Fotografia

Exposição de fotos valoriza o trabalho de quem se dedica a cuidar do outro

Organizada pelo coletivo Filhas da Mãe — que une filhos, outros parentes, amigos e vizinhas de pessoas com demência — a mostra também chama atenção para o processo de envelhecimento

O envelhecimento traz novos desafios e, muitas vezes, a necessidade de buscar um profissional que ajude no implacável processo. Em mais uma iniciativa para valorizar as cuidadoras, o coletivo Filhas da Mãe —  que une filhos, outros parentes, amigos e vizinhas de pessoas com demência — lança a exposição gratuita Mulheres que cuidam e cuidam de si, disponível a partir desta sexta-feira (22/09), no Sesc da 504 Sul. Os visitantes poderão conferir fotografias de 20 integrantes do coletivo que compartilham histórias semelhantes em relação ao cuidado de entes queridos que enfrentam o problema da demência. De autoria do fotógrafo Claudio Reis, as obras ficam disponíveis para o público entre 8h e 22h, até 23 de outubro. No evento serão arrecadas fraldas geriátricas para distribuição entre cuidadoras de Ceilândia.

A psicóloga especializada em recursos humanos Cláudia Oliveira, 62, é uma das fotografadas para a exposição. Ela cuida do marido que sofre da doença de Huntington e conta que a experiência é uma oportunidade de estar trabalhando em prol da velhice. “Por outro lado, volta as atenções para a cuidadora no lugar do cuidado”, diz a psicóloga.

Cláudia conta que ser cuidadora não é fácil e que o projeto traz a oportunidade de não se anular, dada a natureza integral do trabalho com a pessoa que tem algum tipo de demência. A psicóloga estaca que a iniciativa é um espaço para se pensar no futuro de um país que está envelhecendo. “O Brasil quase não tem políticas públicas com foco nas pessoas mais velha. A população está ficando cada vez mais velha e não estamos pensando nisso”, preocupa-se.

Acostumada a estar sempre por trás das câmeras, a jornalista Cristiana Freitas, 58, nunca tinha sido fotografada antes. Ela cuida da mãe há 10 anos e descobriu a dura verdade de que a demência não é algo que pode ser barrado, mas que é preciso aprender com cada fase da evolução da doença. Agora, a maior missão de Cristiana é dar conforto e qualidade de vida à mãe de 88 anos. A jornalista é grata pelo fato de a mãe ter condições de ter pessoas que cuidem dela, mas reconhece que esse privilégio não é para todos e, por isso, acha importante chamar a atenção para que o Estado entre em ação com medidas que amparem essa população.

A engenheira Jeruza Cozzolino, 60, estranhou um pouco a experiência de ser fotografada porque não é de seu feitio se expor, mas topou porque gosta da iniciativa e da filosofia do coletivo. Jeruza conta que tinha dois empregos e foi um impacto largar tudo para voltar a morar na casa do pai para cuidar dele. Hoje, ela brinca que é a “cinderela das 16h”, horário em que a trabalhadora doméstica que ajuda a prestar atenção no que o pai faz vai embora. “É preciso se acostumar com a ideia”, conforma-se. A engenheira também aprendeu a lidar com as oscilações de humor, tão comuns de quem está em processo de demência, com humor. "Meu pai sempre foi um cara bem-humorado e aprendemos isso com ele", disse.

Profissão em ascensão

O termo cuidadora, no feminino, é usado porque, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mo Brasil, 96% da atividade de cuidado é feita por mulheres. Estudos também projetam um aumento na necessidade desses profissionais. De acordo com o estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade de Queensland, da Austrália, no Brasil, cerca de 1 milhão de pessoas sofrem de demência. A expectativa, segundo a pesquisa, é que esse número quadruplique em três décadas.

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