A qualidade do transporte público deixa muito a desejar em algumas regiões administrativas como Vicente Pires e Park Way. Usuários do serviço reclamam da rotineira falta de ônibus, pontos de parada depreciados e descumprimento de horários.
De acordo com a Secretaria de Mobilidade do Distrito Federal (Semob), Vicente Pires é atendida por 44 coletivos, os quais realizam 200 viagens por dia útil, em 12 linhas. Pelos depoimentos de usuários, a frota não é o suficiente.
A cuidadora de idosos Maria Aparecida, 53 anos, mora e tem emprego em Vicente Pires. Mesmo assim, a escassez de coletivos na região e o descumprimento de horários faz o tempo de ida e volta quase quadruplicar. "Os ônibus não passam. Sempre passam a cada 1h, quando cumprem esse horário. Se eu perco o das 16h, só poderei pegar o de 16h40. Circulam na hora que querem, não têm horário", reclama.
Quem vai à região apenas a trabalho também enfrenta contratempos. Analice Cavalcante, 37, moradora de Santa Maria, é vendedora em Vicente Pires. Além de precisar de dois ônibus para chegar à região, o ponto em que aguarda para retornar a sua casa está acima do nível da calçada, com parte do chão quebrado. "Está precário. Imagino a situação de alguém com dificuldade de locomoção que tenha que esperar aqui. Em dias de chuva, isso também pode resultar em acidente", receia.
Piratas
Mesmo com 110 coletivos, os quais realizam 925 viagens por dia útil, outra região de Brasília que sofre com a escassez de ônibus é o Park Way. Sem transporte, muitos recorrem aos carros piratas, como é o caso de Simone Santos, 50, moradora de Santa Maria e mensalista de serviços domésticos há 23 anos. "Na minha quadra não passa transporte circular. Por isso, a gente recorre à lotação (transporte clandestino), porque você ligou e ele vai buscar. Além dos ônibus não passarem, eles escolhem as quadras que vão. Tem dias que eu saio às 16h, espero até as 18h30, e não aparece um ônibus. Se você não ligar para um motorista de lotação, não dá pra sair daqui", lamenta.
Enquanto a equipe de reportagem do Correio apurava a situação, Simone embarcava em um transporte ilegal com a amiga Cleunice Sousa, 46. Também diarista, ela se mudou para a Vila Cauhy, no intuito de reduzir a quantidade de veículos que tinha de pegar para chegar ao emprego. Mesmo assim, ainda encara a demora. Muitas vezes, desiste e faz o percurso a pé para não ser prejudicada. "Nem todo dia dá pra esperar, se não eu me atraso. E o ônibus que vai para a quadra que eu trabalho passa somente uma vez no dia", conta.
O vigilante Euzemar Silva, 68, tem de se deslocar diariamente para a escola onde trabalha há cinco anos e faz plantões nos fins de semana. A solução para ele também é recorrer aos piratas, que se intitulam loteiros. "Chega fim de semana, não tem transporte mesmo, não tem nada. A solução é chamar um deles", comenta.
Leonardo Oliveira, especialista em trânsito e professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Brasília (UCB), avalia que o governo deve investir na "complementação e implementação de um sistema de transporte público eficiente e adequado às características da cidade, do setor, da quadra, do lugar, até entregar o pedestre à calçada de seu destino. Para tal, precisa-se de investimento e sustentabilidade". O sistema, segundo Oliveira, deve ser no formato de árvore, no qual cada nível tenha um fluxo próprio.
O outro lado
Questionada, a Semob informou que estão em análise ações para lidar com a escassez de coletivos em ambas as regiões. Em nota, o órgão afirmou que "monitora diariamente as linhas de ônibus de todo o DF, visando a melhoria no sistema e o conforto dos usuários".
A pasta também garantiu que ampliações no número de viagens, adequação de itinerários e implantação de novas linhas são realizadas rotineiramente, tomando como base estudos técnicos e solicitações de usuários.
Para solicitar ajustes em linhas de ônibus ou enviar reclamações, o cidadão deve entrar em contato com a Ouvidoria do GDF, pelo telefone 162 ou por meio do site http://ouv.df.gov.br/.
*Estagiário sob supervisão de Márcia Machado
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