O segundo dia de prova costuma ser um terror para os estudantes que estão batalhando por uma vaga nas universidades federais ou bolsas nas particulares, por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principalmente para aqueles que almejam cursos de alta concorrência e precisam se destacar nas disciplinas de maior pontuação — justamente os assuntos cobrados na prova de ciências da natureza e suas tecnologias.
Neste caso, o estudante precisa mostrar destreza em cálculos e fórmulas, além de conhecimento sobre assuntos da atualidade. É preciso, ainda, saber relacionar o conteúdo estudado dentro de sala de aula e lançando mão das experiências de vida.
A orientação dos professores é que os alunos se preparem para a prova com a expectativa de questões que interajam com o que se sabe, como macetes e outras vivências do dia a dia. João Gabriel Nogueira, professor de estratégias do Centro Educacional Sigma explica que a prova não tem uma ideia purista de cobrança clássica de conteúdo. "O que mais importa é o aluno saber aplicar os conteúdos de física, biologia e química ao cotidiano", alerta.
Química do dia a dia
Já o professor de química Carlos Sousa observa que a leitura da Matriz de Referência do Enem é imprescindível para quem busca pontuar na matéria, visto que o documento relaciona os elementos mais importantes para o exame. "Existem substâncias muito presentes no cotidiano e que muitas vezes nem sabemos quais são. O hidróxido de sódio, por exemplo, aparece muito nas provas e é usado para fazer sabão", enfatiza, observando que é mais importante saber a função das substâncias ou fórmulas do que propriamente o nome delas.
Aos alunos que precisam revisar conteúdos nesta reta final, Sousa afirma ser imprescindível ter conhecimento dos conceitos e aplicações da química básica para, assim, compreender os assuntos que tendem a cair na prova, como estequiometria e química ambiental, por exemplo.
Decidido a cursar ciências da computação, o estudante do terceiro ano do ensino médio, Felipe Hamú, 17 anos, encara uma rotina de estudos focada nos conteúdos que recebe da escola e também no cursinho. Resolvendo simulados e provas antigas, ele percebeu que, ao dedicar um pouco de tempo às questões, ampliou sua confiança para responder até mesmo as mais difíceis, observando alguns padrões que podem ajudar no dia da prova. "Termologia sempre cai quando se fala de geladeira ou ar condicionado", exemplifica.
Biologia descomplicada
A média nacional de notas em ciências da natureza em 2021 foi próxima a 490. De acordo com o professor de biologia Leonardo Sá, a expectativa para o próximo Enem é de aumento nas notas dos alunos que fazem a prova durante o ensino médio, principalmente os que estão em ano de formação.
Ele pontua que para as 15 questões de biologia é importante fazer uma leitura atenta dos textos e enunciados para compreender da melhor forma o objeto da questão. Cabe, ainda segundo ele, lançar um olhar atento para identificar os distratores entre as alternativas. Além disso, prossegue, os alunos podem focar em revisar conteúdos de ecologia, evolução, genética, parasitologia, programas de saúde e imunização. "Esses são alguns temas recorrentes na prova, mas o Enem está sempre atualizando e diversificando cobranças", lembra.
Física na prática
De acordo com a professora de física Alessandra Turra, estudando para exatas e ciência da natureza, o vestibulando perceberá que não há método melhor que a prática de exercícios. Para fazer uma boa prova, ela orienta que os alunos façam exercícios com as questões mais diversificadas que encontrarem. "Quanto maior o exercício com número de questões e diferentes temas, o candidato vai aumentar as chances de, na hora da prova, encontrar uma questão muito parecida com alguma que já tenha praticado", afirma.
Vale ainda, indica ela, lembrar de manter a calma e fazer uma leitura abrangente dos temas. E para os que estão em rotina intensa para a reta final, a orientação é revisar circuitos elétricos simples, aplicados ao cotidiano, ondas sonoras e mecânica. A professora salienta, ainda, que em física é comum haver questões que interagem com outras disciplinas. "Geralmente, as questões aparecem com a mescla de assuntos entre química e biologia, física e matemática e, química e matemática", ensina.
Aluno de Alessandra, Giovanni Daldegan,17, quer fazer medicina. Ele conta que de fato esta é a melhor estratégia para física, "fazendo simulados e provas antigas eu percebi um padrão de conteúdos cobrados entre as questões".
Lucas Perreira, 17, tem medo de assuntos estudados por ele não aparecerem na prova, mas compreende que sua estratégia de focar conteúdos de exatas que tem maior dificuldade é a solução para esta reta final. "Estou me testando em relação ao tempo de prova e as questões que podem cair, fazendo também exercícios mais complexos."
Prova
Os professores mostram que as provas do Enem são sempre interdisciplinares, exigindo do estudante a compreensão de dois ou mais temas em uma correlação. E afirmam que os muitos cálculos e teorias de ciências da natureza são propícios para esse tipo de ligação entre as disciplinas. O professor Carlos Sousa diz que as disciplinas de química e biologia podem, sim, se relacionarem, assim como pode aparecer questões com conteúdo de química e física e vice-versa, a exemplo da termodinâmica, que é assunto de física.
O professor de biologia Leonardo Sá acrescenta que o Enem tem, por hábito, relacionar conteúdos, mas no caso da biologia, as últimas provas têm sido mais diretas. "Não que isso impeça que os temas interajam e possam causar dificuldade para os candidatos", considera.
*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá