Nasci no mesmo dia de dois gigantes brasileiros. Cada um no seu campo e a seu modo promoveu revoluções que até hoje reverberam na nossa sociedade. Entre as esquinas soam os versos de Coração de estudante e as preces de Maria, Maria ecoam pelos corações dos devotos, com a potência de Milton Nascimento nos vocais, a "voz de Deus". Nas universidades é a voz de Darcy Ribeiro que se ouve baixinho pelos cantos, guiando o caminho de quem luta por uma educação de qualidade e verdadeiramente emancipadora.
O antropólogo completaria 100 anos em 26 de outubro último. A Universidade de Brasília (UnB), orgulho desta capital, celebrou com as honras que Darcy merece, inclusive com uma nova edição da revista de jornalismo científico e cultural que leva o nome do pensador. "O evento resgatou a memória do que a UnB foi pensada para ser, é e deseja alcançar, homenageando a história e a luta de seu idealizador", resumiu um trecho de reportagem da instituição.
Darcy tem algumas citações emblemáticas e assustadoramente atuais. "Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu", disse.
Estivesse em uma entrevista para comentar o Brasil de hoje e fosse perguntado sobre qual sentimento reinaria em si nos próximos anos, provavelmente diria: "Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca".
Milton completou 80 anos, mas certamente há um menino, um moleque, vivendo sempre em seu coração. E assim, tornou-se imortal. O canto divino embala a alma de quem busca refúgio numa música potente e atemporal, capaz de arrebatar multidões e inspirar quem vive lutas diárias, na raça, matando no peito as dificuldades.
O mineiro do Clube da Esquina tem talento do tamanho do mundo. Travessia, da parceria com Fernando Brant, é exemplo. "Quando você foi embora / Fez-se noite em meu viver / Forte eu sou, mas não tem jeito / Hoje eu tenho que chorar / Minha casa não é minha / E nem é meu este lugar / Estou só e não resisto / Muito tenho pra falar."
E seguindo pelo cancioneiro do artista, os versos na medida para os desafios que o país enfrentará no futuro: "Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida / Eu vou viver bem melhor / Doido pra ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar".
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