Caso Lázaro: inquérito sobre PMs de Goiás que mataram o maníaco entra na mira do MP

Ministério Público de Goiás alega que o pedido de arquivamento do inquérito militar feito pela Corregedoria da PMGO é improcedente, porque, em seu entendimento, trata-se de crime doloso. Os promotores vão analisar o caso e avaliar se irão oferecer ou não denúncia contra os militares

Pablo Giovanni*
postado em 24/09/2022 01:28 / atualizado em 24/09/2022 01:36
 (crédito: Divulgação/PCDF)
(crédito: Divulgação/PCDF)

O processo sobre cinco militares da Polícia Militar de Goiás (PMGO) que atuaram no confronto final contra o serial killer Lázaro Barbosa, em 28 de junho de 2021, entrou na mira do Ministério Público de Goiás (MPGO).

O inquérito policial militar chegou ao MPGO no início do mês, após ter sido instaurado, como procedimento de praxe, pela Corregedoria da PMGO), para averiguar os fatos e circunstâncias referentes à morte de Lázaro Barbosa. No parecer da corregedoria, os militares Edson Luis Souza Melo Rocha, Cleiton Pereira de Paula, Ronyeder Rogis Silva, Arivan Batista Arantes e Joubert Teodoro Alves agiram em legítima defesa. O órgão se manifestou favorável ao arquivamento do caso. Em entrevista ao Correio, o tenente-coronel Edson detalhou a caçada ao assassino, afirmando que mais de 60 tiros acertaram Lázaro na fuga.

No entanto, o MPGO considera que não se trata de crime militar, mas de crime doloso contra a vida. Por isso, no entendimento do MPGO, a corregedoria não tem poder para mandar arquivar o inquérito, mesmo que haja conclusões que inocentem os militares. Os promotores requereram o reconhecimento da incompetência da Justiça Militar para o julgamento do processo.

A juíza de direito Bianca Melo Cintra acolheu o pedido. O processo será encaminhado à Comarca de Águas Lindas de Goiás, do MPGO, que vai analisar o caso e avaliar se oferecerá denúncia ou não contra os militares. O Correio apurou que, internamente, alguns promotores encontraram provas para questionamentos quanto à conduta dos militares.

A reportagem procurou a PMGO e a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) para se manifestarem sobre o pedido do Ministério Público, mas não houve resposta.

Viúva e ex-esposa

Após a viúva e a ex-esposa de Lázaro Barbosa terem recusado o acordo com o MPGO, as ex-companheiras do assassino, de Ceilândia, foram acusadas por favorecimento pessoal. Em junho, o Tribunal de Justiça de Goiás aceitou a denúncia. Mesmo sendo rés, elas serão ouvidas apenas em setembro do ano que vem.

Ellen Vieira da Silva — viúva de Lázaro Barbosa — e Luana Cristina Evangelista Barreto — ex-esposa do criminoso —, segundo a Polícia Civil de Goiás (PCGO), ajudaram o serial killer a fugir. No dia em que morreu — após confronto com as polícias Civil e Militar de Goiás e do Distrito Federal — Lázaro estava na casa da ex-sogra Isabel Evangelista de Souza, também denunciada pelo MPGO.

Para não processar as três, o MPGO chegou a propor um acordo, por considerar que o crime era de menor potencial, mas elas acabaram recusando. À época, a reportagem do Correio apurou que o MPGO ofereceu a possibilidade delas prestarem serviços à comunidade pelo período de três meses, por oito horas semanais, além de pagarem multa de R$ 550. Caso viessem a aceitar a proposta, o processo seria extinto. Como não ocorreu, seguiu em curso. Elas deverão ser ouvidas pela Justiça em 5 de setembro de 2023.

O caso

A caçada a Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, apontado como responsável pelo assassinato de uma família em Ceilândia Norte, terminou em 28 de junho de 2021, após 20 dias de buscas. O criminoso morreu baleado durante um confronto com a polícia, em Águas Lindas (GO) — município a cerca de 50km de Brasília.

Lázaro era investigado em, ao menos, oito inquéritos envolvendo latrocínios — roubo seguido de morte — e homicídios. A megaoperação de busca começou em 9 de junho, quando a polícia começou a investigar um triplo homicídio no Incra 9. As vítimas eram o empresário Cláudio Vidal de Oliveira, 48, e os filhos, Gustavo Marques Vidal, 21, e Carlos Eduardo Marques Vidal, 15. Além dos assassinatos, havia a suspeita de que a mãe dos jovens, Cleonice Marques, 43, tivesse sido sequestrada.

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) chegou a divulgar a foto de Lázaro como principal acusado de cometer a barbárie. A descoberta ocorreu após a coleta e análise de impressões digitais encontradas no local da chacina. A apuração permitiu aos agentes acessar a ficha criminal do suspeito, o que revelou um longo histórico de participação em ações violentas.

Em 12 de junho, o corpo de Cleonice foi encontrado, de bruços, sem roupas, em um córrego no Sol Nascente, a cerca de 8km da chácara onde ela morava com a família. Em fuga, Lázaro começou a espalhar terror por regiões próximas.

O confronto mortal

Em 28 de junho de 2021, a busca parecia não ter fim. Foi quando a polícia recebeu uma informação que poderia levar ao desfecho da longa caçada. Na madrugada do mesmo dia, uma câmera de segurança de uma casa registrou Lázaro saindo da mata e caminhando em uma rua, em Águas Lindas.

Com a pista sobre onde o criminoso poderia estar, a equipe do tenente-coronel Edson Melo, responsável pelo último confronto com Lázaro Barbosa, se posicionou em um local estratégico, montando um ponto de emboscada para capturar o assassino. Quando uma aeronave da Polícia Militar iria abastecer, equipes conseguiram avistar o criminoso, que disparou uma arma e foi alvejado durante a troca de tiros. De acordo com o coronel, foram 125 disparos por parte da polícia e mais de 60 acertaram o fugitivo.

Lázaro chegou a ser encaminhado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. 

*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso

 

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