Levantamento realizado pelo Correio aponta que entre 2013 e 2020, Marcelo de Medeiro Gomes, principal suspeito de ataque cibernético que apagou cerca de 400 mil arquivos do Zoológico, respondeu a pelo menos cinco processos no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Atualmente, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC) investiga o ataque hacker realizado pelo suspeito.
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Antes do caso vir à tona, contudo, funcionárias do zoológico se reuniram para denunciar o ex-chefe de TI do Zoológico por assédio. A ocorrência está registrada na Delegacia de Atendimento à Mulher I (Deam).
Em um julgamento em tramitação na Justiça, Marcelo responde por dano material e moral e integração em grupo que aplicava golpes de estelionato. De acordo com os documentos, os investigados tinham um falso escritório de contabilidade e Marcelo era o principal operador de falsas contratações de empresas.
“Nos humilhava”
Durante o trabalho no Zoológico, Marcelo era terceirizado e, apesar do pedido de demissão da empresa, a direção do zoológico manteve o funcionário. O relato é de testemunhas ouvidas pela reportagem. Uma das denunciantes, que trabalhou com Marcelo por cerca de sete meses, detalha que o homem foi responsável por orquestrar a demissão de um grupo que realizou um abaixo-assinado contra o comportamento de Marcelo, na época chefe de TI.
“Aos poucos fui percebendo que ele era manipulador, ele tinha grupos no WhatsApp, que falava mal dos funcionários, jogava um contra o outro. Falava da presidente do Zoológico, dos bilheteiros, vigiava a gente. Ele instalou diversas câmeras de segurança, que era dele próprio, na bilheteria e na entrada do Zoo”, conta a antiga funcionária, que pediu para não ser identificada. Veja prints do grupo:
Segundo a mulher, quem se colocava contra Marcelo sofria punições. “Uma colega teve falta de R$ 400 em três dias na bilhetagem. E ela era uma pessoa que nunca tinha errado. Pediu para ter acesso às gravações, mas ele nunca permitiu. Ele falava mal, perseguia a gente, era o único que tinha acesso ao sistema, as senhas. Ele apagava as denúncias feitas na ouvidoria contra ele ou pessoas que apoiava e colocava outras contra os funcionários que não gostava. Porque tinha acesso a tudo. Ele nos humilhava e nos aterrorizava”, afirma.
Procurada pela reportagem, a assessoria jurídica de Marcelo emitiu nota informando que os fatos serão "esclarecidos em tempo oportuno". Segundo a defesa, o cliente "ocupava cargo sensível na empresa, visto que era responsável por reportar toda e qualquer conduta inadequada do direito do trabalho e regimento interno da empresa".
Sobre a instalação de câmeras, a defesa disse que foi uma iniciativa do Jardim Zoológico e que os equipamentos estavam em local perceptível, conhecido pelos funcionários. "Ocorre que tais denúncias geravam desconfortos nos relacionamentos interpessoais, assim, dentre as inúmeras condutas inadequadas reportadas pelo acusado, algumas geraram demissões".
A nota alega que as "supostas vítimas" estão difamando Marcelo fazendo "alegações inverídicas sobre sua vida pessoal". Por fim, a defesa conclui que o acusado apresentará provas e se manifestará na Justiça.
Sobre as investigações, a Fundação Jardim Zoológico de Brasília informou, em nota, que “acompanha e colabora com a Operação Animals, deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), e aguarda a conclusão da investigação”.