Julgamento

Três são absolvidos em caso de espancamento de jovem no Guará 2

O Correio acompanhou a audiência desta quinta-feira (29/9), no Tribunal do Júri no Guará. Três acusados foram absolvidos do crime que vitimou Daniel Junio Rodrigues Freitas. Outros quatro ainda serão julgados

Réus por homicídio duplamente qualificado, três dos sete acusados pelo assassinato de Daniel Junio Rodrigues Freitas, 24 anos, vítima de espancamento em uma praça do Guará 2, foram absolvidos. O julgamento ocorreu nesta quinta-feira (29/9), no Fórum Desembargadora Maria Thereza Braga Haynes, no Guará. A sessão demorou quase 15 horas — começou às 9h e terminou às 23h40. Os outros quatro acusados ainda serão julgados.

Luiz Alves de Araújo, 46, o filho dele, Gustavo Soares, 20, e Kelvin Souza, 20, foram os primeiros, dos sete réus, a serem escutados no tribunal. Eles foram acusados de espancar Daniel até a morte com chutes e pisadas em uma praça pública da QE 40, em frente a um bar. O crime ocorreu na madrugada de 10 de outubro do ano passado e chocou os brasilienses depois da repercussão do vídeo que mostra parte das agressões. Na filmagem, Daniel aparece caído ao chão e sendo chutado por um grupo (veja o vídeo abaixo).

A Polícia Civil do DF (PCDF) identificou e prendeu sete pessoas. Luiz, Gustavo e Kelvin também foram os primeiros a serem capturados, em novembro de 2021. Em janeiro deste ano, outros quatro rapazes foram detidos e permanecem presos no Complexo Penitenciário da Papuda.

Depoimento

Testemunhas contra e a favor dos réus prestaram os primeiros depoimentos, que foram acompanhados pelo Correio. Um deles foi de uma moradora do prédio onde moram Luiz, Gustavo e a matriarca da família. Na fala, a mulher contou que Luiz trabalhava há cerca de 14 anos como zelador do edifício e era uma pessoa de confiança dos condôminos. “Ele ficava até com as chaves de alguns apartamentos. Nunca se envolveu com nada de errado. Isso foi uma fatalidade”, disse.

O primeiro dos acusados a prestar declarações foi Luiz. Ele relatou que decidiu comemorar o aniversário do filho no bar Oásis, na QE 40. Inicialmente, a festa ocorreria em um outro local, próximo onde mora, no conjunto habitacional Lúcio Costa. “Ele (Gustavo) disse que seria melhor no Oásis, porque era maior e caberia mais gente. Falei que não ia ter muito dinheiro, mas ele decidiu chamar poucas pessoas, em torno de nove e 10.”

Na noite de 9 de outubro, Luiz, o filho Gustavo e a mãe acionaram um amigo motorista de transporte por aplicativo para buscá-los em casa e levá-los até o bar. Em depoimento à Justiça, o motorista disse que buscou a família por volta das 20h30. Enquanto estavam no local bebendo e comemorando, segundo Luiz, ele foi ao banheiro, quando foi surpreendido por Daniel. “Ele disse uma coisa comigo, mas não entendi. Depois, falou novamente, e eu também não ouvi, porque o som estava muito alto. Foi quando ele me deu um soco no rosto e eu caí ao chão”, afirmou.

Luiz relatou que, ao se levantar, ainda tonto, viu o filho pedindo para os dois se acalmarem, momento em que os seguranças do estabelecimento expulsaram Luiz, o filho e os colegas que estavam na festa. “Quando saímos, o Daniel foi para fora com mais quatro caras e com garrafas de vidro nas mãos. Eles começaram a tacar essas garrafas na gente.”

Em juízo, o réu disse que houve uma troca de tapas entre o grupo de Daniel e o grupo de Gustavo e, quando se deu conta, viu Daniel já caído ao chão. No vídeo, é possível ver Luiz desferindo dois chutes contra o quadril da vítima. No tribunal, o acusado confessou que deu esses dois golpes, mas que não tinha nenhuma intenção de matá-lo. “É complicado. Era para ser um dos dias mais felizes da nossa família e estamos vivenciando essa tragédia”, finalizou.

Gustavo reforçou a versão do pai. Em um depoimento de quase 30 minutos, o réu acusou Daniel de tê-lo xingado de vagabundo dentro da boate e dito que o pai dele era um traficante. Contou, ainda, que a vítima ameaçou a família dizendo que buscaria uma arma de fogo dentro do carro, que estava estacionado em frente ao bar. “Não dei nenhum chute nele. A todo momento, fiquei ao lado da minha mãe acalmando ela. Eu nunca vi o Daniel.”

Kelvin, por sua vez, também alegou que Daniel estaria com garrafas na mão para agredir o grupo. “Acabaram me segurando para não ir para cima dele.” No entanto, apesar de dizer em juízo que não teve participação no espancamento, Kelvin é um dos jovens que aparece de boné branco e blusa preta chutando Daniel.

Defesa e acusação

O Ministério Público (MPDFT) entendeu que os réus cometeram crime de homicídio duplamente qualificado. Testemunhas de acusação, incluindo um policial militar — que estava na praça, no momento do crime, e chegou a efetuar nove disparos de arma de fogo para apartar os agressores —, contaram que o grupo tinha a intenção de matar Daniel. “Estamos falando de um espancamento, de uma morte por linchamento. Eles decidiram fazer justiça com as próprias mãos e o que colocamos aqui não é se a vítima se tratava de um traficante, com mandado de prisão em aberto ou com passagens por homicídio, mas de um fato, de uma vida”, destacou o promotor.

A defesa dos réus, composta pelos advogados Afonso Lopes, Marília Brambila, Leonardo Carvalho Carvalho e Erickson Reis Maia, alegou aos jurados que Daniel sofreu traumatismo craniano ao correr, tropeçar no meio-fio e bater com a cabeça no chão, e não pelos golpes desferidos pelos acusados. “Houve um barulho muito forte no momento da queda, e isso é relatado pelas testemunhas. Ele bateu com a cabeça e ficou desacordado”, disse o advogado Carlos.

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