A ex-ministra do governo de Jair Bolsonaro e senadora eleita com 44,98% dos votos válidos do Distrito Federal, Damares Alves (Republicanos) participou do CB. Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília — ontem. Entrevistada pela jornalista Ana Maria Campos, a futura senadora falou de projetos que pretende propor no Congresso Nacional e de outros anseios no mundo da política.
No DF, ela concorria com outra candidata da base do governo federal, a ex-deputada Flávia Arruda (PL), de quem Damares confessou não guardar mágoas. "Eu acredito no potencial político dela. Do marido (José Roberto Arruda), não. Dele, eu quero distância", disparou. A ex-ministra revelou não ter intenção de retornar ao ministério, caso seja convidada num eventual segundo mandato de Bolsonaro, e que também não pretende se candidatar a governadora do DF. "Não tenho mais idade para isso. Ser gestor é muito difícil", declarou. No Senado, Damares quer participar da proposição de reforma no Código Penal, no qual promete "radicalizar".
Damares diz que está disposta a disputar a presidência do Senado, aposta numa reforma do Código Penal, para tornar as leis mais rígidas e se mostra aberta a dialogar com parlamentares de todas as ideologias em busca da aprovação de projetos para crianças, mulheres e jovens. “Vamos descer do palanque”, afirma.
Podemos avaliar que o presidente Bolsonaro foi vitorioso no Distrito Federal?
Sim. A gente já estava sentindo esse termômetro nas ruas. Muita gente também ficou surpresa com a diferença de votos que eu tive em relação à segunda colocada. Eu não fiquei tão surpresa, sabia que seria eleita. O termômetro da rua não erra. Quero lembrar também que a bancada federal conservadora do DF está muito forte. Outra coisa que devemos comemorar é que agora as mulheres são maioria no Senado. Três mulheres concorreram ao cargo e eu fiquei muito feliz com isso, porque é um trabalho meu, muito antes de ser ministra da Mulher, trazer uma maior participação feminina na política.
A senhora sempre foi muito confiante de que seria eleita, desde quando seu nome surgiu como candidata. Por que tanta convicção?
Eu estou há 24 anos no DF. Todo mundo achava que eu era desconhecida. Mas estava nos bastidores, nos lugares mais humildes durante esse tempo. Eu não sou pastora de uma igreja. Eu pertenço a uma denominação, mas, por fazer um trabalho de formação de lideranças e proteção de crianças, estava em todos os espaços. Nesses 24 anos, estava em todas as igrejas nos fins de semana. Então, eu só tinha que dizer para eles que eu, aquela pastora, agora era candidata, e a receptividade foi muito grande. E também sabia que o DF está em busca de uma nova política de ideias e propostas que é a de dizer o que nós precisamos e podemos fazer, sem mentira, enganação e conchavos. Não prometi nenhum emprego para ninguém e nem fiz acordo com nenhum segmento. Eu vou apresentar pautas muito caras para mim, como reestruturação da carreira de policiais, professores e médicos. Tudo sem o toma lá, dá cá.
A última vez que a senhora veio ao CB. Poder, disse que será uma parlamentar fiscalizadora, mesmo do governo Bolsonaro…
É muito fácil a gente acusar o chefe maior, mas muita coisa acontece com o técnico aqui embaixo. Como estive nos bastidores, sei como funciona. Eu serei, no Senado, essa ajudadora do Bolsonaro no enfrentamento à corrupção. Sei como fazer um requerimento de informação para pegar um ministro do outro lado. Eu fiz isso a vida inteira. Vou fazer esse acompanhamento, porque o que o presidente quer é a aplicação correta de recursos lá na ponta. Ibaneis também. Os gestores terão uma senadora para trazer muitos recursos, para acompanhar, aplaudir, mas também para criticar e denunciar quando for preciso.
Muitos integrantes do governo Bolsonaro foram eleitos agora. Isso quer dizer que a população está aprovando esse governo?
O povo acredita no trabalho proposto por Bolsonaro e acreditou e aplaudiu o trabalho de Damares. Eu fui eleita porque eu consegui mostrar o que eu fazia. Só com o voto do segmento religioso eu não seria eleita. Mas a partir do momento que o Brasil e o DF conheceram o meu trabalho, uma ministra barulhenta, eu tive a aprovação. Os demais também foram eleitos pelo trabalho que fizeram.
Ficou alguma mágoa entre a senhora e a sua adversária Flávia Arruda?
Espero que do lado dela não, porque do meu não tem. Pelo contrário: em todas as entrevistas não tem uma fala minha dizendo qualquer coisa negativa da Flávia. Eu acredito no potencial político dela. Do marido (José Roberto Arruda), não. Dele, eu quero distância. Mas nela eu acredito. A Flávia aprendeu a ser uma líder política, sabe articular. Creio que essa menina vai ter uma carreira política brilhante e solo. Não vai precisar da sombra do marido. Eu torço muito por Flávia. Ela pode vir para o gabinete para a gente trabalhar juntas.
Por que essa restrição em relação ao Arruda?
Ele é a velha política. Foi duro e agressivo e não precisava ter baixado o nível comigo. Mas sabe o que aconteceu? Ele deu um tiro no pé. As pessoas ficaram muito bravas quando ele foi atacar minha honra e minha moral. Não quero ser apelativa, mas eu sou uma senhora de 58 anos, com uma trajetória.
Caso Bolsonaro seja reeleito, a senhora se imagina tirando uma licença do seu mandato e voltando para o ministério?
Tenho conversado com ele sobre isso, mas eu não quero. Fiz uma promessa para o eleitor. Eu quero estar lá no momento das grandes decisões que o Senado vai tomar agora. Em 2023, decisões vão impactar gerações e eu me preparei para esse momento.
Quais são essas decisões?
A reforma do Código Penal. Eu não posso pensar em economia sem segurança pública, assim como educação. De que adianta ter uma escola linda, bem equipada, com professores espetaculares, mas no caminho da escola a criança poder ser estuprada, assassinada, torturada e machucada? Não. A segurança tem que vir junto. Adianta trazer tanta empresa para o DF e o trabalhador não conseguir chegar a ela porque foi assassinado, porque alguém tentou roubar um celular? Não. Então, a pauta de segurança pública vai ter que ser prioritária. Também, eu sempre falei, como ministra, que toda delegacia deveria ter um núcleo de atendimento à mulher. Apenas 19% dos municípios do Brasil têm uma delegacia da mulher, mas todos têm uma delegacia. Por que nessa delegacia não pode ter uma salinha direcionada para isso com uma porta? A mulher sente vergonha de dizer que acabou de ser estuprada. Nessas decisões, eu quero estar presente no Senado.
Pensa em ser candidata a governadora do DF?
Não, porque não tenho mais idade para isso. Daqui a oito anos, eu quero estar escrevendo livro e apoiando quem está na gestão. A gestão é desgastante. Eu sou muito jovem, mas quero fazer outras coisas. Vou viajar muito e tomar vinho. Ser gestor não é fácil.
As pessoas imaginam que você vai ser uma voz crítica em relação a medidas do STF. Esse vai ser um papel da senhora?
Claro. Quando a gente abre a Constituição, a gente vê as atribuições do Senado e do senador. Eu não vou abrir uma guerra contra o STF, eu vou cumprir a Constituição. Quando um servidor público comete um erro, ele é exonerado. Se é um parlamentar, é cassado. Quando é um presidente, ele sofre impeachment. Um ministro do STF não pode ser investigado? Eles são semi-deuses? Eles também não são movidos por erros e paixões? Vamos ser verdadeiros: eles não são intocáveis. Se um ministro do Supremo cometer um equívoco enquanto eu for senadora, eu não vou me omitir.
Qual vai ser o primeiro projeto da senadora Damares Alves?
Reforma do Código Penal vai ser o primeiro. Vamos fazer a adequação das leis penais. E a gente vai radicalizar. Vou falar de penas muito altas. Não dá mais para prender um pedófilo de manhã e soltar à tarde, pagar fiança para ficar em casa. Outro projeto é uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que traga para a Carta Magna a acessibilidade como direito fundamental, porque aí todo mundo (estados e municípios) vai ter que se adequar a isso.
Quem a senhora acha que está se credenciando a presidente da Casa?
Damares. Já existem conversas nos bastidores, mas eu quero lembrar que houve uma renovação muito grande no Senado. Quem estiver lá não se garanta porque esse voto vai ser muito bem pensado, assertivo. Acho que agora, com os novos senadores eleitos, muda muita coisa na Casa.
A senhora é um nome conhecido nacionalmente. Porque a senhora escolheu se candidatar aqui, quando já tinha uma candidata governista?
Porque o DF me escolheu. Eu não seria candidata. Eu saí do ministério para ir para a rua pedir voto para Bolsonaro. Mas a imprensa publicou que eu tinha transferido meu domicílio eleitoral para cá e que seria candidata e o povo aceitou. Então, eu decidi ficar aqui. E vi algumas incoerências do ex-governador Arruda, que não queria dar palanque para Bolsonaro. O palanque do presidente foi o meu.
No Congresso, dá para conversar com a deputada Erika Kokay (PT), que tem um perfil completamente diferente do seu?
Claro. Já tivemos embates, mas eu gosto dela, porque ela luta pelo que acredita. E eu vou estar com a Erika pelo DF, pelas crianças. Tem momentos que a gente vai ter que conversar. A gente vai brigar, mas a gente tem muita coisa que converge. Ela é apaixonada por crianças e pelas minorias.
Nesse diálogo aberto, é possível conversar com o Lula caso ele seja eleito presidente?
É difícil encontrá-lo sóbrio. Então, é difícil conversar com uma pessoa sob efeito de álcool o tempo todo. Mas se ele quiser conversar comigo estou disposta a conversar.
Quem a senhora acha que a senadora Simone Tebet (MDB) vai apoiar no segundo turno presidencial?
Ela pode apoiar o Lula, mas os eleitores dela vêm com Bolsonaro. A nata dos eleitores da Simone são produtores agrícolas. Esse povo não quer esquerda. Talvez uma terceira via, mas a esquerda eles não querem. Acredito que vai ser automática a migração de votos de Tebet para Bolsonaro.
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