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Assaltos preocupam moradores da Asa Norte

Crimes patrimoniais estão entre os mais cometidos na região. Na última semana, duas mulheres tiveram armas apontadas para a cabeça por bandidos. De outro lado, as estatísticas mostram queda no número de ocorrências

Habitada por mais de 118 mil pessoas, a Asa Norte é uma das áreas mais nobres do Distrito Federal e atrativa a novos moradores por oferecer um ambiente aparentemente tranquilo. A exemplo de outras regiões da capital, apresenta problemas na questão segurança que preocupam os residentes e comerciantes. Furtos e roubos são os crimes mais recorrentes no bairro. Em menos de uma semana, duas mulheres foram assaltadas por bandidos armados. Uma delas levou um tiro de raspão na cabeça. Somente entre janeiro e setembro deste ano, 412 criminosos foram presos na Asa Norte, uma média de dois por dia.

A cerca de 10 minutos da Rodoviária do Plano Piloto, é comum usuários de drogas, que dormem no terminal, migrarem para a região durante o dia ou à noite. O delegado responsável pela área, João Guilherme, chefe da 2ª Delegacia de Polícia, explica que a maioria dos crimes no bairro é cometida por dependentes químicos. "Geralmente, essas pessoas praticam furtos e roubos para comprar e consumir entorpecentes." De acordo com o investigador, geralmente, os autores ostentam uma vasta ficha criminal, com passagens, condenações e indiciamentos.

No último sábado, a advogada Bárbara Estrela, 33 anos, foi alvejada com um tiro, na quadra comercial 103 Norte. A bala acertou de raspão, numa cena desesperadora. A vítima estava com uma amiga, dentro do carro, quando foi abordada por dois homens armados e teve o carro levado. Bárbara foi encaminhada ao Hospital de Base, onde os médicos constataram que a bala perfurou o couro cabeludo. Ela recebeu alta logo após. O veículo foi abandonado em Sobradinho e localizado no mesmo dia. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso. 

Outra mulher também foi vítima de um assalto na noite de quarta-feira. Dessa vez, na via W2, na altura da 516 Norte, no momento em que ela descia do veículo para treinar numa academia em frente. Ao estacionar o automóvel, o ladrão apontou a arma para ela e ameaçou: "Passa tudo, se não estouro sua cabeça". Ele e um comparsa fugiram no veículo. O Correio voltou ao local do crime e conversou com pessoas que costumam frequentar a área diariamente.

O servidor público Jaime Pereira, 37, vivenciou uma situação parecida com a da vítima do assalto na 516. Em dezembro do ano passado, ele saía da mesma academia, no final da tarde, em direção à casa, na quadra 115, quando foi abordado no meio do caminho. "O bandido estava armado. Eu disse que não tinha dinheiro e, então, ele pediu para eu desbloquear meu celular, entrar no aplicativo do banco e transferir todo o valor da minha conta via PIX. Passei R$ 1,8 mil", conta. Desde o dia do roubo, Jaime opta por ir treinar mais cedo. "Aos finais de semana, por exemplo, que é mais deserto, evito sair com celular, correntes e carteira", confidencia.

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Na mesma quadra, há cerca de duas semanas, o aposentado André Louveiro, 62, teve o celular furtado ao entrar em um ônibus. Ele relata que aguardava pelo coletivo na parada e, no momento em que embarcou, um grupo de no minimo três homens também entrou, mas em seguida desceu. "Eles fingiram que iam entrar. Um deles perguntou algo para o motorista e, depois, todos desceram. Só depois percebi que tinham levado meu celular do bolso." André evita sair de casa no período noturno e prefere fazer suas caminhadas durante o dia.

Darcianne Diogo/CB/D.A Press - O aposentado André Louveiro foi furtado ao entrar em um ônibus
Darcianne Diogo/CB/D.A Press - Na 103, uma advogada levou um tiro de raspão na cabeça durante um assalto

Ocorrências diminuíram

Apesar dos casos recentes na Asa Norte, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) registrou queda nos crimes patrimoniais e no tráfico de drogas. Nos primeiros nove meses deste ano, houve redução de 5,5% nos roubos a transeuntes em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados apontam 326 casos contra 345, em 2021.

Nos roubos em comércio, a queda foi maior, de 15,38% (13 registros contra 11 no ano passado). A SSP-DF também traz os números de veículos furtados ou roubados na região. Entre janeiro e setembro deste ano, 12 carros foram levados por criminosos. No mesmo período de 2021, foram 13.

"A SSP/DF ressalta a importância do registro de ocorrências pela população para subsidiar a elaboração de estudos e manchas criminais que indicam dias, horários e locais de maior incidência de cada crime, entre outras informações relevantes para o processo de investigação. Esses levantamentos são utilizados na elaboração de estratégias para o policiamento ostensivo da PMDF, bem como para a identificação e desarticulação de possíveis grupos especializados por parte da PCDF. O registro de ocorrência pode ser feito em delegacias localizadas nas regiões administrativas e também por meio da Delegacia Eletrônica", frisou a pasta, em nota ao Correio.

Um outro dado da Polícia Civil mostra que, em todo o ano de 2021 e de janeiro a setembro de 2022, investigadores da 2ª DP e a PMDF prenderam 942 pessoas (sendo 530 em 2021 e 412 em 2022) na Asa Norte. "É importante ressaltar que, havendo novos crimes, a PCDF está pronta e vai atuar sempre que necessário", destacou o delegado.

Contradição

Welliton Caixeta Maciel, professor de antropologia do direito da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança, faz uma avaliação sobre a contradição entre o sentimento de desproteção por parte dos moradores da Asa Norte e as estatísticas oficiais que, ao mesmo tempo, mostram redução da criminalidade. "A sensação de insegurança, muitas vezes, se deve não apenas às estatísticas de violência, ao aumento de casos etc., mas também à percepção que os cidadãos têm sobre: o aumento da criminalidade em áreas específicas da cidade (pontos de comércio de drogas, locais onde ocorre um trânsito maior de pessoas, locais onde circulam mais mercadorias e dinheiro etc), a eficiência ou não das forças de segurança pública, a impunidade, às mazelas do sistema de Justiça Criminal e do sistema penitenciário, entre outros", afirma.

Para ele, a solução deve passar por um amplo diálogo na sociedade. "É fundamental que a gestão da segurança pública paute sua atuação em evidências para que as políticas públicas sejam construídas, implementadas e fortalecidas em bases sólidas sob o ponto de vista sociológico e criminológico", destaca. "É importante convidar a comunidade, a sociedade civil organizada, entidades de pesquisa, universidades, associações e movimentos sociais, etc, para contribuírem com a pauta da segurança pública, por meio de conselhos, grupos de trabalho, entre outros formatos", completa.

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