Eleito como o terceiro deputado distrital mais bem votado nas eleições de 2022, o pedagogo Max Maciel (PSol) afirmou, nessa quinta-feira (20/10), que irá fazer uma forte oposição ao governo de Ibaneis Rocha (MDB) para o bem da comunidade, mas com respeito ao atual chefe do Executivo local. Além disso, pretende honrar com o compromisso de fiscalizar o orçamento do Distrito Federal e focar na melhoria do transporte público. Esses e outros temas foram citados pelo parlamentar eleito, de 39 anos, em entrevista ao CB.Poder — programa da TV Brasília em parceria com o Correio —, onde ele também citou a aproximação da população com as discussões da Câmara Legislativa do DF (CLDF). "Temos que ter um debate público para saber o que interfere na vida das pessoas", destaca o candidato eleito pelo PSol à jornalista Ana Maria Campos.
Conte um pouco sobre quem é o Max Maciel?
Sou pedagogo de formação, morador de Ceilândia, nascido e criado, com especialização em gestão de políticas públicas, com foco em gênero e raça na Universidade de Brasília (UnB). Com 20 anos de militância no movimento social, pautando uma política para a juventude. Em 2000, ajudei na elaboração do Plano Nacional de Juventude, fiz parte da Conferência Nacional de Juventude, integrei o Conselho Nacional de Juventude e ajudei a construir uma política de atenção integral à saúde do jovem no Ministério da Saúde. Sempre estive envolvido com os movimentos comunitários e populares, sobretudo em Ceilândia, que é de onde vim.
A oposição ao governo de Ibaneis formou seis deputados alinhados com a esquerda, além de Paula Belmonte (Cidadania), que se manteve independente. Dá para fazer uma oposição forte com pressão?
Se temos seis e conseguimos, no mínimo, mais dois que podem estar nesse processo de independência ao governo, poderemos travar pautas, modificar projetos de lei. Somos oposição ao governo Ibaneis, e estamos respeitando o que as urnas decidiram. Se o povo do Distrito Federal achou que esse é o modelo que deveria continuar, mesmo com a margem pequena, ok. Só que a nossa oposição será no seguinte ponto: se é bom para a comunidade, para a população, e a gente tem condição de melhorar o projeto, vamos melhorar e votar. Mas se for apenas negociata, de interesses de pequenos grupos econômicos, que não têm benefício com a população, não tem acordo. Vamos para cima, e sempre chamar a população para entender o que está rolando. Tem que ter debate público para saber o que interfere na vida das pessoas.
Você defende a melhoria do transporte público, descentralização da cultura e fortalecimento do empreendedorismo. Mas qual projeto você pretende apresentar no começo de 2023?
A primeira proposta é conseguir modificar o modelo de transporte público. A próxima legislatura talvez paute uma nova licitação (para o setor). A gente quer colaborar com o debate de fazer essa licitação, que possa ser desmembrada porque, hoje, a licitação inclui tudo no sistema. A mesma empresa cuida da garagem, do modal e do veículo em si. Há experiências no mundo e no Brasil em que se podem fazer licitações diferentes, com cada setor cuidando de uma parte. Isso dá mais autonomia para o Estado poder cobrar melhor e (eventualmente) trocar (a empresa) sem depender de uma único grupo empresarial, por exemplo. Ou o governo vai ficar dilatando (prazos) para fazer um contrato emergencial ou vai ter que colocar esse debate em voga. Tem empresas que não renovaram as frotas porque não têm segurança jurídica que vão continuar. Temos a TCB que pode ser fortalecida e assumir grandes modais, como o BRT Sul e o BRT Norte. Temos que fortalecer o metrô como transporte.
De que forma você pretende debater a descentralização da cultura no DF?
Outra proposta é debater a descentralização da cultura, dentro do limite do Legislativo. Temos uma região central com muitos equipamentos culturais. Mas temos grandes territórios, como Ceilândia, com 400 mil habitantes, segundo a Codeplan, que não temos um centro cultural para grandes eventos, como peças teatrais, shows da região e grandes apresentações. Temos potencial para isso. Há 37 anos, Ceilândia luta por um centro cultural e não sai do papel, por exemplo.
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Você pretende fiscalizar o orçamento do DF na Câmara Legislativa. De que forma as comunidades poderão acompanhar esse trabalho?
Nesses (últimos) 20 anos, a gente tem um acúmulo muito grande de propostas para desenvolver a cidade. Inclusive, para a minha eleição, rodamos 15 territórios debatendo (os problemas) das cidades, com uma rodada de escuta para entender qual era o problema de cada território e o que se enxergava como a cidade do sonho. Isso potencializou a gente a não ficar propondo coisas mirabolantes. Para entender e resolver isso, a saída é mostrar para a população o orçamento do Distrito Federal. O nosso primeiro desafio é conseguir fazer com que a comunidade do Distrito Federal entenda o que está em jogo quando falamos que somos uma região que tem R$ 42 bilhões de orçamento. Onde está esse orçamento? Para onde será direcionado? O que será entre para cada cidade? O primeiro ponto é mostrar isso de forma mais didática.
O PSol mostrou força em Brasília, com você sendo o terceiro deputado distrital mais votado e o Fábio Felix (PSol), o primeiro. Como analisa a força do partido no DF?
Essa força está relacionada com o nosso debate, que é trazer o poder público para dentro dessa história, com os movimentos sociais e com a classe trabalhadora na ponta. Apesar de ser contraditório, sermos os mais votados, e termos um campo da direita com expressão de voto.
Você que tem feito campanha no DF para o ex-presidente Lula, acredita na vitória dele no segundo turno das eleições?
Acredito que não vai ser fácil, com uma margem apertada. Mas esse é o passo seguinte de como vai ser o Brasil pós-eleição de Lula. Estamos confiando na eleição dele, não só pela figura pública, mas (pela possibilidade) de um Estado democrático de direito, de respeito às instituições, mesmo discordando delas em algum ponto. Queremos fazer um debate político, da visão, de ideias. Ele (Bolsonaro) fica tentando romper a institucionalidade o tempo todo, como se ele não confiasse na própria eleição. Isso é perigoso. E ter o Lula de volta, é colocar o Brasil de volta para os eixos do debate político nacional e internacional.
Como você avalia o comportamento do governador Ibaneis Rocha se o Lula for eleito? Ele é do MDB e sempre teve boa relação com o PT, mas promete ser menos de confronto com vocês, políticos da esquerda?
Obviamente que ele apoia a candidatura de Bolsonaro, mas não está rodando o país, está aguardando o segundo turno se decidir. Mas, ao que tudo indica, vai ser moderado.
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O que você mais ouviu de demandas das pessoas nas ruas durante a campanha?
As pessoas querem ser reconhecidas em seu território. Quando se chega em Santa Maria, por exemplo, percebemos não têm equipamentos públicos e áreas de lazer. É sempre um olhar de deslocamento da sua cidade (para fazer qualquer coisa, tem de sair da cidade). É como se as pessoas não pudessem viver na cidade onde moram. Mas essas cidades têm muita potência. As pessoas estão cansadas de ter que sair da cidade para ter que voltar ao Plano Piloto de novo depois de um dia de trabalho.
Qual a principal dificuldade para usuários de transporte público durante a madrugada?
A gente panfletou muito à noite em bares, e os trabalhadores noturnos não têm como voltar para casa, porque não tem transporte público. Encerram a atividade às 2h ou às 3h e ficam até 6h esperando o próximo ônibus. São três horas que a pessoa perde de tempo com a família e tendo uma boa qualidade de sono. Aí, você tem uma massa trabalhadora que ou divide o Uber ou tem que pegar carona com amigo. Isso não é política de mobilidade urbana. A gente fez diligência em algumas delegacias para acompanhar um pouco desse ritmo e, quase sempre, as pessoas que eram assaltadas nas paradas de ônibus, exatamente porque estavam expostas e não sabiam se o ônibus passou ou iria passar. Não temos nenhum modelo que faça com que a comunidade chegue à parada ciente que o ônibus vai passar em poucos minutos. Ficam à mercê da violência, sobretudo as mulheres.
Por que conseguiu ter uma votação tão alta desta vez, após tentar em 2018, sendo que foi o candidato com menor custo de voto em relação ao número de votos?
Nosso custo de voto ficou em R$ 5,58, o que mostra um pouco de como conseguimos enraizar (nossas propostas). A gente não esperava essa quantidade de votos. Na nossa conta, a gente estava eleito, mas não com uma margem de votos desse tamanho. Basicamente, a gente triplicou a quantidade que estávamos imaginando. Atribuímos a uma relação com os territórios (do DF) e aos movimentos (sociais). Eu não conheço São Sebastião só porque fui lá na campanha. Tenho relação com os movimentos sociais de São Sebastião. Não conheço Planaltina, Sobradinho e Sobradinho 2 só porque fui lá, mas a gente tem, historicamente, relação com esses movimentos de base. Nosso diálogo sempre foi transparente e no campo de luta. Não estava na rua só no período eleitoral. A gente sempre esteve fazendo as coisas.
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