CRÔNICA

Crônica da Cidade: Bandeiras e toalhas da paz

"Com o diagnóstico atualizado do DataToalha, agradeci a gentileza e sai sem comprar o pavilhão rubro-negro — da última vez que fiz isso, o Flamengo perdeu, e fui chamado de pé-frio pelos meus filhos"

Marcelo Agner
postado em 29/10/2022 15:16 / atualizado em 29/10/2022 15:19
 (crédito: Daniel Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Daniel Ferreira/CB/D.A Press)

Na minha caminhada diária pela Octogonal, ontem, fui atraído por uma bandeira agitada pelo vento. Era a do Flamengo e estava num varal ao lado de outras bandeiras de clubes e a do Brasil, além de camisetas da Seleção. Havia também, penduradas na corda, as toalhas de banho de Bolsonaro e Lula, sucessos do comércio este ano. Desviei a trajetória para conversar com o vendedor.

"Quanto custa a bandeira do Flamengo?", perguntei. "R$ 50, mas para o senhor faço por R$ 40". Uma mentira sincera, evidentemente. Ele vende por R$ 40 para todo mundo. Decidi puxar conversa e quis saber como estava a venda das toalhas, a dois dias das eleições. O ambulante disse que o movimento andava fraco, mas que o produto (as toalhas) garantiu a ele um bom dinheiro antes do primeiro turno. Foi um excelente negócio.

Ainda segundo o ambulante, a toalha do Lula vendeu bem mais. Houve, no entanto, uma reação dos bolsonaristas que, na avaliação dele, "compram mesmo é bandeira do Brasil".

Com o diagnóstico atualizado do DataToalha, agradeci a gentileza e sai sem comprar o pavilhão rubro-negro — da última vez que fiz isso, o Flamengo perdeu, e fui chamado de pé-frio pelos meus filhos. Voltei à caminhada prestando mais atenção à paisagem e às manifestações sobre as eleições. Eram bandeiras nas janelas e adesivos nos carros. Dei de cara até com uma carreata de Lula a caminho do Sudoeste.

Tudo parecia em paz. E é assim que deve ser. Mas não foi o que aconteceu este ano. Tivemos uma eleição marcada por fortes divergências que, neste momento, parecem ser inconciliáveis. Torço para estar errado. Trabalho em eleições desde 1986, as primeiras no DF. Estas são as mais acirradas e tensas. E olha que vi embates históricos entre rorizistas e petistas.

Mas a guerra política, hoje, se dá muito mais nas redes sociais do que nas ruas, embora alguns incidentes dos últimos dias nos tragam apreensão. Vi nesta sexta-feira muita gente manifestando suas preferências de forma tranquila, alegre diria. Espero que continue assim. Neste domingo, vamos decidir quem governará o país pelos próximos quatro anos. Qualquer que seja sua escolha, faça-a de acordo com a sua consciência, sem ódio, sem revanchismo.

Todos nós temos nossas bandeiras preferidas. A minha, neste sábado, é a do Flamengo. Amanhã, qualquer que seja a bandeira escolhida pelos milhões de brasileiros, deve ser respeitada e acatada. Democracia é assim.

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