Apesar das dificuldades de se promover arte e esporte na capital do país, seis caratecas e uma bailarina conquistam destaque pelo Brasil e em nível internacional. No começo de setembro, entre os dias 16 e 18, seis alunos de karatê do Coletivo Motirõ deixaram suas casas em Samambaia para representar o Distrito Federal no Campeonato Nacional de Karatê realizado em Santa Catarina. Enquanto os jovens lutadores de artes marciais regressam para casa, cheios de orgulho e com três medalhas de bronze, uma dançarina de balé clássico arruma as malas rumo à Irlanda, para apresentar um artigo sobre a biomecânica da dança.
Sensei voluntário das aulas de karatê, Paraguassu aprendeu na Uruma-kan Karatê Solidária a importância de levar as artes marciais aos jovens. "Vim de uma tradição de karatê, meu pai se formou na década de 70 com o sensei Jackson, eu me formei lá e continuo tendo aulas com ele hoje. E mantemos esse ensinamento do esporte solidário", destaca. Os aproximadamente 30 alunos do sensei Paraguassu aprendem justamente os pilares que ele próprio desenvolveu: disciplina, respeito e solidariedade. "Ninguém é melhor do que ninguém no karatê, todos têm algo a oferecer e com o que ajudar", assegura.
Foi por meio do projeto que seis caratecas garantiram uma vaga no Campeonato Nacional da arte marcial, em Santa Catarina. "Para conseguir levar os alunos, fizemos campanhas nas redes sociais, para que eles pudessem se deslocar e participar da disputa", detalha. "Para participar como aluno do Coletivo, é necessário que os alunos estudem em escolas públicas, residam em Samambaia e mantenham um bom rendimento na escola. Aqui, os alunos se desenvolvem na área social, familiar, na alimentação, tudo isso melhora com a prática", acrescenta o sensei.
Para os caratecas que vivenciaram essa experiência, o momento foi inesquecível. José Eduardo, de 11 anos, foi um deles. "Foi ótimo participar, gostei muito", afirma. A colega de campeonato, Maria Clara Nicácio, 13, acrescenta que realizou um sonho. "É muito emocionante. E é algo que pretendo continuar daqui para frente. Desde que comecei, o karatê me ajudou muito. Melhorei na asma, que tinha muito problema, e também na alimentação, porque antes eu cansava muito e comia muito doce", comemora.
Outro carateca levado pelo Coletivo foi Daniel Batista, 13. "A gente vai com a equipe e começa a se integrar mais. E o momento da luta é de muita emoção, não tem como esquecer", afirma. Daniel diz que pretende continuar no esporte, assim como Rebecca de Oliveira, 19, que hoje desempenha um papel de monitora nas aulas do sensei Paraguassu. "O karatê é uma tradição na minha família e muda muito a vida da gente. Já estou prestes a completar um ano de monitora aqui (no Motirõ)", narra.
Solidariedade
Um dos idealizadores do projeto, Flávio Almeida ressalta que a proposta não trabalha unicamente com o karatê. "O Coletivo oferece aulas de inglês, de muay thai, capoeira e futsal. Também temos cursos para os pais, que precisam se inserir no mercado de trabalho e um espaço de acolhimento para mulheres e crianças vítimas de violência. E tudo é feito com a doação do trabalho voluntário de diversos profissionais. O que nos ajudou, também, é fazer parte agora da ONG Gerando Falcões, que nos ajudou a crescer", conta.
Ao todo, o grupo atende cerca de 400 alunos, em diversas modalidades, inclusive voltadas para os pais e crianças autistas. Uma das lutas marciais desenvolvidas é o muay thai. Mikael Gomes, 19, é um lutador profissional graças à proposta. Ele se prepara para a competição Attack Fight. "Já participei de outros campeonatos, mas considero que essa será uma das lutas mais importantes da minha carreira", avalia. As aulas da arte marcial são ministradas pela professora Edilene Aparecida, que já tinha um projeto de muay thai independente para crianças e, agora, é professora voluntária do Coletivo. "É uma iniciativa muito importante, a gente percebe a diferença, o tanto que as crianças gostam", observa.
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Reconhecimento Internacional
Há mais de 19 anos dançarina de balé clássico, Wanessa de Assis, de 32 anos e moradora de Ceilândia, busca auxílio para conseguir viajar, representando o Brasil, até a Limerick, na Irlanda. A dançarina foi selecionada para apresentar um artigo sobre a biomecânica da dança na 32ª Conferência da Associação Internacional de Medicina da Dança e Ciência (32nd Annual Conference International Association for Dance Medicine & Science, na sigla em inglês). Apesar do esforço para ser escolhida, agora Wanessa depende de doações para realizar a viagem (leia Como Ajudar). Em busca de arrecadar a quantia necessária, ela já adotou diversas estratégias: vendeu brownies, começou um segundo emprego e agora promove uma vakinha on-line.
"No início do ano, recebi a notícia de que tinha sido escolhida. Passei por vários processos de resolver passaporte, hospedagem e alimentação. Mas tudo foi ficando muito caro, principalmente pelo câmbio. Eu dividi várias vezes os gastos no cartão, mas precisei montar a vakinha para realmente ter chance de ir. Os planos são deixar o Brasil no dia 26 deste mês, e voltar dia 4 de novembro. Vai ser a minha primeira viagem para o exterior e estou treinando muito o inglês para apresentar o artigo e responder aos questionamentos que surgirem", explica.
A vakinha tem meta de arrecadar R$ 15 mil. Wanessa também havia sido selecionada para um seminário em Londres, no entanto, o evento aconteceria em maio, e a bailarina teve que abrir mão da participação porque não teria como pagar os gastos das duas viagens. Ao Correio, ela comenta um pouco sobre o artigo que produziu. "Eu avaliei a questão do salto no balé clássico. A Agrippina Vaganova é criadora do método que até hoje tem grande repercussão no balé clássico e é utilizado em muitas escolas. E ela diz que para realizar o salto é preciso que o bailarino apoie os calcanhares no chão, tanto na preparação como na aterrissagem. No entanto, o balé tem vários saltos, e nos que exigem uma sequência mais rápida de movimentos, o dançarino não consegue apoiar o calcanhar antes de realizar o movimento. Eu analisei diversos vídeos de dançarinos renomados, e o questionamento do artigo é justamente se isso é eficiente, se tem como aplicar essa norma do balé e se isso pode causar algum tipo de sobrecarga nos metatarsos", explica.
Jornada pela dança
A paixão de Wanessa pela dança começou cedo, por volta dos 12 anos, mas enfrentou diversos desafios. "Na época, minha mãe perguntou se eu gostaria de fazer balé, eu disse que sim e fiz uma audição em uma escola pública de Goiânia, para conseguir uma bolsa. Era tudo feito com muito esforço para sustentar figurino e apresentações. Eu me lembro do tanto que minha família se dedicou para comprar a primeira sapatilha de ponta, minha mãe teve que pegar um cheque emprestado. E na hora de comprar uma ponteira, que serve para proteger os pés na sapatilha, a gente escolheu a de pano, que era bem mais barata que a de silicone", lembra.
Depois, Wanessa conseguiu ser selecionada como aprendiz da professora cubana Leidy Escobar, por cerca de três anos, até passar na Universidade Federal de Goiás, em educação física. Nessa etapa, a dançarina se dedicou a dar aulas com a bailarina Cristiane Rezende e a concluir o ensino superior. "Em 2012, eu me mudei para cá (DF) e conheci meu marido. Cheguei a passar por um momento de crise em relação à dança e à educação física, por conta da desvalorização. Mas depois, aos poucos, meu esposo foi me convencendo a abrir uma escola, a continuar minha carreira", relata. Atualmente, Wanessa é diretora da Ballet de Assis, escola de Samambaia e participa do centro de pesquisa Bastidores — Dança, Pesquisa e Treinamento. Wanessa confessa que é muito difícil produzir ciência e arte. "(Mas) me agarro a cada palavra e atitude de incentivo que recebo para continuar!", finaliza.
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