ELEIÇÕES 2022

Leandro Grass (PV) diz que vai zerar as filas de cirurgias e exames

Ao ser sabatinado pelo Correio, o candidato da federação PV-PT-PCdoB não poupou críticas a Ibaneis e Bolsonaro. Ele defendeu o fim das escolas militarizadas e se comprometeu em desmobilizar o Iges

"Muito trabalho, contato com a população e esperança de que vamos virar o jogo e recuperar nossa cidade." É assim que o distrital Leandro Grass (PV), candidato da federação PV-PT-PCdoB ao governo do Distrito Federal, descreve os últimos atos de campanha. A 10 dias do primeiro turno das eleições de 2022, o Correio voltou a sabatinar, ontem, os postulantes ao Palácio do Buriti. Grass, que é o nome oficial do ex-presidente Lula (PT), foi o primeiro político a participar do CB.Poder, programa feito em parceria entre o Correio e a TV Brasília. Amanhã, é a vez do senador Izalci Lucas (PSDB), da federação PSDB-Cidadania e PRTB, que será recebido a partir das 13h20. A rodada anterior de entrevistas do Correio com os políticos que disputam o GDF foi feita em agosto.

Ao jornalista Carlos Alexandre de Souza, Grass defendeu o fim das escolas militarizadas e se comprometeu a acabar com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF), modelos implementados por Ibaneis Rocha (MDB). As críticas ao atual ocupante do Buriti, que disputa a reeleição, permearam os principais momentos da sabatina. O distrital chegou a relacionar o governador ao presidente Jair Bolsonaro (PL), caracterizando-os como "atraso, destruição, morte e barbárie" e se colocando, ao lado de Lula, como representante do "progresso, do desenvolvimento humano, da civilização, da defesa da Constituição e da democracia".

O candidato não negou que esperava receber apoio do petista em atos presenciais na capital do país, mas reconheceu o foco nacional da campanha do ex-presidente. Lula esteve no DF em 12 de julho, em um evento no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, quando, ao lado de Grass, reforçou a preferência pelo distrital na corrida ao Buriti. Rafael Parente (PSB), que à época também disputava o GDF, e Keka Bagno (PSol), candidata ao governo local pela federação PSol-Rede, também estiveram no ato. Parente abriu mão da participação nas eleições, em 25 de agosto, para apoiar a candidatura de Leandro — a última pesquisa Correio/Opinião, de 5 de setembro, mostrou o distrital em quarto lugar, com 5,5% dos votos. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

O que os eleitores brasilienses têm pedido mais nesses últimos dias de campanha?

Em todo lugar que vou, a primeira pergunta é: "E a saúde, como você vai resolver?" Tornou-se um tema, de fato, muito preocupante, pela crise que estamos vivendo. É o pior momento do DF, especialmente na saúde. O transporte é assunto recorrente. As pessoas estão exaustas com esse sistema, reclamam da passagem, da demora e dos ônibus cheios. Também temos sido questionados sobre economia e como melhorar emprego e renda. Muitos comerciantes se queixam do baixo consumo, porque as pessoas estão sem dinheiro.

E o que você propõe para essas três áreas, começando pela saúde?

Precisamos levar a (estrutura da) saúde para perto da casa das pessoas, com ampliação das equipes, com médicos e enfermeiros perto das comunidades e mais unidades básicas e postos de saúde. Por que essa tem de ser a principal estratégia? Se não fizermos isso, vamos continuar enxugando gelo. Os hospitais têm de ser reformados? Sim, e nós vamos fazer isso, e ampliar, na medida do possível, os centros de referência e as policlínicas.

Tem dinheiro (para as propostas citadas). Temos visto o governo repassar quase R$ 1 bilhão para o Iges por ano. Vamos desmobilizar o Iges, mantendo os contratos vigentes, por responsabilidade, principalmente os de trabalho, e aproveitar esses profissionais, que são quase 7 mil, no atendimento de saúde. Com isso, faremos uma auditoria (no Iges) para revisar os contratos e reorganizar a execução. Há, ainda, o fundo de saúde nacional, que é sempre mal executado aqui no DF.

Se temos saúde perto das casas, a tendência é que as pessoas fiquem menos doentes e precisem menos dos hospitais. Temos, também, uma meta de curto prazo: zerar as filas de cirurgias e exames. Vamos fazer convênios com a iniciativa privada e corujões (atendimentos noturnos), pagando horas extras para os servidores.

E em relação ao transporte público?

O que propomos é uma revolução, o que, de maneira bem prática, significa mudar o modelo de gestão. Agora, com o vencimento dos contratos, vamos fazer novas licitações, contratando por quilômetro rodado. A grande questão dos transportes no DF diz respeito ao que é pago pelo passageiro, que é um valor muito alto. Temos condições de baratear, mudando a forma como essa tarifa é paga. Vamos instituir o Bilhete Ir e Vir, em que o usuário vai pagar, por uma semana ou um mês, um valor menor do que duas passagens diárias, e poder usar o sistema ilimitadamente, não só no horário de trabalho e inclusive aos fins de semana. Com isso, tende-se a criar atratividade, aumentar a arrecadação e fazer investimentos.

Alguns candidatos têm falado de expandir o metrô para aumentar a mobilidade. Quais são as suas propostas? Pergunto isso porque vemos a atual gestão, claramente, ampliar o fluxo de carros nas ruas, com construção de túneis e viadutos.

Isso é aumentar a malha rodoviária, não é mobilidade. Os ônibus continuam lotados e são poucos veículos. Ibaneis ampliou as rodovias, e isso não significa mais qualidade — e a população sabe disso. O modelo mais barato possível, hoje, é o veículo leve sobre trilhos (VLT): 1km de metrô custa 5km de VLT. É possível (implementar) na Asa Norte, Samambaia e Ceilândia, dentro das principais vias, integrando com os ônibus e o metrô. Vamos ampliar o metrô para os locais já previstos, mas é mais viável ter VLT na Asa Norte do que metrô. Dizer que vai implantar metrô na Asa Norte em quatro anos, como Ibaneis tem falado, é mentira.

Vamos, ainda, estabelecer o fundo distrital de mobilidade, que vai permitir repassar fundos federais diretamente para a mobilidade, assim como é feito com saúde, educação e segurança. Vamos captar investimentos internacionais para expandir o sistema.

Para geração de emprego e renda, o que propõe?

São duas questões emergenciais: assistência e política econômica. Hoje, a assistência tem pequenos programas, porque a política foi fatiada por Ibaneis. E o resultado são as filas nos Cras (Centro de Referência da Assistência Social), porque as pessoas precisam ir de seis em seis meses. Vamos unificar esses programas por meio da Renda Cidadã. Hoje, esses programas pagam pouco e não atingem a maior parte da população. Vão ser R$ 600 para quem está no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais). Quem recebe o Auxílio Brasil (benefício federal) vai receber o complemento da Renda Cidadã, totalizando R$ 1,2 mil. Vamos injetar dinheiro na economia e começar um ciclo promovido pelos micro e pequenos empresários, oferecendo microcrédito, especialmente para as mulheres empreendedoras, desburocratização, com governo digital, e enxugamento das normas e regras.

O que pensa a respeito da militarização das escolas?

Vamos substituir esse modelo pela educação integral, que não significa passar mais tempo em sala de aula. No contraturno, os alunos vão ter atividades de ciência, artes, tecnologia e esportes, usando projetos e orçamento de outras secretarias. É importante que a polícia participe da política escolar, mas por meio do Batalhão Escolar. O policial não passou no concurso para ver se os alunos estão com cabelo cortado ou em filas.

Um dos motes de sua campanha é "Lula lá e Leandro cá". Lula ainda não teve presença forte no DF, com apoio presencial. Não falta mais apoio dele aqui? Vocês ainda contam com a vinda dele?

Tenho conversado com a campanha nacional e estive com ele em outras ocasiões. Sabemos que ele tem muita preocupação com o DF, mas a campanha nacional tem buscado focalizar (nos lugares) onde há rejeição e pode haver conquista de votos. Temos trabalhado para que Lula tenha muitos votos aqui, porque possuímos o mesmo projeto. Nossa aliança é um pacto contra a fome e as desigualdades, e estamos bem alinhados. Lula tem nos apoiado, temos mostrado (a figura dele) nos programas de tevê. Compreendemos as estratégias (que precisam ser usadas).

Como você enxerga a discussão sobre o "voto útil"?

Esta não é uma eleição comum, como as outras. É uma eleição polarizada não entre direita e esquerda, mas entre civilização, defesa da Constituição e democracia, que é o lado de Lula; e Bolsonaro, que representa barbárie, morte e destruição. Bolsonaro não tem condição de ser síndico de um prédio, que dirá presidente da República. Ibaneis representa o bolsonarismo e o atraso, nós representamos o progresso e o desenvolvimento humano.

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