Em defesa de um governo "humanizado" e voltado para a resolução das "mazelas sociais causadas pela pandemia da covid-19", a senadora Leila do Vôlei (PDT), candidata ao Palácio do Buriti, acredita que o momento do Distrito Federal pede uma gestão feminina. Ela apresentou, nessa segunda-feira (28/9), as principais propostas do plano para a assistência social, saúde e mobilidade urbana, em entrevista ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília. Leila, que em 2018 foi a primeira mulher eleita pelo DF para o Senado Federal, foi a quarta postulante ao GDF sabatinada pelo Correio. A quatro dias das eleições de 2022, ela prometeu manter a paridade de gênero e criticou o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges), criado por Ibaneis Rocha (MDB).
A senadora garantiu que vai concentrar esforços, logo nos primeiros meses de gestão, caso eleita, em combater a fome e a insegurança alimentar na capital do país, por meio de restaurantes comunitários itinerantes e gratuidade das refeições para crianças de até 6 anos. Ao afirmar que o modelo do Iges acarretou prejuízos ao DF, a candidata citou o interesse em retomar a Fundação Hospitalar, criada em 1960 funcionando até 2000, como um órgão de administração central, responsável pelas atividades executivas e operacionais. "A fundação seria um modelo perfeito para melhorar não só a prestação de serviços, mas as estruturas dos hospitais", defendeu, em entrevista à jornalista Ana Maria Campos.
O que significa para o DF ter uma mulher no comando?
É outro olhar. Às vezes, no Senado, o olhar (é voltado) para economia, relações exteriores e crises internacionais, mas não focamos muito no que é mais sensível para a população, que são as pessoas. É cuidar da primeira infância e das mães, que precisam trabalhar e levar renda para suas famílias, mas que também precisam que o filho esteja protegido. É pensar na mulher como um ser humano que precisa de uma creche. São populações que não recebem o olhar masculino, mas a mulher, naturalmente, se vira para essas situações. É o melhor momento para ter esse olhar feminino, diante das sequelas sociais que a pandemia trouxe. Hoje, estou como procuradora especial da mulher no Senado. Vivo a realidade de não ter paridade e equilíbrio de forças. Obviamente, estando governadora, quero essa paridade. Quero que as mulheres tenham voz no meu governo. É fundamental ter mais mulheres participando do poder e ocupando esses espaços. Somos muito sub-representadas, em todas as áreas, mas, na política, isso é escancarado. Não posso dar um exemplo diferente, por tudo que represento e luto.
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Como a senhora pensa a questão da assistência social?
Estamos vivendo uma crise sanitária e econômica, com reflexo no social. As pessoas estão morrendo nas filas dos Cras (Centros de Referência de Assistência Social. Janaina Nunes Araújo, 44 anos, morreu na fila da unidade do Paranoá, na madrugada de 17 de agosto). Precisamos ampliar a rede, fortalecer as estruturas e aumentar o pessoal. Hoje, mais da metade dos brasilienses estão em insegurança alimentar. Humanizar é, justamente, priorizar as pessoas. A essência do nosso governo é focar nisso, melhorar a assistência social, priorizar o combate à fome e fortalecer os restaurantes comunitários, com gratuidade para crianças de até 6 anos e oferta também de jantar. Vamos instituir o restaurante comunitário itinerante, no início do governo.
Como seria?
Com trailers e caminhões, para levar a comida in natura para regiões mais distantes, como Varjão, Fazendinha, Pôr do Sol e Sol Nascente, para a população sem acesso direto aos restaurantes comunitários. Estamos concluindo o mapeamento (das regiões com maior carência) para buscar parcerias no início do governo, revendo até mesmo o valor (das refeições) e garantindo a gratuidade para crianças, para contribuir não só para nutrição, mas para a economia das famílias.
O DF tem recursos suficientes para os programas que a senhora propõe e para ampliar outros benefícios sociais?
O orçamento do DF vai girar em torno de R$ 57 bilhões. Acredito que, se bem gerido e com planejamento, vamos conseguir. Obviamente que, para as propostas apresentadas no nosso programa de governo, vamos precisar do governo Federal e de financiamento internacional, para, por exemplo, a expansão do metrô, um projeto ousado, que estamos tirando da gaveta. Os ônibus são importantes, mas não podem ser o principal modal. Vamos expandir para Santa Maria, Gama, Pôr do Sol e até para a Asa Norte, fazendo conexão com o monotrilho para Sobradinho e Planaltina. Vamos criar a linha do VLT (veículo leve sobre trilhos) atrás do Jóquei, pegando o Aeroporto, a W3 Sul e Norte e a L2 Sul e Norte. Esses recursos serão, em parte, próprios, mas a outra parte será do governo Federal e de financiamento internacional.
Qual é a solução para o Centrad?
Vamos ter de sentar com Ministério Público, Caixa Econômica e GDF para tentar resolver. É um ponto-chave para tudo que planejamos, para buscar recursos e financiamentos, mas tem de ser uma solução boa para todos. Pretendemos chegar a um acordo para pagar o que foi inicialmente orçado, porque, se formos pensar em juros, teremos de buscar mais prazos, o que não sei se seria interessante. Temos tentado buscar informações quanto à questão fiscal do governo, mas, só assumindo, vamos conseguir entender melhor.
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Qual é a solução para a saúde?
Primeiro, zerar a fila das cirurgias eletivas. O governador, agora, decidiu agir, durante o pleito, porque faz parte do programa de todos os outros candidatos. Propomos parceria com a rede privada, por meio de chamamento, e um grande mutirão, no contraturno. Acredito que é uma solução absolutamente plausível. Ontem (na terça-feira, durante debate entre candidatos ao GDF da TV Globo) o governador (Ibaneis Rocha) falou muito das unidades de saúde que construiu no DF, mas ele não as equipou, não colocou pessoal, faltam médicos, enfermeiros e materiais. Ele construiu as estruturas, mas não deu condições de a população ser cuidada. A intenção inicial do Iges era ser como o Instituto Hospital de Base (criado pelo ex-governador Rodrigo Rollemberg). No fim do governo Rollemberg, o Hospital de Base estava incrível, o atendimento tinha melhorado muito e estava funcionando. Quando o governador (durante a campanha de 2018) diz que iria extinguir mas depois cria o Iges, não dá para confiar. Esse modelo trouxe muitos prejuízos para o DF, não só na prestação de serviços, mas o rombo, de quase meio bilhão de reais. Por mais que a gente tente continuar e reestruturar, dando mais transparência, não vai mais convencer a população de que é um bom modelo. Temos buscado repensar a gestão, de repente com administração direta, como era a Fundação Hospitalar. Seria um modelo perfeito para melhorar não só a prestação de serviços, mas as estruturas dos hospitais.
É possível ter boas relações com o próximo presidente da República?
Estou há quatro anos no Senado, sou de oposição. Ajudei a aprovar 15 leis, e isso mostra minha capacidade, porque quando você é oposição, existe dificuldade de ver projetos e iniciativas avançarem. Descobri habilidades, que acredito ter trazido do esporte, de dialogar, ser resiliente, persistir, convencer e mostrar meu ponto de vista. Certamente, terei essa facilidade com o próximo governo federal. Vou bater na porta de qualquer um que vier. Por Brasília, a gente se submete a qualquer situação.