O 7 de Setembro terá um significado diferente para os moradores de Planaltina, cidade mais velha do Distrito Federal, com 163 anos. Enquanto o Brasil comemora os 200 anos de independência de Portugal, a população da cidade celebra o centenário da Pedra Fundamental de Brasília, que caracteriza o ponto central do Brasil, entre os paralelos 15 e 20 graus, a 1.033 metros de altitude em relação ao nível do mar. Para marcar presença em uma data tão cheia de significados, os alunos da Escola Classe Pedra Fundamental participaram de um concurso para escolher a melhor carta, desenho e cordel sobre o monumento. Todos os trabalhos do colégio ficarão armazenados em uma cápsula do tempo, para ser aberta daqui a 100 anos.
Antes de enterrar o objeto, o alunos vão procurar a cápsula que foi colocada em 7 de setembro de 1922. Naquela data, às 12h, o então presidente da República do Brasil, Epitácio Pessoa, autorizou o assentamento da pedra fundamental da futura capital do país e ali foram enterrados documentos sobre a fundação de Brasília e de Planaltina, que agora serão desvendados por esta geração de brasileirinhos ávidos por conhecer, escrever e participar da história.
Estudante do 4º ano, Enzo Lima Ribeiro, tem 9 anos e usou as habilidades para escrever o cordel "Nossa Pedra no Futuro". Ao microfone ele recitou para os colegas e professores "Daqui a cem anos quero um país melhor/ Um Brasil com mais educação/Um país da igualdade, onde a fome não tem vez/Que a nossa cultura chegue a toda população". Enzo conheceu a literatura de cordel em janeiro deste ano, ao ouvir o Cordel do Fogo Encantado, de um grupo musical de Arcoverde (PE), que faz espetáculos com ritmos afro-indígenas da região.
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O incentivo à escrita não para por aí. Os professores da escola decidiram realizar um concurso que contasse a história do monumento, com pedidos de melhores condições de vida daqui a 100 anos. "Espero) que as escolas sejam globalizadas, onde todas as crianças tenham as mesmas oportunidades", diz um trecho da carta de Geovana Caroline Vasconcelos Pereira, 13, aluna do 5º ano do ensino fundamental. "A nossa escola é rural, diferente de outras que têm computador", acrescenta.
Na última sexta-feira, sentada no chão do pátio da escola, ao lado dos colegas, Geovana chorou ao ser anunciada pela diretora do colégio como a vencedora do concurso. Na carta, a estudante também pede que, quando for lida, um parque ecológico tenha sido feito para melhorar a preservação do meio ambiente e a valorização da região.
Diretora da escola, Lucelena Rosa Silva disse que amanhã os alunos também vão plantar oito mudas de ipês de todas as cores em forma de passarela no caminho até a Pedra Fundamental. Para a educadora, a intenção é passar a representatividade da região para os estudantes. "A gente explica para eles a importância da pedra fundamental vinda da então a capital Rio de Janeiro, com a missão Cruls, para demarcar onde seria o centro do Brasil", destaca.
Os trabalhos escolares foram produzidos de acordo com a faixa etária dos alunos. Os mais velhos, do 4º e 5º anos, fizeram a carta, enquanto as crianças do 1º ao 3º ano desenharam a história do monumento no papel. É o caso da pequena Anne Emanuely Fernandes Ramos, de seis anos. Aluna do 1º ano ela fez uma arte colorida do monumento, rodeada por pessoas, nuvens, pássaros, arborização e um sol grande no centro. "Quis colocar as borboletas, com crianças brincando", comenta.
A diretora se disse emocionada com o nível de maturidade dos alunos ao retratar a complexidade da história da Pedra Fundamental. Segundo ela, os alunos escreveram temas como igualdade na educação, crianças sem fome, vacinas disponíveis para todas as doenças e um país sem violência. "No nível deles, escreveram de um jeito que chorei lendo as redações. Então, a gente mostra que pertencemos aqui, com crianças inteligentes", destaca Lucelena.
Historiador de Planaltina e um dos organizadores do projeto, Robson Eleutério destacou a participação dos estudantes, o que é um diferencial em relação à primeira vez que a cápsula foi enterrada, quando apenas autoridades estavam presentes. "Quando pensamos nesse grupo de estudantes, foi justamente com essa intenção de despertar uma consciência ambiental e incentivá-los a valorizar o patrimônio e conhecer a nossa história, porque valorizam a nossa identidade e passam a gostar mais da região", opina.
Robson informa que a cápsula vai conter informações sobre a fauna e flora da capital federal, um documento do Ecomuseu Pedra Fundamental e da Universidade de Brasília (UnB) sobre o território e monumento da área. Todo esse material vai ser constado em uma ata durante a cerimônia, das 10h às 12h, com um passeio ciclístico e coreografia dos alunos do Centro Educacional Estella dos Cherubins Guimarães Trois, localizada no Setor Tradicional de Planaltina, com papéis que formam a frase "100 anos".
Centenário da Pedra Fundamental
Data: quarta-feira (7/9), a partir das 5h30, no Morro do Centenário, a 10km de Planaltina.
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