Escolhido o próximo governador do Distrito Federal no primeiro turno, é hora de os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) contabilizarem os apoios regionais em busca da vitória no segundo turno da disputa pelo governo federal, a ser definida em 30 de outubro. Em Brasília, o governador reeleito Ibaneis Rocha (MDB) e Leandro Grass (PV, da federação PV-PT-PCdoB) garantiam palanques locais. Encerrada a campanha para o GDF, os candidatos à presidência se movimentam em direção a nomes e partidos derrotados que possam influenciar o resultado das urnas.
A disputa ao GDF se encerrou com Ibaneis eleito em primeiro turno, com 50,3% dos votos. Em seguida, ficaram Grass (26,25%), Paulo Octávio, do PSD (7,47%), Moreno (5,68%), Leila do Vôlei, do PDT (4,81%), Izalci Lucas, do PSDB (4,26%) e Keka (0,82%). Esses nomes representam apoios importantes num cenário em que Lula tem uma ligeira vantagem na apuração nacional, 48,83% contra 43,20 de Bolsonaro. No DF, o petista ficou atrás, com 36,85% em relação aos 51,65% do atual presidente.
Desde a pré-campanha, alguns nomes haviam se posicionado por um dos concorrentes do segundo turno no pleito nacional. É o caso da assistente social Keka Bagno (PSol), que trabalhou pela eleição de Lula, e do ex-comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do DF, Coronel Moreno (PTB), que se diz, assim como Bolsonaro, defensor de "Deus, pátria, família e liberdade".
Entretanto, outros candidatos, agora, precisam se reposicionar, como Leila do Vôlei (PDT), cujo partido teve Ciro Gomes na disputa presidencial, mas, ontem, anunciou, pelas redes sociais, apoio à eleição de Lula. "Acato a decisão justamente por entender que os partidos defendem pautas comuns, como o fortalecimento da educação, da cultura, das instituições brasileiras e das legislações trabalhistas. Sou uma voz da persistência e da resiliência feminina. Minhas posições sempre serão a favor de um Brasil mais justo, democrático e sustentavelmente desenvolvido", escreveu. Além dela, Georges Michel, presidente do PDT no DF, confirmou o posicionamento ao Correio: "Haverá mobilização da militância do PDT-DF para o campo do Lula. Vamos estar juntos com o PT nessa luta".
Com o oitavo menor colégio eleitoral do país — 2.203.045 de brasilienses aptos a votar — a participação de cabos eleitorais do DF na corrida nacional, segundo especialistas, é representativa.
O cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, acredita que, além do aspecto quantitativo, existe a notoriedade de vencer na capital do país, o que também pode se reverter em importantes indicações e alianças políticas."O peso do DF é muito pequeno na disputa presidencial, mas claro que é simbólico e importante, para os dois lados. De um lado, o significado para os presidenciáveis é mostrar que uma parcela do DF está com eles. Os nomes do DF, eleitos ou não, mostram a presença no cenário nacional. O jogo é esse", destaca.
Ele considera como positiva a situação de Grass numa eventual vitória de Lula, já que pode ganhar espaço e ter colocação dentro do governo. Para Ibaneis, a situação é mais delicada, porque foi reeleito e precisa trabalhar junto com o presidente. "Se Lula vencer, [o governador] vai precisar recalcular a rota", avalia André César.
De volta ao jogo
O distrital já deu início aos trabalhos próximo ao petista. Por decisão da federação PV-PT-PCdoB e do PSB, partido do vice de Lula ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, Grass será o coordenador da campanha do ex-presidente no DF, vai às ruas pedir votos e atuará pela mobilização da militância. O PSol não integra a federação do PT mas, desde a pré-campanha, apoia a volta de Lula à presidência. Ontem, importantes nomes do PSol no DF, como Keka, Fábio Félix e Max Maciel, também estiveram na reunião que designou Grass para a coordenação da campanha. Félix foi reeleito para a Câmara Legislativa do DF (CLDF) no domingo e alcançou a marca de distrital mais votado da história. Maciel foi o terceiro mais votado da disputa e também estará na CLDF no próximo ano.
"Já temos atividades programadas", informou Keka ao Correio. As ações incluem mobilização entre minorias sociais, como mulheres, população LGBTQIA e pessoas negras. A ideia também inclui "descentralizar o máximo possível e pulverizar para as demais regiões administrativa, além de convidar as pessoas que votaram na Simone Tebet (MDB) e no Ciro Gomes (PDT) [no primeiro turno], que já se posicionaram a favor de Lula, e disputar os votos nulos e brancos. Enfim, dialogar com o máximo de pessoas possíveis", explicou a ex-candidata ao GDF. As atividades serão pensadas para atrair o eleitorado feminino. "Elas podem ser muito decisivas", concluiu Keka. As mulheres constituem 54,1% do eleitorado do DF. São cerca de 179,4 mil mais eleitoras do que homens aptos a votar.
Apesar de ser declaradamente apoiador de Bolsonaro desde 2018, Ibaneis vem dando espaço para diálogo com o outro lado. Mesmo antes do primeiro turno, na quinta-feira, o governador, em entrevista ao Correio, elogiou Lula, a quem chamou de "democrata", e afirmou não ser um "bolsonarista raiz". O emedebista disse, ainda, que vai dialogar com o ex-presidente, em caso de vitória do petista. Ibaneis confirmou, no entanto, à reportagem, ontem, que dará apoio e palanque a Bolsonaro. Eles vão se reunir hoje pela manhã para definir a atuação, mas a ideia é "mergulhar fundo na campanha". À rádio CBN, ontem, o governador declarou que "vai se engajar na campanha, indo às ruas pedir votos ao presidente." "Temos muita convicção de que podemos virar essas eleições e fazer com que ele seja reeleito."
Coronel Moreno também dará palco ao atual ocupante do Planalto. Na terça-feira passada, no último debate entre os candidatos ao GDF, o único do qual o coronel participou, ele afirmou que era realmente "da direita e conservador". O ex-comandante do Bope reforçou essa posição ao Correio ontem. "Como único candidato ao governo local conservador e alinhado com as falas do presidente Bolsonaro, com certeza, o apoio é incondicional. O mesmo caminho foi seguido pelo senador Izalci Lucas. "Apoio total ao Bolsonaro para a reeleição", confirmou o político ao Correio.