal são talentosas e podem ser aproveitadas pelo governo do DF.

Que, por exemplo?

 Nós temos colegas que são policiais militares, policiais civis, que estão no Ministério da Justiça. Militares do Corpo de Bombeiros e outras pessoas que ocupam alguns postos-chave no Executivo e têm experiência. Talvez a senadora eleita, Damares Alves (Republicanos), queira indicar alguém do ministério dela para vir para uma área social aqui.

Como ficou a situação das manifestações antidemocráticas depois das eleições? Houve um receio de que pudesse ter algum problema, a Esplanada foi parcialmente fechada por orientação da Secretaria de Segurança. Acabou que tudo ficou tranquilo. Vocês estão preocupados de que ainda possa ocorrer algum problema? Alguma manifestação mais violenta no DF?

A gente está sempre atento. Brasília é o palco das grandes manifestações. Nós temos um protocolo específico para a área central. Sempre que tem algum tipo de manifestação, colocamos o protocolo em ação. Uma das medidas é isolar a Praça dos Três Poderes, justamente para preservar os poderes da República — Congresso, STF e Planalto.  Essa semana, alguns bloqueios se iniciaram pelo país e aqui também, ao redor da cidade. Tivemos algumas manifestações. A gente se antecipou para não ter problema. Seguimos acompanhando.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

 

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