Período chuvoso aumenta risco de queda de árvores e de galhos

Nesta época, é preciso aumentar os cuidados com as árvores. Novacap alerta que chuvas com ventos acima de 40km/h aumentam o perigo de queda e aconselha aos motoristas que não estacionem embaixo de árvores quando o clima estiver nessas condições

Naum Giló
postado em 04/11/2022 06:00
Chuvas com ventos acima de 40km/h aumentam o perigo de queda de árvores, mesmo que tenham sido podadas -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Chuvas com ventos acima de 40km/h aumentam o perigo de queda de árvores, mesmo que tenham sido podadas - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

O período chuvoso chegou de vez ao Distrito Federal. O que, de um lado, é um alívio na secura típica do segundo semestre, por outro, as tempestades frequentemente causam transtornos nas cidades do DF. Os fortes ventos tornam a queda de galhos e árvores um perigo real para pedestres e motoristas. Quanto mais arborizada é a região, maiores são os cuidados necessários. Por isso, os moradores do Plano Piloto, a região administrativa com maior número de árvores, ficam apreensivos com o risco de acidentes.

Sueli Melo, 42, moradora da 108 Norte, diz que a quadra dela é comum que árvores tombem e galhos caiam das copas. Lembra que, na semana passada, uma delas desabou próximo à entrada da garagem de um dos blocos. "Se estiver ventando, mesmo que moderadamente, corro para o meu apartamento. Quem já viu quer correr", conta, ao recordar das vezes que viu quedas de espécimes no local. A assistente social relata que, com frequência, os moradores procuram a prefeitura da quadra para providenciar a poda das árvores. O zelador do Bloco D, Luís Sousa, 46, confirma a frequência com a qual acidentes desse tipo ocorrem na região. "Quando chove, é muito comum. Os moradores reclamam muito para o síndico, porque os galhos caem nos carros e geram prejuízos". Desde o mês passado, o Corpo de Bombeiros (CBMDF) atendeu 71 ocorrências de cortes emergenciais de árvores.  

Bioma do cerrado

O professor de engenharia florestal da Universidade de Brasília (UnB) Daniel Costa de Carvalho explica que a recorrência de queda de árvores e quebras de galhos em Brasília tem vários motivos. Um deles são as espécies trazidas de outros biomas para a cidade ainda nos anos 1960. "Naquela época, não se tinha muito conhecimento de espécies nativas do cerrado como hoje", destaca o engenheiro. Boa parte das espécies plantadas são do bioma da Mata Atlântica. "São menos adaptadas ao clima daqui. Aqui chove muito, mas em uma época específica do ano, com tempestades e muito vento. Por conta disso, pode não dar tempo para os galhos se regenerarem", esclarece.

Outra possível causa apontada por Daniel é o solo da cidade. "Ao longo da construção de Brasília foram feitos muitos aterros. Há trechos com o solo mais profundo e outros mais rasos, e uma árvore grande precisa de profundidade para acomodar suas raízes", assinala. O engenheiro defende que seja aprimorado o monitoramento dessas plantas na zona urbana de Brasília, principalmente em locais onde há trânsito de pedestres, veículos e nas proximidades de construções. "Outra medida que pode ser tomada é a substituição de árvores exóticas por nativas do cerrado, como ipês, copaíba, morototó, landim e pau-formiga", enumera.

Segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), o DF tem por volta de 5 milhões de árvores plantadas na zona urbana — 1,5 milhão apenas no Plano Piloto, região  administrativa (RA) om maior concentração de arborização. O chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), Raimundo Silva, diz que a Novacap faz poda preventiva em todas as regiões administrativas. Em 2022, houve mais de 31 mil intervenções no Plano Piloto, com podas de árvores em mais de 160 quilômetros de calçadas, para evitar possíveis acidentes com pedestres.

Silva também informa que a Novacap faz o trabalho de plantar mudas de espécies nativas do cerrado, em substituição àquelas que foram suprimidas. Isso ocorre durante a estação chuvosa, que é o período mais propício. Entre outubro deste ano e abril de 2023, serão cerca de 100 mil novas árvores plantadas no lugar das que foram cortadas. No período de chuvas anterior, esse número foi de 30 mil.

No entanto, o chefe do DPJ alerta que precipitações com ventos acima de 40km/h aumentam o perigo de queda, independentemente de ter havido a poda preventiva ou não. "Orientamos que a população evite estacionar os seus veículos embaixo de árvores durante o período de chuvas, no qual tem os ventos intensos que podem ocasionar queda de galhos e até mesmo dessas plantas", aponta Silva. A solicitação de poda preventiva pode ser feita pelos canais oficiais da ouvidoria da Novacap: telefone 162, no endereço www.ouv.df.gov.br/, ou presencialmente, em qualquer Ouvidoria do GDF. 

Acidente

Em maio deste ano, uma tragédia mexeu com a estrutura de toda a família de Luciane Garcia Cardoso. O filho dela foi atingido após a queda de uma árvore podre no Parque da Cidade. Eles celebravam o Dia das Mães na ocasião. Pedro Miguel Cardoso Rodrigues, 15, ficou internado por 154 dias e sofreu com sequelas do impacto, que lesionou a medula cervical. "Meu filho não tem os movimentos do pescoço para baixo, ficou completamente dependente, até para coçar o nariz precisa de ajuda e passou a usar fraldas. Além disso, teve que interromper os estudos. Ele estava no 1º ano do ensino médio", lamenta a mãe.

"Se na estação não chuvosa já existe a falta de cuidado, agora, os cuidados devem ser redobrados. É preciso evitar se abrigar embaixo de árvores porque, quando acontece algo assim, vira sua vida de cabeça para baixo", alerta Luciane. 

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