A perda repentina dos cabelos em pacientes submetidos ao tratamento oncológico pode ser traumática. No de mulheres diagnosticadas com câncer de mama, esse processo pode ser ainda mais doloroso, pois são impactados dois símbolos sociais de feminilidade, os cabelos e os seios, afetando a autoestima delas. Um processo que a empresária Yoko Saito, 40 anos, acompanhou de perto, durante o tratamento de uma tia, há cerca de sete anos. "Ela era evangélica e tinha o cabelo muito grande. Quando ela recebeu o diagnóstico, a preocupação dela nem era tanto com o câncer, mas com o cabelo, que representava algo muito importante para ela, estava associada com a fé", lembra.
Na época, o médico sugeriu que a tia de Yoko cortasse as madeixas no início do tratamento, antes da queda, para minimizar o choque e facilitar o enfrentamento da doença. Yoko conta que, relutante, a tia aceitou. "Isso comoveu muito a família", lembra. Sensibilizada, a proprietária do salão de beleza Authentic Studio, da 412 Norte, decidiu aderir às ações de prevenção à doença e suporte aos pacientes.
Desde então, o salão de Yoko é um dos pontos de recebimento de doações de cabelos humanos para confecção de perucas que são doadas a mulheres em tratamento no Distrito Federal. Não só os clientes do Authentic, como qualquer pessoa que se interesse pela causa pode fazer a doação e, ainda, ganhar um corte gratuito.
A ação solidária, durante este mês, com a campanha do Outubro Rosa, todas as segundas-feiras serão exclusivas para as mulheres que desejem doar os fios. O cabeleireiro e visagista Jean Saito, irmão de Yoko, assegura que não é apenas um simples corte de cabelo. "Estamos direcionando esse momento para um atendimento humanizado, porque o cumprimento mínimo pedido é de 15 cm. Então a gente escuta as expectativas da doadora, vemos qual o corte que foi escolhido, quais as demandas que ela tem e o que valoriza o rosto e o cabelo da cliente", ressalta.
O tema da campanha, promovida pelo salão, é: Doar e receber autoestima, como explica Rodolfo Tibano, 38 anos, e administrador da empresa. "Nosso objetivo é reunir o máximo de doações o possível", confessa. "Mês passado, uma cliente nos procurou querendo doar os fios e depois disso, vimos como poderíamos ajudar, colaborar e ajudar mais pacientes. Muita gente quer doar e não sabe como", acrescenta.
Alegria de quem recebe
Uma das primeiras clientes a fazer a sua parte foi Rafaella Abdo, 41 anos. A terapeuta vibracional conta que estava procurando, há um tempo, locais que recebiam os cortes de cabelo quando se deparou com uma postagem no Instagram citando o projeto. "Faço doações há dez anos. Antes, era massoterapeuta e percebi que muitas mulheres que chegavam até mim vinham de tratamentos de câncer, finalizando suas quimioterapias. Tive essa experiência próxima de ver como o cabelo mexia com elas. Desde então, a cada dois ou três anos, eu corto para doação. Cuido, deixo crescer, e depois desapego. Nós mulheres temos um amor muito grande pelo nosso cabelo, mas a felicidade de quem recebe esses fios é muito mais bonita", assegura, emocionada.
Em Taguatinga, na QNA 5, o Studio Val Andrade também colabora com a doação de fios. "Fazemos isso há muito tempo, sempre que uma cliente vem cortar o cabelo e tem um comprimento grande, eu peço para doar. Já tenho os locais que sempre levo, como o Hospital de Base. E isso é algo que vem desde que meu pai teve câncer, quando eu comecei a ir no hospital e ver a situação de quem enfrentava a doença. Infelizmente, faz cinco anos que meu pai faleceu", conta Val Andrade, de 54 anos.
Manter a autoestima durante o tratamento não é apenas questão de vaidade, interfere na saúde mental e faz toda diferença na luta contra o câncer, como explica a oncologista da Oncoclínicas Brasília, Andrea Farias. Ela também destaca que o apoio da família e amigos é primordial no processo. "A assistência multidisciplinar faz toda a diferença. A paciente tem que estar segura em seu tratamento e nós devemos apoiá-la em toda sua trajetória. O acompanhamento psicológico faz toda a diferença", diz. A médica acrescenta: "manter a autoestima dessas mulheres é o nosso grande desafio. Temos que oferecer e discutir alternativas para que seu dia a dia seja mais fácil. Temos que falar sobre queda de cabelo, libido, fadiga, insônia, etc... Permanecer juntas nesta luta é o melhor da nossa missão", enfatiza.
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Outubro rosa
O câncer de mama, no Brasil, é o segundo com mais incidentes entre as mulheres, atrás apenas dos tumores de pele do tipo não melanoma. De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, este ano, a previsão do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de 66.280 casos no país. No Distrito Federal, o número de diagnósticos deve alcançar 730. Apesar da incidência, os especialistas asseguram que quanto mais cedo for descoberto, maior a chance de cura. Com o objetivo de alertar a importância da prevenção, o mês de Outubro Rosa é dedicado ao acolhimento, orientação e realização de campanhas em prol da saúde feminina.
Três perguntas para
Patrícia Werlang Schorn, coordenadora do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Santa Lúcia
Quais exames preventivos devem ser feitos e qual a importância deles?
O primeiro é a mamografia, a partir dos 40 anos, uma vez ao ano. Nas pessoas que têm fatores de riscos, e a gente entende fator de risco principalmente história familiar positiva, uma mulher que tem a mãe, a tia, a irmã ou avó com câncer de mama deve começar o rastreamento aos 35 anos. O câncer de mama é uma doença bastante prevalente e incisiva, ela acomete uma em cada oito mulheres do mundo, e a cura é proporcional ao diagnóstico precoce, quanto menor a doença, maior a possibilidade de curar a doença.
Os hábitos diários influenciam no desenvolvimento da doença?
Há um aumento da incidência do câncer de mama em todas as idades e também em mulheres jovens, com menos de 35 anos. A gente não sabe exatamente porque isso tem acontecido. Existe uma possível relação de hábitos de vida para diagnóstico mais precoce. E nisso entra a exposição de uma geração inteira a alimentos industrializados e mais poluição no planeta, por exemplo, mas é muito perigoso colocar isso como fator porque não se sabe a causa exata disso.
Quais atitudes diárias para prevenir a doença?
As chances de cura são muito altas e, hoje, estimulamos atitudes para prevenção. E isso com todos os câncer e inclusive o de mama. A gente se preocupa muito com o sedentarismo, é importante fazer exercícios físicos. A obesidade é um fator de risco, assim como o tabagismo e o abuso de álcool. Em relação ao tratamento, ele depende do tipo de câncer detectado. Ele pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e imunoterapia. Essas estratégias terapêuticas são colocadas de acordo com o tipo de doença, a idade da paciente e o tamanho da doença.
Prevenção
Unidades básicas de saúde do DF estão realizando ações locais para o Outubro Rosa, como palestras, coleta de exame citopatológico e solicitação de mamografia no público-alvo. A Secretaria de Saúde também disponibiliza testes rápidos para mulheres e parceiros que estiverem nos eventos, além de rodas de conversa, Tai Chi Chuan e Yoga, com café da manhã, automassagem e meditação. Em alguns hospitais, a rede organiza um mutirão de reconstrução mamária. Confira:
Hospital Regional de Taguatinga: A expectativa da unidade é atender mais de 60 pacientes. O mutirão no HRT é tradicional e foi realizado pela primeira vez em 2016. Desde então, 274 mulheres já foram atendidas. Também estão previstas tatuagens de aréolas com tatuadores voluntários. A iniciativa tem apoio da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), que disponibiliza cirurgiões plásticos voluntários. Além disso, a Sociedade de Anestesiologia oferece anestesistas voluntários para o atendimento das ações e a Motiva Implantes doou próteses mamárias.
Hospital Regional de Ceilândia: Um mutirão entre 17 a 21 de outubro pretende atender dez pacientes para reconstrução, com cirurgiões plásticos e médicos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Ainda, durante este mês, 70 servidoras da unidade farão exame citopatológico no Ambulatório de Ginecologia da unidade.
Hospital Regional da Asa Norte: O setor de mastologia da unidade vai atender pacientes com lesões suspeitas de câncer. Serão oito cirurgias de retiradas de lesões suspeitas e mais quatro (podendo chegar a 8) reconstruções mamárias com implantação ou não de prótese. As cirurgias acontecem todas às segundas-feiras do mês de outubro.
Mamógrafos
O DF tem 11 mamógrafos na rede pública, sendo 2 sob gestão do Instituto de Gestão Estratégica (Iges) que comanda o Hospital de Santa Maria e o Hospital de Base. Juntos, os equipamentos realizaram, este ano, 18.288 exames de mama, uma média de 2 mil mamografias por mês. O Centro Especializado em Saúde da Mulher (Cesmu) inaugurou o mamógrafo na campanha do Outubro Rosa de 2021 e realizou 2.064 mamografias desde então. O Cesmu também realiza consultas multidisciplinares para mulheres (Ginecologia, Endocrinologia, Dermatologia, Reumatologia, Homeopatia, Acupuntura, Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Serviço Social, Farmácia e Sala de Vacinas) e já fez 7.595 consultas neste ano.