Entrevista

Correio Braziliense
postado em 28/09/2022 06:00

Daniela Salomão, diretora da Central de Transplantes da SES-DF

Qual o procedimento para ser doador de órgão?
O que é definido, hoje, na legislação é que a família deve autorizar a doação de órgão após o falecimento do paciente. Essa norma é geral e não pode ser alterada por nenhum estado. Por um período, era possível que o paciente deixasse documentos assinados, se declarando doador, mas isso não tem mais validade legal.

Como é o processo de habilitação de um paciente que precisa receber uma doação?
O paciente passa primeiro por uma avaliação de uma equipe de transplante, que vai confirmar se ele precisa ser submetido ao procedimento. Se for o caso, ele é inserido em um sistema de gerenciamento, disponibilizado pelo Ministério da Saúde e usado em todo o país.

Qual o papel desse sistema?
O sistema vai correlacionar as informações do doador e do paciente que precisa do transplante. Isso é feito com base em regras técnicas definidas em portaria. Pode acontecer, por exemplo, de um paciente estar em estado mais grave que outro para receber a doação. Outros detalhes já definidos pelo sistema são o tamanho do doador, por exemplo. Um fígado grande não pode ser colocado em um paciente pequeno, da mesma forma que um paciente grande não pode receber um fígado pequeno, por exemplo, porque vai gerar incompatibilidade.

O que é levado em conta, então, para definir qual paciente vai receber a doação?
Os critérios variam de acordo com o órgão que a pessoa precisa receber. A maioria estabelece tipagem sanguínea, depois entram critérios de gravidade, de tamanho, peso e altura. Já no transplante renal, temos também a compatibilidade genética, que é fundamental para o sucesso da cirurgia.
Esse processo vai gerar um sistema de pontos, e de acordo com a pontuação, a pessoa vai receber o órgão.

Há algum órgão mais demandando nas filas de espera?
A fila varia de acordo com os anos. Temos uma fila maior para transplante de córnea e rim, porque várias doenças afetam esses órgãos de forma mais impactante. Por exemplo, a hipertensão e a diabetes aumentam os problemas de rim, que levam as pessoas a terem doenças que afetam o órgão. O rim hoje é um dos mais afetados por doenças crônicas, inclusive, por isso temos uma demanda considerável sobre ele.

Após o procedimento, quais cuidados tomar?
O pós-operatório do transplante é muito individualizado. Temos que levar em conta que cada paciente terá um motivo diferente para estar nessa lista. Por exemplo, se a pessoa tem pressão alta e o rim parou de funcionar porque não cuidou da pressão, mesmo após ela receber o transplante, a doença de hipertensão continua, e se não tratada adequadamente, ela vai perder o rim de novo. Ou seja, cuidar da doença que causou o problema é fundamental.

Quais os desafios de conscientizar a população sobre a importância de ser um doador?
Esse é um tema difícil de ser resolvido, é complexo e nem todos gostam de falar sobre o momento da própria morte. O que precisamos levar em conta é que a chance de entrarmos na fila de quem precisa de transplante é muito maior do que de um dia ser doador. Se a pessoa pensar por esse lado, se um dia ela estiver na lista, ela gostaria de receber a doação do órgão? Um paciente que está com uma doença terminal, que só precisa de um doador para voltar à vida normal. Isso é uma forma de avaliar a situação.

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