"Não haverá filas no meu governo." A promessa é de Paulo Octávio (PSD), candidato a governador do Distrito Federal. A crítica sutil à gestão de Ibaneis Rocha (MDB) na saúde e na assistência social foi feita nessa segunda-feira (26/9), em entrevista à jornalista Denise Rothenburg, durante o CB.Poder, programa feito em parceria entre Correio e TV Brasília. Paulo Octávio foi o terceiro participante na última rodada de sabatinas do Correio com os nomes que disputam o Palácio do Buriti. Na reta final da campanha, a cinco dias do primeiro turno, o candidato enalteceu a própria trajetória, que mescla conquistas no mundo empresarial e na vida política, e reforçou os laços com o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o ex-governador do DF Joaquim Roriz.
Paulo Octávio, que foi secretário de Desenvolvimento Econômico, deputado federal, senador e vice-governador, caracteriza a candidatura ao GDF como uma "missão", com o "compromisso de resgatar Brasília." Em segundo lugar nas intenções de voto, ele citou a possibilidade de ter o senador José Antonio Reguffe no quadro de secretários, em um eventual governo, e garantiu que estará no segundo turno das eleições, em 30 de outubro. Avesso à reeleição, acredita não ser possível concluir a expansão do metrô para a área norte do DF em quatro anos, mas deixará o projeto pronto, a ser implementado pelo governador que o suceder. "Quero ter um candidato para escolher que siga com meus projetos. Não precisa ser a mesma pessoa. A troca de governadores é importante e salutar, porque senão fica na mesmice."
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O ex-vice-governador destacou, ainda, que está "tranquilo" quanto ao parecer do Ministério Público Eleitoral (MPE) que pediu o indeferimento da candidatura ao Palácio do Buriti. O documento, que não tem caráter decisório, acatou recurso do governador Ibaneis contra a confirmação do Tribunal Regional Eleitoral do DF (TRE-DF) do nome de PO ao GDF. O argumento é o de que o candidato do Partido Social Democrático não teria cumprido os prazos de desincompatibilização da função de sócio-administrador das empresas que têm contratos em vigor com o atual governo em, pelo menos, seis secretarias. "Nosso adversário insiste em querer ganhar esta eleição no meio jurídico. Não vão conseguir me tirar (da corrida). Ninguém vai me impedir. Vamos para o segundo turno, em uma eleição correta, democrática e sem 'tapetão', como deve ser feita. Acredito muito na Justiça."
Como avalia o parecer que o coloca como inelegível por conta dos contratos com o GDF?
Com a maior tranquilidade do mundo. Isso é um assunto pacificado. Já ganhamos aqui no TRE-DF, mas nosso adversário insiste em querer ganhar esta eleição no meio jurídico.
Exato, foi um pedido da coligação do Ibaneis. Acha que ele quer te tirar da corrida para vencer no primeiro turno?
Seria muito fácil se conseguirem me tirar, mas não vão conseguir. Estamos tranquilos em relação a isso. Todos os contratos foram com cláusulas uniformes, não há nada excepcional, e todos foram feitos há muito tempo. O ponto (que tem sido questionado) é se eu deveria ter saído (da administração das empresas) seis meses antes (do registro da candidatura).
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Seus advogados não fizeram nenhum alerta quanto a isso?
Não houve essa preocupação, porque todos os contratos foram com cláusulas uniformes, em licitação pública e nenhum é excepcional. Além disso, há oito ou seis meses, confesso que não estava pensando em disputar eleições.
O senhor pensava em ser candidato ao Senado, certo?
Sim. Recebi também convites para ser vice e de outros partidos para integrar coligações. Mas entendi que o momento é de ser candidato ao GDF. É uma missão, para resgatar Brasília, é um compromisso muito sério. Ninguém vai me impedir. Vamos para o segundo turno, com eleição correta, democrática, sem "tapetão", como deve ser feita. Acredito muito na Justiça. Minha intenção sempre foi fazer o bem, nunca atrapalhei a vida de ninguém, procuro não ter inimigos e ser uma pessoa coerente e temente a Deus.
O senhor é um empresário de sucesso. Por que quer ser governador do DF?
Por amor a esta cidade. Lá atrás, lutamos pela emancipação política de Brasília. Não tínhamos eleição, era um prefeito escolhido pelo presidente. Em 1990 (primeiro pleito do DF), resolvi entrar na política e queria ser candidato ao governo. Naquele momento, pela composição política, o candidato foi Roriz, minha sogra Márcia (Kubitschek, filha de JK) foi vice e fui aliado deles (acabou se elegendo deputado federal). Em 1998, voltei a ser deputado federal. Em 2002, pensei, novamente, em ser candidato ao GDF, mas fiz uma dobradinha com Roriz e fui (candidato a) senador. Com o (José Roberto) Arruda, fui vice (em 2006). Agora, comecei a ver as questões de Brasília, há muitas filas, muita gente desempregada, pessoas passando fome e invasão para todo lado. Não posso faltar com o compromisso. Criei mais de 100 empresas aqui, todas funcionam muito bem, e meus quatro filhos estão criados — o André, o mais novo, inclusive é candidato a deputado federal. É importante ter um Kubitschek na política. Vou ao grande desafio da minha vida. Não estou (na disputa eleitoral) por honra, vaidade ou poder. Estou nessa campanha pela vontade de fazer e realizar, apenas. Tenho apresentado uma alternativa à cidade, de um governo mais humano. Brasília precisa de uma gestão firme. Em quatro anos, vou fazer uma gestão diferenciada, pró-ativa. Segui o exemplo de JK e estabeleci um plano com 55 metas.
Uma delas é criar 100 mil empregos. Como fazer isso em um período tão curto?
Aproximadamente 10 mil serão no governo do DF, nas necessidades que temos, por exemplo, na saúde — que está sucateada — e na segurança, onde precisamos de policiais. Os outros 90 mil vão ser na iniciativa privada. Já fiz essa experiência, quando fui secretário de Desenvolvimento Econômico (entre 2007 e 2010, acumulado com o cargo de vice-governador), conclamei todos os empresários e o DF gerava mais de mil empregos (por ano). A sociedade civil organizada precisa entender que não é só o governo que resolve a situação. A sociedade precisa participar, com sinergia maior entre entidades, governo e empresas.
Seria, então, uma parceria com o empresariado local para o desenvolvimento de projetos?
Sim, Brasília precisa disso, de parceria com todas as entidades. São mais de 100 faculdades aqui, que precisam interagir mais, formar mais gente. Ter escolas profissionalizantes, usar esse espaço das faculdades para preparar as pessoas. Quanto mais gente qualificarmos, em mais atividades, criamos mais empregos. Grande parte dos desempregados são mulheres. Elas têm mais dificuldades do que os homens. O quadro é grave, isso sem contar a Região Metropolitana. O desafio é enorme, mas estou pronto. Temos uma cidade com logística fantástica, estamos no centro da América Latina. Preciso chamar os negócios para cá, temos escoamento e 150 embaixadas, então esse potencial tem de ser explorado. Precisamos criar empregos nas cidades, as pessoas passam duas horas nos ônibus lotados, em pé, sem nenhum conforto, sem wi-fi nem ar condicionado, para vir trabalhar aqui no Plano Piloto. É perda de tempo.
Como melhorar a gestão da saúde no DF, que, até agora, nenhum governador acertou?
Estava até conversando com o Reguffe. Tenho estudado muito isso, porque é a grande questão da sociedade. As pessoas vão às unidades básicas e não são atendidas, faltam médicos e aí acabam sendo encaminhadas aos hospitais, que estão lotados. As pessoas ficam em filas nos postos e nos hospitais, mas acabam não sendo atendidas, porque falta gestão. A troca de secretários é muito ruim. Precisamos de secretários que assumam no primeiro dia e vão até o fim, com uma gestão firme. Minha ideia são as policlínicas, com atendimentos específicos, para evitar a ida aos hospitais. E existem recursos para isso, nosso orçamento é muito bom e temos mais médicos que as outras unidades federativas. Venho falando de mutirão de cirurgias há meses e o atual governador publicou, na semana passada, um edital para isso. Puxa, teve tanto tempo para fazer. Eu tenho um projeto pronto, para o primeiro dia de governo. Há ociosidade nos hospitais particulares e públicos, basta pagar hora extra e pronto, vamos zerar (as filas). Não dá mais para fazer com que as pessoas tenham o constrangimento de estar em filas, em pleno momento de avanço tecnológico no mundo todo. É a cidade das filas e Brasília não foi construída para isso. Não haverá filas no meu governo.
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E o Reguffe aceitou?
Confesso que ele balançou. Conversamos longamente. Vamos precisar de pessoas comprometidas com a cidade, independentemente de partidos.
Outro gargalo é a construção do metrô na parte norte. O senhor pretende fazer isso?
Tenho projeto para um VLT (veículo leve sobre trilhos) saindo do Recanto das Emas, atravessando o Riacho Fundo, passando por Taguatinga e chegando em Ceilândia, em que as pessoas poderiam pegar o metrô no meio do caminho. Quero aumentar o metrô até a expansão de Samambaia e abraçar Ceilândia com metrô. Quanto à Asa Norte, temos de fazer o projeto, não acredito que em quatro anos vamos conseguimos fazer (o metrô), mas vamos, pelo menos, deixar o projeto pronto e conseguir financiamentos.
O senhor diz que é contra a reeleição. Como, então, ter propostas com projetos prontos, mas sem implementação, como a expansão do metrô? Não é uma contradição?
Sou contra a reeleição. Todas as forças da cidade, agora, estão contra mim, porque ele (atual governador) tem a máquina (estatal) e é difícil. Entendo que isso não é bom. Quero escolher (um sucessor) e ter um candidato que siga com meus projetos.
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Cenário
A mais recente pesquisa Correio/Opinião, divulgada ontem, apontou para a possibilidade de a decisão sobre o próximo ocupante do Palácio do Buriti ser tomada em segundo turno. Ibaneis tem 41,2%, contra 13,2% de PO. Leandro Grass (PV) e Leila do Vôlei (PDT) apareceram, cada, com 10,1%. O senador Izalci Lucas (PSDB) acumulou 3,8%. Na pesquisa anterior, de 5 de setembro, Ibaneis tinha 42,8%; PO, 10,7%; Grass, 5,5%; Leila, 10,9%; e Izalci, 4,7%. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais para mais ou para menos, com confiança de 95%. Registro no TSE: DF-09779/2022.