Radicados em Brasília desde 1960, os flamboyants — árvores africanas típicas da ilha de Madagascar — colorem o cenário da capital federal entre os meses de outubro e dezembro. Com a chegada do período chuvoso, as flores vermelhas, brancas, alaranjadas e amarelas fazem jus à origem do nome, que vem do francês e significa vistoso, chamativo, berrante. O sentido não poderia ser mais apropriado, pois, a cada nova florada, os flamboyants se impõem na cidade. Beleza que segue encantando moradores e visitantes de várias gerações.
Para quem espera anualmente pelo espetáculo, o itinerário é conhecido. A maioria das árvores está concentrada no gramado do Eixinho Sul, no Sudoeste, no Zoológico, na região da Universidade de Brasília (UnB), no Eixo Monumental, além de alguns exemplares na Asa Sul. Uma visão que encanta, como admite a aposentada Alaíde Oliveira Kavamoto, 90 anos. Moradora da 110 Sul, ela herdou do marido o olhar apaixonado pela espécie. Para retribuir, três vezes por semana ela rega um exemplar que fica em frente ao jardim do bloco em que mora. O cuidado é um legado que mantém desde a morte do marido, há 20 anos. Segundo Alaíde, foi ele que começou o jardim.
Primeira moradora do prédio, ela conta que, no início da plantação do jardim, pegou duas mudas de flamboyants na Asa Norte, onde os filhos moravam, e levou para casa a fim de fazer a linhagem germinar no local. “Eu vi esse bloco ser construído quando colocaram o primeiro tijolo. Aí, eu trouxe com todo carinho a muda, que hoje é a minha terapia, porque também cuido de um pé de acerola e algumas orquídeas”, emociona-se.
Quem ajuda a regar o flamboyant de Alaíde é o porteiro do bloco Adão Mendes, 54, que trabalha no edifício há 35 anos. “É gratificante cuidar de um jardim, sobretudo, nesta época do ano, em que vai ficar tudo verdinho e mais colorido”, orgulha-se. O funcionário do prédio elogia o trabalho feito pela condômina, que torna o ambiente único. “A Novacap costuma vir cortar a grama, mas de vez em quando a gente apara, porque é um hábito muito bonito feito pela senhora Alaíde, que pegou a paixão do marido dela”, comenta Adão.
Os mais jovens também se encantam com as paisagens, como o estudante de direito Lucas Martins, 24, morador do Cruzeiro Novo. Desde que chegou à região, em 2009, ele sempre espera a florada dos flamboyants. Apaixonado por fotografias, cita a espécie como uma das favoritas. “Eu gosto de fotografar essa mistura de cores que as árvores do cerrado nos proporcionam, temos cores o ano inteiro, e o flamboyant vermelho é uma das cores mais bonitas que existem”, avalia.
Quando vai fotografar para postar na rede social, ou passa pelas redondezas onde mora, Lucas diz sentir o contraste da natureza com o ambiente urbano. Para manter essa beleza por mais tempo, ele e outros moradores cuidam do flamboyant e de plantas da região. “Gosto de ver essa beleza nas fotos. Por isso, regamos e limpamos o chão regularmente”, explica.
Cuidados
A engenheira agrônoma do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Carmen Regina Correia explica que as árvores africanas podem chegar a até 15 metros. Pelo tamanho, o ideal é que sejam plantadas em área de gramado extenso, para não deformar asfalto ou calçadas. “A copa é ampla e as raízes superficiais danificam a pavimentação, o que não é adequado para arborização de ruas, porque no período chuvoso os galhos se quebram”, contextualiza a especialista. Segundo Carmen, um flamboyant pode chegar a 70 anos em mata nativa. “No ambiente urbano, devido às condições adversas, ela vive menos, em média, 30 anos, o que varia muito. Mas a possibilidade de ser plantada em gramados faz dela muito especial”, explica.
De acordo com o Departamento de Parques e Jardins (DPJ) do DF, há uma média de 100 mil flamboyants no Distrito Federal. Com o tempo, alguns morrem e outros são plantados. Um dos mais conhecidos ficava em frente ao Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT), mas caiu em 9 de setembro de 2021. Em nota, a Novacap diz que previa a queda e se encarregou de plantar outros três em volta dele. Atualmente, dois representantes da espécie se mantêm firmes no local.
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