Mudança de vida

Superação: transplantados devem disputar jogos mundiais na Austrália

Pessoas que receberam órgãos vitais se reinventam e descobrem no esporte motivação para superar os desafios do dia a dia. Histórias de superação cujo destino serão os Jogos Mundiais para Transplantados, na Austrália, em abril de 2023

Viver com um órgão de outra pessoa dentro de si é transformador, não só porque transplantes têm o poder de salvar vidas, mas também porque são necessárias adaptações nas rotinas dos pacientes para que possam viver com saúde e qualidade de vida após o procedimento. Desde outubro de 2020, o Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF) conta com uma comissão liderada por  transplantados que tem como objetivo fornecer um atendimento humanizado aos pacientes antes e depois da cirurgia. A Comissão de Transplantados do Distrito Federal (CTX-DF) oferece suporte que vai desde arrecadação de cestas básicas para ajudar famílias até apoio para reinserção no mercado de trabalho. A CTX-DF Representa 18 mil pacientes que receberam órgãos como rins, fígado, coração, medula óssea e córneas. 

O empresário Robério Melo, 58, presidente da CTX-DF explica que a assistência é necessária em diversos aspectos. "Vamos criar projetos dentro da comissão para dar todo tipo de suporte a eles. Esses pacientes vivem em uma condição especial, pois precisam de acompanhamento constante, o que não é possível conseguir em locais que não tenham o serviço estruturado para o atendimento", afirma Robério, que passou por um transplante de fígado em 2017 e vive na pele os desafios inerentes à condição. Hoje, ele vive uma vida normal, é proprietário de uma papelaria e pratica natação, esporte que o levará aos Jogos Mundiais para Transplantados, que acontecerão em abril de 2023 na Austrália.

Insubstituível

Segundo o cirurgião André Watanabe, o fígado é um órgão vital e complicações hepáticas podem levar ao óbito. "Não há terapia substitutiva como é o caso dos rins. Se o fígado falha, é preciso substituí-lo", esclareceu o profissional. Ele esclareceu ainda que os pacientes transplantados precisam de cuidados para o resto da vida. "Após a cirurgia, o uso de medicamentos e exames de rotina precisam ser feitos constantemente. Se forem cumpridos com disciplina, o paciente pode ter uma vida normal", declarou o médico.

Alice Oliveira, 50, professora aposentada e atleta, é outro exemplo de paciente que supera, diariamente, os desafios causados pelo transplante de fígado, realizado em 2013. Aposentou-se logo após a cirurgia por motivos de saúde e descobriu o atletismo ao procurar uma nova atividade com a qual se identificasse. "A recuperação do transplante foi bem dolorida, mas, um ano depois da cirurgia eu resolvi procurar uma nova atividade, foi quando descobri o esporte. Eu treino de terça a domingo, faço musculação e exercícios funcionais", conta ela.

Com quase 200 corridas no currículo, a atleta já chegou a competir com pessoas sem comorbidades, conquistando, inclusive, lugar no pódio. Hoje, ela faz parte da Liga de Atletas Transplantados do Brasil e busca apoio para participar dos Jogos Mundiais para Transplantados, na Austrália. Para isso, Alice está fazendo um financiamento coletivo on-line para arrecadar os R$ 30 mil necessários para cobrir as despesas da viagem. 

"Eu quero participar do Mundial na Austrália não só por conta da competição, mas também para conscientizar as pessoas da importância da doação de órgãos. Quero levar essa causa para o mundo. Quem me viu doente, antes do transplante, nunca imaginou que eu chegaria aonde cheguei", disse Alice. 

"Os pacientes que apresentam boa evolução no pós transplante hepático são estimulados a manter um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e prática regular de exercícios físicos, a fim de promover a manutenção da saúde a longo prazo. No caso da Alice, a excelente evolução clínica e a grande disciplina, garra e força de vontade que ela apresenta propiciaram os resultados tão impressionantes, ela é de fato uma grande vitoriosa", afirmou Natalia Trevizoli, médica hepatologista que acompanha Alice no tratamento.

O serviço de transplante hepático em Brasília funciona desde 2012 e, ao todo, já foram realizados mais de 700 procedimentos. O tempo médio em lista de espera é menor que 3 meses. A maioria dos procedimentos é realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde 2020, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 4613/20, que concede a pacientes transplantados os mesmos direitos assegurados em lei a pessoas com deficiência. O texto do projeto determina que a equiparação depende de laudo médico que ateste impedimento físico, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo.

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