Entrevista / Ricardo Vale, deputado distrital eleito (PT)

Deputado distrital eleito Ricardo Vale acredita em virada do PT no DF

Ao CB.Poder, o parlamentar petista falou sobre a campanha de Lula no Distrito Federal para a nova rodada das eleições, o desempenho do PT na capital, entre outros temas. "Acho que temos que dialogar com todo mundo", destaca

Carlos Silva*
postado em 19/10/2022 05:49 / atualizado em 19/10/2022 05:50
 (crédito:  Mariana Lins)
(crédito: Mariana Lins)

Ricardo Vale, deputado distrital eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT) foi o convidado do CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília. Na entrevista à jornalista Ana Maria Campos, ele falou sobre a campanha de Lula no Distrito Federal para o segundo turno das eleições, desempenho do PT na capital, entre outros temas. O parlamentar acredita que é possível reverter o cenário a favor do PT no DF. Com a força da militância do PT, podemos virar o jogo aqui, no segundo turno, e vencê-lo", afirmou.

Como está avaliando este segundo turno?

Nem comemorei a nossa vitória ainda e já entrei na coordenação de campanha do Lula, principalmente na região norte de Brasília, como Paranoá, Planaltina e Sobradinho. Estou com expectativa muito boa de que Lula possa vencer a eleição e mudar essa situação, que, principalmente, o povo brasileiro mais pobre vem passando.

A eleição do primeiro turno mostrou que o presidente Bolsonaro é muito forte no DF. Na sua avaliação, por que ele tem essa força no DF? É possível mudar isso no segundo turno?

Acho que a campanha dele aproveitou muito o número de candidatos a seu favor. Eu estava nas ruas e vi a quantidade de candidatos a deputados federais, senadores e distritais que estão nesse campo do Bolsonaro. O próprio governador do DF fez campanha para ele. Mas isso diminuiu muito agora no segundo turno. Então, do ponto de vista estrutural, a nossa campanha do Lula, hoje, com os nossos aliados, empatou (a disputa). Inclusive, vemos mais militantes do Lula nas ruas do que do próprio Bolsonaro. Acho que nós vamos diminuir essa vantagem que ele teve aqui no primeiro turno e, com a força da militância do PT, podemos virar o jogo aqui, no segundo turno, e vencê-lo. Evidentemente, eu espero que o resultado do país também se repita e Lula seja o presidente do Brasil.

Você avalia que os candidatos que estavam identificados com um dos lados dessa polarização saíram em vantagem?

Não teve espaço para terceira via. Quem ficou em cima do muro acabou ficando fora, seja da Câmara Federal ou na Distrital. A eleição está muito polarizada, assim como o país. Creio que quem optou por não querer se expor de alguma forma, perdeu dos dois lados. Espero agora que quem não optou pelo lado do Bolsonaro, venha com o Lula, para que possamos mudar este país.

Você foi deputado distrital, mas na eleição passada não conseguiu se eleger e agora você retorna. O que houve de diferente de 2018 para essa campanha de 2022, para que você conseguisse ampliar a sua votação?

Fiz um bom mandato na Câmara Legislativa. Foi um período muito difícil para nós, do PT. Entrei na Câmara Legislativa logo que começou aquele processo de impeachment da Dilma. Passamos, praticamente, um ano e meio tentando impedir isso. Mas o Congresso fez aquilo com ela e, logo em seguida, começou o ataque ao Lula, na tentativa de prendê-lo. Tentamos impedir isso também. Quando ele foi preso, começamos um processo por todo o país e aqui no DF com a campanha "Lula livre". Isso acabou tomando muito tempo nosso, mas ainda assim fizemos um bom mandato. Trabalhamos nas pautas de direitos humanos, quando eu estava como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Aprovamos muitas leis importantes para o DF e fizemos parte de muitas lutas em defesa das minorias. Mas era um momento em que a sociedade estava apostando em um outro projeto. No projeto conservador, no projeto ultra liberal e acabou que nós do PT fomos muito prejudicados por essa pauta bolsonarista. O PT sofreu muitos ataques, e acabou que todos nós fomos muito mal votados. Mesmo assim ainda fiquei como primeiro suplente. Faltaram dois mil votos para o PT fazer três (suplentes). Acho que uma das diferenças é que eu comecei a fazer campanha mais cedo, caminhando pelo DF inteiro. Procurei esses setores todos e segmentos que sempre apoiamos e construímos alianças. A conjuntura também ajudou. Estou muito feliz e muito afim de voltar para a Câmara e fazer muito melhor do que fiz nesse primeiro mandato.

Qual vai ser a cara do seu mandato desta vez?

Não vai mudar muito. Porque quem sempre dá sustentação são os trabalhadores em geral e servidores públicos. Estou muito preocupado com a questão da Saúde no DF. O próprio governador disse que não resolveu a Saúde e que vai tentar. Espero que ele faça isso. Eu vou olhar isso com atenção. Andei muito no DF e vi como o nosso povo está sofrendo, sem leitos de hospital, sem conseguir consulta, cirurgia, então essa vai ser uma questão em que vou atuar de forma mais concreta. Quanto à Educação, tenho muito orgulho do nosso mandato, estamos transformando as escolas públicas do DF, quando a gente resolveu descentralizar os recursos da educação, mudando a lei do PDAF, isso passou pelo meu gabinete na época, hoje os deputado tocam recursos direto nas escolas públicas, não mandam mais para a secretaria, em que acontecia de o recurso não chegar nas escola. As escolas públicas do DF estão ficando excelentes.

Vou atuar muito na questão dos transportes. Vi muita reclamação, falta de transporte em determinados horários, em muitos lugares. São essas questões do cotidiano dos trabalhadores em que vamos atuar mais. Também não deixaremos de ajudar a Cultura. O nosso mandato foi um mandato muito atuante nessa área, e recebi muito apoio desse segmento agora, nessa nessa campanha, e sei que os que fazem parte desse setor estão muito felizes com a nossa vitória. Também pretendo olhar para a questão do esporte, pois sei da importância que tem no processo de transformação e de inclusão social. Não vai ser uma coisa muito diferente, até pelo segmento que nos dá sustentação.

Você é um um político do PT, mas tem um bom diálogo com o governador Ibaneis, mesmo tendo apoiado outro candidato.

Tenho um bom diálogo com todo segmento político do DF. Acho que temos que dialogar com todo mundo. Ibaneis foi escolhido governador, pois a população resolveu que ele deveria continuar. Nós vamos fazer oposição a ele, mas vou continuar. Fiz isso com (Rodrigo) Rollemberg, quando eu fui deputado, assim como fiz com Arruda, Roriz, entre outros. Precisamos conversar. O fato de ser oposição não quer dizer que você tem que ser inimigo. Mesmo na oposição, você pode ajudar. Ibaneis falou que vai resolver a questão da Saúde. Estou muito feliz com isso. Eu quero ajudar. E vou cobrar. Aliás, quero, inclusive, como nós fizemos com a Educação, centralizar os recursos da Saúde também. Fazer com que o deputado possa alocar recurso direto no hospital, num posto de saúde, numa UPA. Vamos trabalhar nessa nessa pauta da Saúde. O que o governo apresentar que for bom, nós vamos ajudar; o que for ruim, nós vamos agir, no sentido de tentar fazer com que as coisas melhorem para os trabalhadores.

O resultado das urnas indicou que 50,3% dos votos foram pro Ibaneis. Ele conseguiu um feito inédito que foi se reeleger, e no primeiro turno. Foi algo que nunca tinha ocorrido no DF. Por que que ele teve essa força tão grande na eleição?

Acho que foi uma eleição muito curta. Ele deu essa sorte. Outra coisa também é que essa pauta nacional abafou um pouco a pauta local. Por exemplo, questões ligadas à pandemia, o governo Bolsonaro — que é um governo desastroso. Acabou que discutimos mais a pauta nacional, e Ibaneis acabou navegando em mares mais tranquilos, digamos assim. Mesmo assim, ele ganhou raspando. A maioria da população não votou nele. Teve cerca de 800 mil votos. São cerca de 1,6 milhões de eleitores. Pegando os votos válidos, mais os indecisos e aqueles que votaram nulo, a maioria da população do DF não votou no Ibaneis. Então serve de alerta para ele. Vamos torcer para que ele faça o governo democrático e que ele olhe pra todo mundo, governando para quem não votou nele e para quem votou nele.

Que avaliação você faz da campanha do Leandro Grass, que era o candidato da federação PT, PV, PCdoB na disputa para governador? Acha que se ele fosse do PT, teria tido mais força?

O Leandro demonstrou muita coragem. Um jovem ainda, de primeiro mandato. Quero parabenizá-lo pela coragem e determinação. Uma campanha linda que ele fez. Um jovem de futuro brilhante pela frente. É um cara que nos orgulhou muito. A militância do PT é muito difícil. Se não for um candidato do PT, ela dificilmente entra na campanha. Mas entrou, e ele foi conquistando a militância do PT e de esquerda do DF. Eu diria que se tivesse mais uma semana de campanha, ele chegaria no segundo turno. Aí seria uma outra eleição. Mas ele está de parabéns. Acho que é um jovem com um futuro promissor na política do DF.

Você acha que ele teve como uma das desvantagens o fato de não ser tão conhecido ainda no DF?

Teve e ele sabia disso. No início, quando ele estava tomando essa decisão, conversei muito com ele. Grass sabia dos riscos, mas tinha muita certeza de que ele faria uma excelente campanha e que poderia ir para o segundo turno. Passou perto, mas ele se consolida como uma grande liderança política hoje pelo DF.

Rosilene também cresceu no final e quase empatou com a Flávia. Porém, também ficou atrás das duas candidatas do Bolsonaro. O que faltou para Rosilene?

Quem conhece a Rosilene são os professores. Ela é sindicalista há muitos anos. Diria que é mais desconhecida do eleitorado. Mesmo assim a campanha dela foi muito boa, bem organizada, muito bem estruturada. Ela é uma pessoa extremamente preparada, nos orgulhou também. A Rosilene poderia ter crescido mais, mas a eleição foi muito apertada — 45 dias. Se você já não tem um nome conhecido, um nome consolidado fica difícil. Acho que tudo isso vai resultar numa virada, no segundo turno, no DF.

O PT fez uma bancada de três deputados distritais e uma federal. Leandro Grass também, da federação, quase foi para o segundo turno. Você acha que o desempenho do PT nessa eleição ficou melhor do que em 2018?

Ficou bem melhor. Não paramos para fazer avaliação ainda, porque, como eu disse, acabou o primeiro turno e todos focaram na campanha do Lula. Mas pelos números, aumentamos um distrital — eram dois, agora são três. Na Câmara Federal, temos a Érica Kokay (PT) e o Reginaldo Veras (PV), que é federação. Se o Agnelo Queiroz (PT) entra (na eleição), provavelmente nós faríamos três federais. Então, o resultado do ponto de vista dos espaços que conquistamos foi muito bom e importante. O PT cresceu de novo e está retomando a confiança do povo do DF. Precisamos aproveitar essa onda.

Houve uma discussão se o PT deveria permitir ou não que Agnelo fosse candidato, por conta do risco de ele não conseguir ser candidato. Isso de alguma forma atrapalhou a eleição?

Fui favorável que ele fosse candidato. Não atrapalhou, ajudou muito. Ele andou muito pelo DF, defendeu o legado do governo dele aqui no DF e também o do governo Lula. Agnelo cumpriu um papel importante, e sabíamos que tinha esse risco de, mais na frente, a Justiça não permitir que ele fosse candidato. Acabou que ele não foi, mas, provavelmente, muito desses votos migraram para a candidatura da Érika, da Ruth Venceremos (PT) e do próprio (Reginaldo) Veras (PV).

Independentemente de ele ter sido ou não candidato, foi vantajoso para ele participar da eleição para defender o próprio legado?

Ele fez e continuou. Está bem ativo nas redes, trabalhando e ajudando na campanha do Lula. Não fazemos política só com mandato, também fazemos, porque está no sangue mesmo. Ele deu uma demonstração de ter entendido o processo e continua agora na campanha do Lula para que possamos ganhar essas eleições no país.

O PT tem uma história de força no DF, teve dois governadores. Mas, nas últimas eleições, não teve um candidato competitivo. Você acha que é o momento do PT na federação para pensar em formar novas lideranças e preparar um candidato para 2026?

Acho que sim. O partido precisa olhar pra base, para buscar e apoiar novas lideranças, dando estrutura a elas. Precisamos criar novos quadros. Espero que seja uma ação conjunta do partido para entender que precisamos de novos quadros. Precisamos renovar. Tem muitos jovens com potencial de se tornar lideranças na cidade, Muitas mulheres inclusive foram candidatas, e precisamos, agora, cuidar dessas pessoas. Sei que com a vitória do Lula poderemos fazer esse trabalho de valorizar essas pessoas e ajudá-las a continuar na luta, militando e, de certa forma, aparecendo para a sociedade. A partir daí podemos conseguir mais lideranças aqui no partido.

Uma vitória do Lula pode abrir perspectivas para novas lideranças surgirem e também em cargos?

Sim, o governo Lula tem muitas políticas públicas que virão para o DF, e essas lideranças estarão à frente delas. Não só no PT, mas nesse campo de esquerda. Então precisamos aproveitar essas políticas públicas e colocar essas pessoas na linha de frente, para que elas possam trabalhar, conversando com a população, para que se tornem lideranças e que possam nos representar num futuro próximo.

Se o Bolsonaro ganhar você acha que o PT pode crescer como oposição?

O PT já cresceu, em função dos erros do governo Bolsonaro. Eu andei muito pelo DF e vi a quantidade de famílias inteiras desempregadas. Dependendo de uma cesta básica para levar comida pra casa, desemprego muito grande. Encontrei famílias que há muito tempo não comem carne. É uma situação muito ruim que o Bolsonaro deixou esse país. Os trabalhadores de classe média não conseguem ter mais o filho numa escola privada, não conseguem viajar. Então piorou demais a vida das pessoas. E, naturalmente, as pessoas fizeram uma comparação do que foram as políticas públicas do governo Lula e as do Bolsonaro. Não tem nada, hoje, no país, que possamos avaliar como bom para os trabalhadores. Pelo contrário, ele retirou direitos dos trabalhadores. Assim, naturalmente, crescemos.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

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