Em 2021, havia 725.916 jovens entre 15 e 29 anos vivendo no Distrito Federal. Desses, 150.990 não estudavam e nem trabalhavam, isto é, 20,8% da juventude. Essa parcela da população tem sido classificada como "nem-nem". São pessoas que estão fora do mercado de trabalho e não estão matriculadas nem em instituições formais de ensino e nem em outra modalidade de educação como cursos profissionalizantes, preparatórios para vestibular ou concursos. As informações são do estudo Juventude: perfil sociodemográfico, educação, mercado de trabalho e jovens nem-nem, divulgado, ontem, pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (Ipedf — Codeplan). A pesquisa foi desenvolvida com base nos dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad 2021).
Dos jovens considerados nem-nem, 6,2% estão desocupados, isto é, desempregados, porém à procura de emprego. Já 14,6% dos jovens inseridos nessa categoria são classificados pelo estudo como inativos, isto é, não estão sequer procurando emprego. O estudo aponta que apenas 5,2% dos jovens pertenciam à classe A em 2021, enquanto 17,3% às classes D e E. Segundo o estudo, ser negro ou mulher, especialmente com filhos, é um fator que faz aumentar a chance do jovem ser nem-nem.
Guilherme Nunes, 23 anos, morador do Recanto das Emas, é um exemplo de jovem nem-nem, mesmo formado em jornalismo e com experiência no currículo. Desempregado há um ano e 11 meses, Guilherme está procurando emprego e prestando concursos públicos. Ele relata dificuldade na reinserção no mercado de trabalho depois de formado. "O mercado exige candidatos com muita experiência, mas, dificilmente, olha para os recém-formados, que não possuem tanta experiência e não podem mais estagiar. Ou seja, são exigências um tanto inconsistentes", argumentou o jovem.
Recortes sociais
Beatriz* (nome fictício), 20, moradora do Gama, também é uma jovem nem-nem. Mãe de um filho de 9 meses, ela teve de adiar o início do curso superior. "Meu marido trabalha fora e eu não tenho com quem deixar o meu filho. Sonho em cursar direito e me tornar juíza. Quando tiver condições de colocá-lo na creche, pretendo entrar na faculdade", declarou.
Diferentes recortes sociais e econômicos foram considerados na pesquisa, inclusive dados sobre raça, gênero e sexualidade. O estudo mostra, por exemplo, que 59,6% dos jovens do DF são negros, 5,9% se identificam como LGBTQIA e 2,6% das mulheres jovens são mães solo. "Esse estudo foi fundamental para fazermos um diagnóstico daquilo que é o retrato social do jovem do DF. Esse retrato vem muito a calhar com o que estamos vivendo hoje", afirmou o subsecretário de Empreendedorismo da Secretaria de Juventude do Distrito Federal, Luiz Carlos Jr. "Por meio desse estudo, estaremos fundamentados na necessidade real do jovem do DF", completou o subsecretário.
"Sempre produzimos estudos com a expectativa de que eles sejam utilizados pelos gestores públicos das secretarias, que são responsáveis por entregar serviços e políticas e também pela sociedade civil e pelo poder legislativo", ressaltou Daienne Machado, diretora de Estudos e Políticas Sociais do Ipedf. A psicóloga Carolina Beidacki, pesquisadora do instituto Veredas, acredita que é necessário atentar para todas as necessidades do jovem e não apenas trabalho e educação. "É preciso trabalhar outras habilidades importantes com os jovens, como a empatia e a comunicação. Observar e cuidar das diversidades da juventude é um ponto chave para qualquer avanço que a população queira conquistar junto", analisou a especialista.
*A entrevistada preferiu preservar o nome.
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