As sequelas neurológicas que se apresentam após a infecção por covid-19 têm afetado a população de maneira cada vez mais contundente. A "condição pós-covid" ou "covid longa" é uma doença já reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que surge até três meses após a infecção pelo vírus e consiste em uma série de sintomas que vão de fadiga, dificuldade de memorização e podem chegar a pequenos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) com sérias consequências neurológicas.
Um estudo desenvolvido pela Fiocruz Minas mostra que metade das pessoas diagnosticadas com covid-19 desenvolvem sequelas que podem perdurar por até um ano. A pesquisa acompanhou 646 pacientes por 14 meses e constatou que 50,2% deles tiveram sintomas pós-infecção, isto é, apresentaram a "covid longa". Ao todo, a pesquisa contabilizou 23 sintomas recorrentes, após o término da covid-19. A fadiga, que se caracteriza por cansaço extremo e dificuldade em realizar atividades rotineiras, é a principal queixa DE 35,6% dos pacientes.
Segundo a pesquisadora Rafaella Fortini é importante as pessoas buscarem tratamento para os sintomas desenvolvidos pós-covid, mesmo que sejam menos graves. "Há uma tendência de procurar tratamento apenas para as sequelas mais graves, como a trombose. Entretanto, é fundamental buscar ajuda médica para as outras questões, pois elas também podem interferir bastante na qualidade de vida das pessoas", orienta a pesquisadora.
A advogada brasiliense Priscilla Gurgel, de 38 anos, teve covid-19 em outubro de 2020 e em janeiro de 2022. Desde que foi diagnosticada pela primeira vez, ela tem tido dificuldades significativas de memorização. "Eu e meu companheiro plantamos ipês na nossa chácara há uns três anos. Um dia, após a covid, estávamos olhando para as árvores e eu manifestei a vontade de vê-los floridos pela primeira vez, foi quando veio a resposta: os ipês floriram no ano passado", revelou ao explicar que não tinha qualquer recordação do fato.
O médico infectologista e presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaéz, explica que as sequelas são decorrentes de fatores fisiológicos. "A fadiga, dificuldade em se realizar pequenos esforços e a perda da qualidade de vida podem ser decorrentes da persistência viral em alguns tecidos, da grande reação inflamatória que o vírus causa ao entrar em contato com o organismo e também a gatilhos imunológicos que podem causar manifestações autoimunes", esclareceu o profissional.
De acordo com o médico, é importante saber diferenciar sequela decorrente da covid-19 de "covid longa". "As sequelas têm relação com a intensidade que a covid atingiu o paciente. As principais sequelas advêm de dano no pulmão, que podem gerar um comprometimento maior ou menor da função respiratória após a infecção. Casos graves de covid-19 geralmente causam dano pulmonar intenso quando a oxigenação no sangue chega a ser menor que 94%. Os danos podem se estender ao pulmão, aos vasos sanguíneos, sistema intestinal e atingir até mesmo o sistema nervoso central", explicou.
A diretora comercial Geanny Araújo, de 46 anos, teve sintomas ainda mais graves em decorrência da covid-19. Ela foi infectada em agosto de 2020, ficou internada por 15 dias, mas depois disso acabou desenvolvendo dores de cabeça crônicas, perda de memória e insônia. Ao buscar tratamento, descobriu que teve micro Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs). "Ao buscar o tratamento pós-covid, fui encaminhada para uma consulta com um neurologista, onde tratei os sintomas com a estimulação neurológica feita por meio da aplicação de botox. As dores de cabeça melhoraram, mas a insônia e as falhas de memória permanecem", declarou Geanny.
O infectologista José David Urbaéz explica que fenômenos trombóticos, como os micro AVCs, podem acontecer como sequela em pacientes com covid grave. "Processos inflamatórios e acometimento dos vasos sanguíneos decorrentes da covid-19 podem gerar trombose, que se manifestam de algumas maneiras, entre elas, como acidente vascular cerebral", esclareceu o especialista. Geanny conta ainda que sofreu uma forte queda de cabelo por conta da doença. "Meu dermatologista estimou aproximadamente 30% de volume perdido", revelou.
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